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Ano de 2021 foi marcado pela escalada nos juros bancários

Os juros bancários encerraram o ano com nova aceleração, impulsionados pelos reajustes mais fortes na Selic e pelas incertezas gerais na economia. O aumento detectado entre novembro e dezembro foi o 13º consecutivo, e se deu em todas as modalidades de crédito. Assim com nos últimos meses, a alta foi puxada pelas pessoas jurídicas, especialmente no capital de giro. A maior elevação para as pessoas físicas voltou a se dar no financiamento para compra de veículos. É o que aponta a mais recente pesquisa da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). 

De acordo com a Anefac, o acréscimo no custo de dinheiro para as pessoas físicas foi de 1,27% (+ 0,08 ponto percentual) – mais forte do que o apresentado no levantamento anterior (+0,96% ou 0,06 p.p.). A taxa foi reposicionada de 6,31% mensais para 6,39%– o patamar mais elevado desde dezembro de 2019.  Os juros anuais, por sua vez, seguiram na casa dos três dígitos, saltando de 108,40% para 110,29%, de um mês para o outro. 

O incremento registrado nas linhas de financiamento para pessoas jurídicas, no entanto, foi novamente mais forte, chegando a 1,45% mensais (+0,05 p.p.). Ainda assim, foi um reforço mais baixo do que o registrado na média das taxas bancárias para as empresas, em novembro (+2,38% ou +0,08 p.p.). Com isso, o custo do dinheiro para esse público passou de 3,44% (novembro) para 3,49% (dezembro) ao mês, sendo este o maior valor desde janeiro de 2019. A nova correção fez a taxa anual saltar de 50,06% para 50,93%, na mesma comparação, de acordo com a Anefac.

A linha de crédito com maior variação percentual mensal para as pessoas físicas foi novamente o CDC (crédito direto ao consumidor) para financiamento de automóveis (+4,49%), que passou de 1,78% para 1,86% ao mês (e de 23,58% para 24,75%, ao ano). O reajuste também desacelerou na comparação com a sondagem da Anefac realizada em novembro (+5,65%). Vale notar que a disparada nessa modalidade ocorre em paralelo com a crise de oferta nas concessionárias brasileiras e o consequente aumento de preços dos veículos, em um mercado onde a demanda segue relativamente aquecida.  

O empréstimo pessoal em bancos (+1,65%) segue em uma distante segunda posição e passou a onerar as operações em 3,70% mensais (54,65% ao ano). O empréstimo pessoal em financeiras (+0,90%) veio na terceira com posição, com taxas respectivas de 6,78% e 119,72%. Ambos tiveram correções mais fortes do que as registradas em novembro (+1,39% e +0,90%, na ordem). Os juros do comércio (+1%) e no cheque especial (+0,53%) vieram em seguida, com taxas mensais de 5,07% e 7,62%. Com alta também reforça (+0,91%), o cartão de crédito (13,28% e 364,52%) ainda é a modalidade mais cara. 

Do lado das pessoas jurídicas, o maior reajuste entre novembro (+1,50%) e dezembro (+2,54%) se deu no crédito para capital de giro, que ficou 2,67% mais caro – embora mais ameno do que os +8,70% anteriores. O desconto de duplicatas veio em segundo lugar, com a taxa mensal saindo de 1,60% para 1,64% mensais, um incremento de 2,50% –e aceleração ante os +3,90% de novembro. Embora tenha registrado o menor acréscimo (+1,11%), a conta garantida segue como a modalidade mais onerosa ao mês (7,29%), para esse tipo de público. As respectivas taxas anuais ficaram em 20,13%, 21,56% e 132,65%.

Inadimplência e Selic

A escalada no custo dos empréstimos bancários segue em ritmo mais acelerado do que o dos juros básicos da economia. A Anefac informa que, considerando todas as elevações da taxa Selic promovidas pelo Banco Central, entre janeiro (2% ao ano) e dezembro de 2021 (9,25% ao ano), a taxa básica de juros avançou 3,62,50% (+7,25 pontos percentuais). No mesmo período, o custo médio do dinheiro para pessoas jurídicas ficou 23,62% (+9,73 p.p.) mais caro, ao passar de 41,20% para 50,93% anuais. Para as pessoas físicas, a elevação foi de 19,12% (+17,70 p.p.), saltando de 92,59% para 110,29 ao ano.

O vice-presidente de estudos e pesquisas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, voltou a afirmar, em texto da assessoria de imprensa da entidade, que as novas elevações das taxas no crédito bancário podem ser atribuídas principalmente à alta dos juros futuros no mercado financeiro e às expectativas de mais aumentos da Selic frente ao comportamento da inflação. Pressionado novamente pelo aumento dos combustíveis, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,73%, em dezembro, desacelerando ante novembro (+0,95%) e outubro (+1,25%). Ainda assim, o acumulado do ano (+10,06%) foi o maior desde 2015, deixando a meta de inflação (3,75%) para trás.

Outros fatores citados pelo dirigente são o anúncio da elevação da alíquota de CSLL (Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido) para instituições financeiras e o aumento alíquotas dos depósitos compulsórios bancários (de 17% para 20%). Há também expectativas mais aumentos nos índices de inadimplência – favorecida pelo fim das carências nos empréstimos, “desemprego elevado”, fim dos benefícios do auxílio emergencial, aumento da inflação e maior seletividade dos bancos para emprestar. “Tendo em vista a piora do cenário econômico, (…) a tendência é de que as taxas de juros das operações de crédito continuem sendo elevadas nos próximos meses”, frisou.

Peso da incerteza

O consultor empresarial, professor universitário e conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Leonardo Marcelo Braule Pinto, reforça que a Selic vem tendo aumentos desde o começo do ano passado e que a expectativa é que ela continue assim até o fim de 2022. O economista concorda que a taxa básica de juros e a inadimplência são os dois principais fatores que impulsionam a formação da taxa de juros bancários, mas destaca que o que está pesando também nessa equação é a incerteza – e que também não pode ser calculada.

“Há um grande número de pessoas na informalidade, seja trabalhando para os outros, seja empreendendo. Tenho atendido muita gente que procura o Decore [Declaração Comprobatória de Percepção de Rendimentos], que é o único documento que prova a renda do trabalho autônomo. Se as pessoas estão buscando isso, é porque estão vivendo na incerteza, sem saber como vai ser o amanhã e matando um leão por dia. E o mercado absorve essas informações. Hoje, a pessoa tem uma renda média de R$ 7.000., mas daqui a oito meses, talvez não seja assim. Essa incerteza faz com que os juros subam. Quando a inadimplência alcançar um certo número de clientes, outros estarão pagando juros altos para cobrir esse déficit no sistema financeiro”, frisou.  

Em entrevista anterior à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente do Sindecon-AM (Sindicato dos Economistas do Estado do Amazonas) e consultor empresarial, Marcus Evangelista, ressaltou que, embora a escalada da Selic gere impactos especialmente para empréstimos com recursos livres, as linhas de financiamento com recursos direcionados não estão inteiramente livres da tendência de encarecimento do custo do dinheiro. “Os fundos constitucionais seguem com IPCA como indexador. Como a inflação também está subindo, isso também acaba ocasionando taxas de juros mais caras para o FNO [Fundo Constitucional do Norte]. Para complicar, o horizonte ainda é de alta”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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