Encontrar uma solução para a questão da Previdência Social é um desafio tão grande quanto reduzir os impactos do aquecimento global sobre a Terra. E não quero parecer exagerado com essa afirmação. Na verdade, se trata apenas de um alerta para que no futuro os aposentados não sofram com restrições que possam ter impacto destrutivo em suas vidas. Meses atrás, fez-se muito alarde com a criação de um Fórum Nacional para se discutir os rumos da Previdência Social, embora até agora não tenhamos nenhuma proposta concreta para a ampliação do debate junto à sociedade civil.
Não podemos esquecer que o Brasil está discutindo propostas que serão aplicadas nas próximas décadas e atingirão a maior parte da população. Até agora, a polêmica toda gira em torno do aumento do tempo de contribuição, da redução da idade mínima para deixar o mercado e de um novo cálculo para o índice de reajuste das aposentadorias.
Se nada for feito para mudar o quadro atual, o colapso no sistema de previdência social será inevitável. Nem os cálculos mais otimistas dessa equação conseguem fugir do óbvio. Ou se faz algo com urgência ou será impossível pagar os benefícios de todos os cidadãos em um futuro próximo. Inclusive, porque a expectativa de vida será cada vez maior.
Para se ter uma idéia, em 2050 o Brasil deverá ter uma população de idosos com mais de 80 anos acima dos 14 milhões de pessoas, quase sete vezes mais do que hoje.
Alguns dados indicam que hoje somente 5,4% de nossa população têm mais de 65 anos. Em quarenta anos, essa faixa deve representar 19,2%, ou seja, uma em cada cinco pessoas. Esse problema é universal. Na Europa, a situação deve ser ainda pior. Em meados do século, o continente vai abrigar dois trabalhadores da ativa para cada aposentado, contra a proporção de 4 para 1 dos dias atuais.
O impacto dessa mudança não vai se restringir somente ao sistema de previdência pública ou privada. Essa transformação também vai influenciar, e muito, os gastos com a área de saúde e, principalmente, promover alterações importantes no mercado de trabalho. Porque vai faltar mão-de-obra em alguns locais. Haja robô para dar conta de todas essas tarefas e dinheiro em caixa para cobrir os gastos com as aposentadorias.
O alerta não serve como justificativa para que os entes públicos promovam cortes nos benefícios. Pelo contrário. Um estudo publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostrou que a população urbana de idosos em países da América Latina depende demais dessas contribuições sociais.
No Brasil, a taxa de pobreza entre os idosos subiria dos atuais 3,7% para quase 48% se houvesse a suspensão dos benefícios, com conseqüências danosas ao restante da população das cidades.
Mais do que nunca, a sociedade precisa mergulhar fundo nessa discussão. O recado é mais do que válido para aqueles que serão atingidos pelas mudanças na Previdência Social nas próximas décadas.
Não deixe para pensar no assunto somente quando estiver perto de deixar o mercado de trabalho. O conhecimento em torno do tema pode ajudá-lo a conduzir sua velhice de maneira mais tranqüila. Depois, será tarde para reclamar e, o pior não vai haver mais voltar para se reparar a situação.
Milton Dallari é engenheiro e presidente da Associação dos Aposentados da Fundação Cesp.E mail: