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Ampliar participação no crédito é o desafio da Caixa Econômica Federal

Jornal do Commercio – Como a senhora avalia a participação da Caixa no aspecto sócio-habitacional?

Noemia Jacob – A Caixa é uma das empresas públicas mais importantes porque ela lida com o sonho das pessoas. Quando se faz habitação, a gente cuida das pessoas nos momentos mais delicados. Além disso, lidamos também com o pagamento do seguro-desemprego, da bolsa-família, do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e ainda tem o papel de banco, que oferece as menores taxas de juros e as melhores condições para o crédito.

JC – Sua maior dificuldade atual consiste em quê?

Noemia – Em ampliar a participação da Caixa no crédito, principalmente para as empresas e também aquecer ainda mais a construção civil no Amazonas. O feirão é o primeiro passo para colocar a Caixa como referência no financiamento habitacional e obviamente oferecer crédito ao pequeno. Durante algum tempo a Caixa esteve desaquecida na faixa de até três salários mínimos, por isso temos que resgatar esse papel e garantir que os menos favorecidos possam ter realmente acesso a casa própria.

JC – Qual o desafio de assumir a superintendência regional num momento de crise global?

Noemia – Sou uma pessoa muito otimista, sempre olho a crise pelo lado da oportunidade. No Amazonas a crise atingiu com grande intensidade, resultando em redução da produção e da mão-de-obra do Distrito Industrial. Houve também retração nas exportações e como se lida com o mercado externo não poderia ser diferente. No entanto, a agente sempre viu a possibilidade de apoiar novas iniciativas que estavam começando. A gente tem visto que o mercado começou a se organizar e temos conseguido apoiar e cumprir o papel da Caixa adequadamente.

JC – Qual a quantidade de clientes que a Caixa tem hoje no Amazonas?

Noemia – Mais de 200 mil clientes, incluindo conta corrente e poupança.
No Brasil inteiro o banco possui mais de 38 milhões de clientes

JC – Qual a participação da Caixa no Estado?

Noemia – Ainda temos baixa presença física no número de agências. Hoje são 22, sendo quatro em municípios amazonenses -Manacapuru, Itacoatiara, Parintins e Tabatinga. No entanto, a Caixa está presente em todos os municípios por meio de loterias e correspondentes bancários.

JC – Existe projeto de ampliação das agências?

Noemia – Vai ser inaugurada uma agência em Tefé ainda neste ano. Além disso, estão previstas uma para São Gabriel da Cachoeira, Coari e Maués, para os próximos dois anos.

JC – Quais os benefícios do Amazonas como subsede da Copa de 2014?

Noemia – Vai ser uma grande oportunidade de negócios para todos os segmentos porque teremos obras de infra-estrutura, habitação e reurbanização e a Caixa será uma das principais financiadoras. Além dos investimentos em obras públicas, vão ter construções de hotéis e as empresas obrigatoriamente terão quer se preparar financeiramente para o evento e a Caixa tem crédito para tudo.

JC – A Caixa está preparada para atender essa demanda?

Noemia – Está, e esperamos que isso signifique muitos negócios, porque a Caixa tem muitos parceiros. Acredito que a Copa irá representar um novo ciclo no Amazonas que já teve o Ciclo da Borracha, a ZFM (Zona Franca de Manaus) e agora a Copa, que inaugura uma nova perspectiva de colocar o Amazonas como o Estado mais forte do Brasil.

JC – Avalie a ZFM?

Noemia – Está bastante aquecida. Tem um papel fundamental no desenvolvimento do Estado e eu acredito que o modelo vai vivenciar um novo momento com a Copa de 2014, porque as empresas vão produzir mais, tanto para atender o mercado interno quanto o externo. A venda da Amazônia e do Amazonas para o mundo vai necessitar de indústrias fortalecidas.

JC – A Selic caiu para um dígito – 9,25%. É uma oportunidade de incrementar os negócios?

Noemia – Sem dúvida nenhuma. A tendência é o investimento voltar porque o crédito fica mais fácil. Ao invés das pessoas utilizarem o capital para fazerem especulação, ou seja, para ganharem dinheiro no mercado financeiro, elas passam a aplicar na produção e isso faz girar a economia de uma forma infinita. Acredito muito que a gente tenha aí uma conjunção de fatores que vão ajudar o país.

JC – Essa nova ordem econômica do mercado com diminuição de taxas bancárias e redução do cheque especial ajuda a incrementar os financiamentos?

Noemia – Com certeza, porque os recursos passam a vir mais para produção. À medida que as taxas de juros caem, o especulador deixa de ter ganhos no mercado financeiro, então fica melhor aplicar o capital para girar a economia. Essa conjunção de fatores que a gente vivencia hoje está fazendo com que os bancos também estejam afinados. A Caixa já baixou juros, desde a deflagração da crise financeira, mais de cinco vezes. A gente vem acompanhando essas quedas e isso também tem feito uma ampliação da participação do crédito nas próprias empresas, que estão creditando mais e optam por fazer investimentos, porque voltaram a acreditar na economia.

JC – A senhora acredita nas projeções de crescimento para o segundo semestre?

Noemia- Acredito perfeitamente. A gente está num momento felicíssimo da economia. Acho que o Brasil foi muito feliz no enfrentamento da crise porque agiu rápido na tomada de decisões e isso está fazendo uma diferença estúpida. Quando a gente olha para o mercado e vê as empresas acreditando no país, na estabilidade, acredita que aquele medo inicial já passou e o crescimento está retomando.

JC – As mudanças propostas na poupança irão afetar o pequeno poupador?

Noemia – Não afetarão o pequeno poupador, que é quem forma o grande bolo da poupança, que continua sendo um bom investimento para aqueles que têm até R$ 50 mil para aplicar.

JC – As mudanças vão atingir quem?

Noemia – Os impostos vão ser cobrados em cima os maiores, os grandes capitais, mas tudo está sendo avaliado pelo governo.

JC – As especulações são grandes, e isso não estaria deixando os poupadores preocupados?

Noemia – Tivemos um momento de incertezas que afetou inicialmente, levando algumas pessoas, com medo do confisco, a sacarem suas poupanças. Agora as coisas se acalmaram, as pessoas compreenderam que não tem perigo e que a poupança continua sendo um bom investimento.

JC – Pode haver risco de confisco?

Noemia – Confisco nunca foi uma definição de governo, não creio nisso porque a poupança é um grande negócio.

JC – Qual o atual déficit habitacional no Estado?

Noemia – O déficit básico no Amazonas está em torno de 186 mil unidades habitacionais.

JC – Isto pode ser considerado um número alto?

Noemia – Em termos de Brasil não, já que representa em torno de 2,2% em relação ao déficit habitacional do país. A grande diferença no Amazonas em relação ao resto do país é que 60% desse déficit é concentrado em Manaus, pela própria característica do Estado que tem uma população muito concentrada na capital. Nos demais Estados da federação a capital tem uma força representativa, mas divide com o grande município.

JC – Por que a habitação foi sempre considerada o vilão?

Noemia – Porque as pessoas se fixaram na habitação do passado, um modelo habitacional falido, no qual se pagava um imóvel 25 anos e o que se pagava de prestação não dava para abater os juros. Isso acabou.

JC – Como é feito atualmente?

Noemia – No novo modelo a prestação de um imóvel é igual ao financiamento de um carro, ou seja, a pessoa pode entrar com tranqüilidade, sem qualquer preocupação, porque a maior prestação é a primeira, as demais vão caindo e no fim dos 25 anos o mutuário vai estar pagando em torno de 40% da primeira prestação, essa é a lógica.
Em síntese, antes a prestação aumentava e o saldo devedor não diminuía, hoje o saldo devedor é amortizado.

JC- Essas mudanças ocorreram a partir de quando?

Noemia – Desde 1995.

JC – As regras da Caixa ainda continuam rígidas para obter empréstimos ou financiamentos?

Noemia – Com o tempo as relações foram afunilando. As construtoras aprenderam a lidar com a Caixa, que aprendeu a lidar com o mercado. As exigências da Caixa não são exageradas, são iguais as feitas por qualquer banco. É lógico que se alguém quer tomar um financiamento ou empréstimo precisa ter capacidade de pagar. O que se exige para uma pesquisa física e jurídica é exatamente isso. Se faz uma avaliação e não temos como fugir disso.

JC – O programa “Minha Casa, Minha Vida” não faz tanta exigência, ou faz?

Noemia – Porque o programa não funciona dentro da Caixa. Até três salários mínimos é subsidiado pelo governo, cujo comprador vai pagar uma prestação de no mínimo R$ 50 e o máximo de 10% do que ganha.

JC – O programa já deslanchou no Amazonas?

Noemia – Já, algumas prefeituras já aderiram, o que é o primeiro passo. O programa foi lançado em abril, agora o município tem que fazer um projeto habitacional, porque nessa faixa de renda tem que partir do Estado, do município ou uma entidade organizadora, que diante de um terreno regularizado, apresenta o projeto na Caixa e depois de aprovado inicia o processo de inscrições.

JC – A pessoa física individual pode ter acesso ao programa?

Noemia – Pode, desde que escolha a casa que atenda a seu perfil e financia junto às construtoras.

JC – A senhora disse que o Feirão Caixa da Casa Própria, é o primeiro passo para colocar a Caixa como referência no financiamento habitacional. De que forma?

Noemia – Esses imóveis que participaram do leilão, no fim de semana passada, estão sendo gestados dentro da Caixa o ano inteiro. A gente começou este trabalho em janeiro. O feirão começou a ser pensado em abril e vimos que era possível, porque tínhamos parceiros que possuíam imóveis para serem lançados. Quando foi lançado o programa Minha Casa Minha Vida a gente viu que era possível.

JC – A crise não afetou este setor?

Noemia – É obvio que a crise afetou o país inteiro, porém a Caixa nunca deixou de financiar; os juros foram caindo e a prestação começou a caber nos bolsos. Embora as pessoas ficassem um pouco mais com medo dos financiamentos mais longos a condição ficou mais facilitada. Do outro lado, as construtoras tiveram que diminuir preços, repensar algumas coisas e essa conjunção de fatores fez com que voltasse a haver aquecimento no setor da construção.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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