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Ambientes físicos de aprendizagem

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Os espaços de aprendizagem são ambientes físicos e virtuais onde o aprendizado ocorre. Os ambientes físicos são os mais conhecidos porque são e sempre foram os mais comuns, em contraposição aos ambientes virtuais, que caracterizam a contemporaneidade. É importante que se saiba não apenas que os ambientes físicos apresentam determinadas características, como a tangibilidade, a mensuração precisa, a constatação empírica, dentre outras, mas principalmente porque podem se desdobrar em suas finalidades. E uma consequência desse caráter multifinalitário é a profusão de uso que podem ter, dependendo, naturalmente, da capacidade criativa dos seus usuários e dos objetivos pretendidos pela aprendizagem. Este artigo tem como objetivo apontar as condições dos ambientes físicos de aprendizagem.

A sala de aula é o exemplo prototípico do ambiente físico de aprendizagem. Aliás, até mesmo muitos profissionais de educação só conseguem ver a sala de aula como espaço destinado para esse fim. Esse tipo de concepção toma como aprendizagem sinônima de alguém ensinando e alguém recebendo o ensino, enquanto que a mentalidade contemporânea raciocina de modo reverso: o aprendizado como consequência não apenas da interação entre dois ou mais indivíduos, mas como a resultante de uma enormidade de fatores, o que também inclui, naturalmente, a existência de alguém desempenhando o papel de professor, mas consciente de que, até ele, o professor, atualmente, passa a ser personagem dispensável.

Bibliotecas são outro exemplo de ambiente físico de aprendizagem, que talvez não gere muita discordância. É possível ver, por exemplo, que indivíduos, sozinhos ou em grupos, ocupam aqueles espaços com a finalidade de aprender alguma coisa. Para isso, ocupam os espaços para manusear livros, revistas e outros materiais manuseáveis, ou, como é comum atualmente, utilizar recursos informacionais e multimídias. O que importa que se compreenda, aqui, é que aquele espaço físico se transforma em ambiente visível para a aprendizagem porque ali se estuda e, como consequência, se pode aprender. Alunos em equipes aprendem com eles mesmos, dispensando a figura do professor, o personagem que ensina, o que não quer dizer que os espaços pedagógicos careçam de alguém que desempenhe essa função.

Outros espaços físicos, por outro lado, podem se tornar espaços de aprendizagem. E essa possibilidade de transformação muitas vezes é motivo de profundas discussões e ácidos conflitos. Aqui não entraremos no mérito dos antagonismos, mas apenas marcar o caráter finalístico da aprendizagem como propícia de acontecer nesses ambientes. Jardins de escolas, por exemplo, podem se transformar em ambientes propícios de se aprender sobre diversos aspectos da dinâmica biológica, assim como os próprios banheiros e seus vasos sanitários, ainda que alguém possa questionar seu uso, coisa que ninguém lhe pode retirar o direito à contestação. Com discórdia ou sem discórdia, esses ambientes podem, sim, proporcionar aprendizagem, dependendo da finalidade que dele se queira extrair.

Os ambientes físicos são assim: tangíveis, permitem o contato face a face entre os indivíduos, dentre outros aspectos visíveis. Mas os aspectos invisíveis é que eles afetam tanto a sensibilidade física quanto emocional dos indivíduos, diferentemente dos outros tipos de ambientes, de maneira que a forma como eles são planejados, organizados, dirigidos e controlados afeta o resultado final pretendido, que é a aprendizagem. Pode ser muito interessante, pioneiro e inovador fazer as aulas de física no campinho de futebol da universidade, mas é preciso que se saiba que, dependendo do horário, isso pode afetar diversos aspectos dos indivíduos, desde a fisiológica, até a psíquica.

Ao permitir a relação pessoal entre os indivíduos, os ambientes físicos exigem dos profissionais da educação conhecimentos, habilidades e atitudes profundas e especiais para que cumpram a sua missão sem consequências danosas. Ambientes acima de 25 graus de temperatura, por exemplo, afetam negativamente a aprendizagem, da mesma forma que ruídos acima de 60 decibéis, que é uma conversa moderada, assim como fraca e alta intensidade de luz. Se não receberem tratamento de reverberação de som, também, não servem para que pessoas aprendam ali. Para que se tenha ideia do que essas três condições ambientais dos ambientes físicos de aprendizagem representam, eles são suficientes para reprovar a quase totalidade das salas de aula da região Norte do Brasil. Se se pensar em transformar outros ambientes físicos em ambientes de aprendizagem, os esforços serão infrutíferos.

O que queremos mostrar, neste ensaio, é que os ambientes físicos de aprendizagem não podem representar apenas a existência do espaço físico em si. É necessário que eles se revistam das condições técnicas para que a aprendizagem ocorra. Da mesma forma que biblioteca que não tem o acervo adequado para se aprender determinado assunto efetivamente não é ambiente de aprendizagem, salas de aulas que não proporcionam o chamado conforto ambiental mínimo também não o é. Salas de aulas, assim como todo espaço físico, sem as condições técnicas para aprendizagem são apenas cômodos, compartimentos físicos. E nada mais. E por incrível que pareça, é praticamente isso o que se tem na região Norte do Brasil porque os profissionais responsáveis não sabem quais são as condições e critérios para que um ambiente físico de aprendizagem aconteça.

Professores reclamam que seus alunos não prestam atenção nas suas aulas e que preferem ficar cochichando com os colegas. Salas de aula que parecem presídios, laboratórios que se assemelham a capelas de cemitérios, bibliotecas que se assemelham a fornos são alguns exemplos de falsos ambientes de aprendizagem.

São falsos porque ali a aprendizagem tem as mínimas condições de acontecer. São apenas construções físicas, que muitas vezes representam dinheiro público jogado fora pela ignorância daqueles que deveriam levar a luz do saber para propiciar ao saber.

*é PhD, professor e pesquisador do Ifam (Instituto Federal do Amazonas) – [email protected]

Daniel Nascimento

É Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
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