Em entrevista à Globonews, o ministro Luiz Roberto Barroso dizia que as instituições republicanas estariam funcionando normalmente quando observamos os fatos (e não a retórica política).
Nesse ar de consenso sobre a normalidade institucional do que chamamos de Sexta República, talvez nós devamos nos debruçar um pouco sobre o normal. Pensar o óbvio pode ser importante para nós, como bem disse o ministro Gilmar Mendes, não "normalizarmos o absurdo".
Em meados de 2015, quando as manifestações de verde e amarelo tomaram corpo, parecia haver uma crença, no mínimo interessante, sobre a narrativa que circulava no sentido de serem tais atos "contrários à corrupção". Não obstante, pessoas pediam intervenção militar, hostilizavam e agrediam aqueles que pensavam diferente, gritavam ódio e discriminação. Naquele momento, as instituições funcionavam normalmente.
Depois, em 2016, presenciamos uma série de decisões judiciais, ao final chanceladas pelo STF, barrando a posse de um potencial ministro da Casa Civil. Justificativas retóricas ou moralistas podem e foram levantadas. Nesse contexto, um juiz divulgou conversas sigilosas entre a autoridade máxima da República e esse ex-quase-ministro, fato que configura crime, segundo a lei de interceptação telefônica. Também naquele momento, as instituições funcionavam normalmente.
Após o impedimento de uma presidente, o ex-vice-presidente entendeu por bem nomear uma deputada para chefiar um ministério que não mais existe. Como ela tinha pendências trabalhistas, novamente o Poder Judiciário inviabilizou sua posse. Aqui, igualmente, as instituições estavam funcionando normalmente.
Operando mais um salto cronológico é interessante recordar uma série de decisões judiciais, no período eleitoral de 2018, determinando a invasão de universidade para a retirada de materiais políticos ou interdições de eventos, tudo de iniciativa estudantil. Pessoas foram ameaçadas de prisão e as instituições, como sempre, funcionando normalmente.
Chegando aos dias de hoje, há atos antidemocráticos, juízes impedindo nomeações, ex-juiz e ex-ministro, agora, vazando conversas, reclamando de intimidações sofridas.
E as instituições… funcionando normalmente.
Fonte: Redação