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Ambulatório atende pessoas trans há quase quatro anos em Manaus

Transgêneros e intersexuais já recebem em Manaus um tratamento de forma integral no Ambulatório de Diversidade Sexual e Gênero e ainda são orientados sobre o processo transexualizador que consiste numa ‘hormonização’ (uso de hormônios) de forma adequada para prevenir eventuais impactos negativos na saúde.

Hoje, pelo menos 600 pessoas são atendidas na unidade médica que funciona na policlínica do PAM da Codajás, no bairro Cachoeirinha, zona sul de Manaus. Perto de completar quatro anos de funcionamento agora em setembro, o setor vem melhorando substancialmente a vida dos que buscam esse serviço, agora disponibilizados pela rede do SUS (Sistema Único de Saúde), sem nenhum custo.

Em geral, os transgêneros são aqueles que têm conflitos de identidade sexual. Não se aceitam como são fisicamente – às vezes estão num corpo de mulher, mas se sentem homens. Ou vice versa.  E os intersexuais têm as duas gônadas (testículos e ovários).

Uma equipe multidisciplinar formada por médicos ginecologistas, endocrinologistas, cirurgião plástico, enfermeiros e psicólogos, faz o atendimento envolvendo desde questões de identidade sexual, cirúrgicas (quando necessárias) à saúde mental e psicológica, segundo a médica ginecologista Dária Barroso das Neves, fundadora e coordenadora do ambulatório no PAM da Codajás.

Especialista em reprodução humana assistida, Dária disse que a homofobia ainda é muito grande no Amazonas. E o novo serviço veio para amparar essas pessoas que sofrem todo tipo de preconceito e violência na sociedade.

“Antes, essas pessoas não tinham acesso a esse serviço em Manaus. Muitos ainda se hormonizam de forma inadequada. E acabam sendo enganadas por vendedores de hormônios ao comprar os produtos sem nenhuma orientação de um especialista”, disse a médica durante entrevista online no programa JC às 15, comandado pelos jornalistas Caubi Cerquinho e Fred Novaes, diretor de redação do Jornal do Commercio.

Podem ter acesso ao ambulatório as pessoas trans ou intersexuais a partir dos 16 anos. Hoje, a maioria consiste de transgêneros dessa faixa etária até os 20 anos. Por enquanto, o serviço passa todas as orientações sobre como usar adequadamente os hormônios. As cirurgias são recomendadas somente para alguns casos.

A rede SUS ainda não fornece, porém, os hormônios necessários para o atendimento a trans e intersexuais. O pouco doado pela indústria farmacêutica atende apenas a um público específico, dependendo do caso, informou a médica Dária Neves.

“Chegando ao ambulatório, a pessoa passa por uma triagem e, em seguida, é encaminhada para assistência dos especialistas”, afirmou a médica, que também é professora da UEA (Universidade do Estado do Amazonas).

Dária disse que muito antes da criação do ambulatório já fazia esse atendimento na clínica aonde atuava no setor de endocrinologia. Um grupo de pessoas LGBTs a procurou para dar início a esse serviço.

A médica lembrou que o Amazonas estava atrasado há anos para implantar o novo projeto. Por pressão do Ministério da Saúde, ela decidiu abraçar a iniciativa que, hoje, beneficia milhares de trans e intersexuais.

“O Estado é conhecido como extremamente transfóbico, tem muitas mortes de pessoas trans e casos de maus atendimentos”, acrescenta ela. O ambulatório funciona de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas, no PAM.

Traumas

A médica afirmou que trans e intersexuais vão crescendo com muitos traumas desde a infância em casa, na escola e outros ambientes de convívio social.  São alvos constantes de críticas.

A maioria tem muitas disforias (transtornos psíquicos) que envolvem ansiedades, depressão, sentimentos de angústia, tristeza. “Alguns passam dos 24 anos tendo esses conflitos. Sofrem todo tipo de maus-tratos no decorrer da vida”, explica ela. “Poucos têm esse apoio familiar desde a infância”.

No entanto, nem todo transgênero pensa em cirurgia para mudar o sexo. Na maior parte, eles querem auxílio para a sua identidade sexual, segundo a médica. “A pessoa se vê no espelho e não aceita aquele corpo. A sua identidade de gênero pode ser muito grande. Então, fazemos toda essa busca pela identificação”, ressalta.

Dária disse também que já existe em Manaus a reprodução assistida para mulheres que não conseguem engravidar normalmente. Mas os casos mais complexos de fertilização in vitro são encaminhados para outros grandes centros do Brasil.

“Só centros mais capacitados têm condições para atender mulheres a partir dos 40 anos, quando a gravidez pelos métodos naturais é mais difícil e de alto risco”, disse ela.

Por enquanto, duas clínicas da rede privada fazem a reprodução assistida em Manaus. A rede SUS ainda não disponibiliza o atendimento no Estado, disse a médica, como acontece em outros estados brasileiros.

O SUS considera a reprodução assistida como de alto custo. E só as clínicas privadas estão equipadas para prestar esse serviço. Poucos podem arcar com as despesas para a fertilização in vitro. Em geral, apenas as pessoas de alto poder aquisitivo podem pagar pelo serviço.

Foto/Destaque: Divulgação

Marcelo Peres

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