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Arte exposta na pele

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Certamente você conhece alguém que tem um desenho gravado na pele. Ou será que não é você que tem uma ‘tattoo’? Usadas para marcar um momento importante, fazer uma homenagem ou simplesmente para embelezar o corpo, as tatuagens acabaram caindo no gosto popular.

Se você tivesse uma tatuagem era comparado a um bandido e virava a ovelha negra da família – e do escritório. Mas o tempo passou, o mundo mudou e hoje a tatuagem não é mais exclusividade dos rebeldes e revoltados. Dessa forma, muitos criaram coragem e começaram a apostar nessa arte. Hoje é muito mais difícil encontrar uma pessoa que não tenha nenhum desenho no corpo.
O artista manauara, Jecimá de Souza, mais conhecido como Noronha, desenha desde pequeno mas na época, não enxergava a vida de tatuador como profissão. “Sempre gostei de desenhar, quando menor ajudava minha mãe com os enfeites da escola onde ela trabalhava. Então eu desenhava as coisas para ela e nem pensava em tornar aquilo minha profissão. Quando moleque eu queria mesmo era ser piloto de avião e hoje sou tatuador” brinca.

Noronha disse que só visualizou usar seu talento artístico como forma de ganha pão, aos 20 anos ao assistir o programa de tatuagem, ‘Miami Ink’. “Eu trabalhava na época no turno da madrugada, e já tava virando um ‘zumbi’ e me questionava até quando ia aguentar aquela situação. Foi quando ao assistir o programa, percebi que era exatamente aquilo que queria como profissão” diz.

Sem medo e totalmente decidido, Noronha pediu as contas do antigo trabalho e comprou seu kit de tatuador. O artista disse que no começo foi difícil e chegou até a desistir de tatuar. “Teve um tempo que pensei que tatuar não era pra mim, mas minha madrinha me chamou para passar um tempo com ela no Rio de Janeiro e isso acabou mudando minhas perspectivas novamente” ressalta.

O tatuador conta que o tempo em outra cidade foi de grande valia. “A acessibilidade que eu tive, ao morar no Rio de Janeiro, de internet, cursos e tudo mais só me ajudaram a crescer como profissional. Lá eu pude criar bagagem! E posteriormente, ir morar na Noruega e Portugal, só me fizeram engrandecer ainda mais” conta. Noronha ressaltou que estudar e se aperfeiçoar sempre foi rotina dele como profissional.

Ele se consagrou na arte de ultrarrealismo, técnica usada por quem desenha rostos parecidos com a realidade. Essa técnica é preciso alinhar profundidade, cor e sombreamento para ter um desenho ultrarrealista e são poucos os tatuadores que alcançam esse resultado. “São 5 anos reproduzindo tattos em preto, cinza e branco” relata Noronha. “Acredito que independente do trabalho, a tatuagem é muito ‘ctrl C’ e ‘ctrl V’, a pessoa tem que ser bom na arte da reprodução” comenta.

Sonho de vida

Para o artista, Max Bonari, ser tatuador era um sonho desde criança. “Eu sempre quis ser tatuador, só não sabia que era possível. Dizia isso desde os 9 anos de idade” revelou. Ele conta que largou tudo, a faculdade de Publicidade, deixou a casa da mãe, tudo em busca do sonho de ser tatuador.

Bonari conta que essa é uma área que assim como o mercado de estética vem crescendo. “Hoje o fato das celebridades se tatuarem contribui para a desmistificação dessa arte. Por ter artistas tatuados o preconceito em relação à arte e a profissão vem diminuindo bastante, realmente o cenária está bem positivo” diz o tatuador.

Bonari é sócio do estúdio Tiwa Tattoo, junto com outro profissional resolveram montar o espaço que atua em Manaus há dois anos. Ele é mestre na arte da geometria, pontilhismo, new school, realismo e realismo colorido. “Gosto de seguir a linha do desenho em preto, mas acabo misturando as técnicas, dependo do trabalho” informa Max.

Ele conta que sempre busca conversar com o cliente antes de realizar o procedimento. “Essa troca de ideia com o cliente é importante para que eu entenda e verifique o que ele deseja. Entender e visualizar se aquele desenho está dentro dos padrões estéticos, para que não fique feio ou ele venha a se arrepender depois” conta.

Bonari enfatiza que é chamado de chato as vezes, mas diz que é necessário dizer não. “Se eu percebo que a tatto que o cliente quer, não vai ficar legal da forma como ele deseja, eu aviso e mostro a melhor maneira de reproduzir tal desenho. Se mesmo assim ele insiste em fazer do jeito que ele quer, sem ouvir minhas orientações, eu opto por não fazer. Eu tenho visão técnica e consigo enxergar além do simples desenho que está na mente do cliente” revela.

Especialização

Para ser um bom tatuador é necessário investir arduamente nos conhecimentos específicos, de forma a realizar o trabalho com excelência e ser um profissional diferenciado em um mercado tão concorrido. As formas de especialização são várias, como cursos onlines e presenciais, workshops e palestras. Adquirir e aprimorar suas técnicas artísticas, vão gerar benefícios ao tatuador.

Max Bonari frisa que tatuar é sim uma arte e que como qualquer outra profissão é preciso especialização. “Fiz diversos cursos aqui no brasil e fora também. Passei 4 meses na Estônia, aprendendo com um mestre em pontilhismo. Entrei em contato com ele pelas redes sociais, disse que era fã do trabalho dele e que tinha vontade de aprender mais sobre a técnica. Ele me convidou para passar um tempo no estúdio dele, e acabei passando 4 meses lá” revelou o tatuador.

O artista comenta que há 9 anos é tatuador. “Já rodei o brasil levando a minha arte. Minas Gerais, Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e aqui em Manaus. Em São Paulo fiquei um ano, fiz cursos rodei alguns estúdios, participei de feiras, enfim me especializei ao máximo” revela Bonari.
Max também tatuou na Bélgica em 2014, Inglaterra, Alemanha, Holanda e Estônia. “Tatuar é uma arte que tem como base o desenho e a pintura. Só que os nossos instrumentos são a máquina, agulhas, toalhas de papel, tinta e luvas de látex. Envolve mais delicadeza e responsabilidade. Pois não pode ter erro” diz ele.

Noronha diz que gosta de estudar sozinho, ele chegou a morar na Noruega e em Portugal, mas sempre se atualizando. “Atuo há 8 anos na área, 2 desses anos investi na minha especialização. Eu gosto de estudar só, pois acredito que sozinho consigo evoluir melhor. Mas sempre olho vídeos, cursos e tendências na internet. Participo de Workshops e tudo que venha a contribuir” revela.

Noronha ressaltou a importância de focar naquilo que você é bom. “Se você é bom em desenhos coloridos, foque nisso. Se especialize, busque novos métodos e se torne o melhor em coloridos” disse o artista que completou, “Não é ser chato por não querer fazer uma arte diferente daquela que você é especialista, é apenas zelar pela qualidade do seu trabalho e ter respeito com o seu cliente” finalizou.

Visão de mercado

Noronha revelou que em breve vai estar em novo espaço. Em sociedade com o amigo e também cliente, Daniel Cavalcante, vão inaugurar o Singular Tattoo Coffee Shop. A proposta do espaço é poder juntar café, estúdio de tatuagem e galeria de arte num mesmo espaço.

Daniel revela que essa é uma ideia que vem sendo construída em conjunto há 3 anos. “Em uma viagem à São Paulo, que fiz com minha esposa, conhecemos um espaço de 3 andares que contemplava cafeteria, restaurante e estúdio de tatuagem. Gostei da ideia e como Manaus é carente de espaços diferenciados, conversei com o Noronha e decidimos botar a frente a ideia da Singular” comentou ele.

Criatividade, café e arte na mão, é o que vai contemplar o local. “Além do estúdio e do café teremos uma galeria, onde artistas locais poderão expor seus trabalhos. Iremos ajudar os artistas da região e ao mesmo tempo, aproximar a população manauara a esse setor artístico” ressalta Daniel.

Noronha completou dizendo que será um espaço diferenciado para a pessoa relaxar bebendo um café ou fazendo uma tatuagem. “É uma forma de mudar a percepção das pessoas ao pensar em estúdio de tatuagem. Na Singular o cliente poderá ir acompanhado da família e enquanto ele se rabisca, sua família vai beber um café, relaxar, escutar uma música e contemplar a arte de outra pessoa que estará exposta” revela o tatuador.

Dica da Especialista

A Dermatologista e titular da sociedade brasileira de dermatologia, e titular da sociedade brasileira de cirurgia dermatológica a laser, Adriana Mariano revela algumas dicas importantes sobre o querer fazer uma tatuagem.

1 – Cuidado ao selecionar um estúdio, verifique se o ambiente recebe fiscalização da área da saúde.
2 – O tatuador escolhido é de confiança? Verifique se o profissional possui materiais de boa qualidade, se ele usa produtos descartáveis e se tem um histórico sem grandes problemas.

3 – Tatuagem é um procedimento que envolve sangue, são micro perfurações na pele em que são depositadas pequenas quantidade de tintas, é um procedimento que tem ruptura da barreira da pele e isso pode acarretar em vários riscos.

4 – Esteja certo do que vai fazer. Procure fazer testes antes de se aventurar em fazer alguma tatuagem.
Adriana alerta aos cuidados em relação ao procedimento. “Tem que hidratar bem a pele para que não desbote com tanta facilidade e evitar exposição ao sol” recomenda. A doutora lembra que doenças podem surgir após a realização da tatuagem “Doenças como as microbacteriosas, tuberculose cutânea, alergia ao pigmento, infecção, herpes, queloides e outras doenças mais graves. É importante pensar bem, para não ter danos futuros” ressalta a especialista.

Ela alerta ainda ao processo de remoção. “É um procedimento doloroso, dizem que dói mais tirar do que fazer, e alguns pigmentos são até mais difíceis de ser removido, como o vermelho. Não se tem a garantira de remoção completa, pode ficar algumas marcas brancas e sombreadas na pele. É difícil tirar tudo!” diz Adriana.

A dermatologista conclui que são no mínimo 8 sessões com intervalo de 2 meses, ou seja, mais de 1 ano para tirar uma tatuagem por completo da pele. Por isso ela ressalta que se deve escolher bem o que vai fazer para evitar os arrependimentos.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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