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Ambiente econômico favorece crescimento favorece crescimento

Jornal do Commercio – Sua palestra no congresso (“Decolando para o futuro”) tratará sobre motivações. Analisando o mercado hoje, os empreendimentos que surgem, os que crescem e os que ficam estagnados ou desaparecem, qual avaliação que o senhor faz do empreendedorismo no Brasil em relação ao do exterior?

Glauco Cavalcanti – Segundo a GEM (Global Entrepreneuship Monitor), o Brasil está entre os países mais empreendedores do mundo, ocupando o sétimo lugar. Somos um povo altamente empreendedor e atento às oportunidades. Mas no passado o empreendedor brasileiro era motivado pela necessidade. Um cenário típico que indica um país em crise com alto nível de desemprego e elevado grau de informalidade. Este quadro, no entanto, vem mudando. É crescente o numero de empreendedores motivados pelas oportunidades de negócio com o objetivo de gerar independência e aumento de renda pessoal. Essencialmente, o crescimento de empreendedores por oportunidade sinaliza que o ambiente econômico está favorável. Estamos vivendo uma era propícia para novos empreendimentos no país e o brasileiro já percebeu os sinais.

JC – O empreendedor brasileiro precisa ser mais motivado?

GC – O empreendedor brasileiro já é altamente motivado. Na verdade o que falta é fazer planejamento e desenvolver competências gerencias para transformar uma boa ideia em um negócio rentável no longo prazo. A taxa de mortalidade das empresas recém formadas ainda é elevada e a grande causa continua sendo a falta de capital de giro. Um erro gerencial básico, mas que causa a falência de muitas empresas inovadoras e com excelente proposta de valor aos clientes.

JC – Quais experiências que o senhor teve em sua carreira que puderam ser aplicadas ao conhecimento que hoje é compartilhado em suas palestras?

GC – Eu abri meu primeiro negócio aos treze anos de idade. Uma empresa de sonorização de festa chamada Iluminasom. O negócio durou cinco anos e vendi a empresa aos 18 anos quando entrei na faculdade de administração. Depois tive outras empresas em diversos segmentos. Quando saí da Coca-Cola onde era gerente de desenvolvimento de mercado resolvi abrir uma empresa chamada Onda Verde. Vendia suco de clorofila para as principais lojas de sucos, produtos naturais e supermercados no Rio de Janeiro. Atualmente tenho outra empresa chamada Megafly que oferece voo duplo de asa delta aos turistas e aventureiros que querem realizar o sonho de voar. Segundo Filion, o empreendedor é aquele que imagina, desenvolve e realiza visões. Entendo que me encaixo perfeitamente nesta definição e tenho imenso prazer em dividir esta paixão de realizar visões com o grande público na palestra “Decolando para o Futuro”.

JC – Hoje, o que o senhor considera como as maiores falhas do empreendedor na gestão de seu negócio e na relação com seus colaboradores?

GC – Alguns empreendedores continuam com a visão ultrapassada de julgar pessoas como recursos. O termo “recursos humanos” é muito inapropriado e remete a este pensamento que limita o crescimento pessoal e profissional dos colaboradores. Empreendedores bem sucedidos são aqueles que entendem que um ambiente propício à criatividade, ao aprendizado contínuo e um ambiente motivador é o que leva empresas comuns a atingirem resultados incomuns. O empreendedor tem que ser capaz de fazer com que sua energia transformadora seja potencializada pelas pessoas que integram sua organização. Para isso deve tratar pessoas como pessoas, jamais como recursos.

JC – Quem de fato, observando o empreendedorismo nacional, está preparado para decolar? Como o senhor caracterizaria esse empreendedor?

GC – Eu visualizo quatro tipos de empreendedores: celebridade, folclórico, life style (estilo de vida) e empresário. O empreendedor celebridade é aquele que aparece na mídia, na revista Exame, Veja e está sempre em evidencia. São pessoas que possuem uma história única. São ponto fora da curva. Às vezes receberam uma herança elevada e aumentaram o patrimônio da família, em alguns casos nunca estudaram e conseguiram construir um império. Este caso gera mídia, mas por outro lado não representam um modelo a ser seguido porque as características e os eventos são únicos e muito difíceis de serem copiados. O empreendedor folclórico surge de uma conjuntura específica que muitas vezes é um fenômeno regional. Um exemplo seriam as mulheres rendeiras de uma cidadezinha do nordeste ou os artesãos das favelas do Rio de Janeiro. São casos pontuais e que só funcionam naquele ambiente. O empreendedor life-style é aquele que tem uma paixão e transforma sua paixão em um negócio. É o caso do surfista que abre uma escola de surf ou gourmet que abre um restaurante próximo a sua casa. Por fim, temos o empreendedor empresário. Este está preparado para decolar porque possui as competências gerenciais para transformar uma boa ideia em um modelo de negócio rentável e que pode ser replicado em novos mercados. Precisamos estudar e aprender mais com estes empreendedores porque são eles que movem a economia e garantem a estabilidade nos momentos de crise. Abrir um negócio é fácil, mantê-lo em voo durante longos anos é o grande desafio.

JC – Como esse convite ao empreendedorismo pode ser estendido aos colaboradores em um determinado negócio, considerando sua importância como força de trabalho a ser também estimulada para o sucesso desse empreendimento?

GC – O empreendedor é responsável pela criação de novos negócios, mas também pode inovar dentro de negócios já existentes, ou seja, é possível ser empreendedor dentro de empresas já constituídas. A figura do intraempreendedor vem substituir o empregado, exigindo que as empresas desenvolvam novas habilidades em seus funcionários. Dentro das organizações este processo de mudança de perfil é cada vez mais evidente. Os “empregados tarefeiros” estão perdendo espaço para os visionários de mercado. Os executivos que dominam planilhas, que pensam de forma incremental e produzem mesmices estão dando lugar a profissionais altamente criativos que pensam fora da caixa e geram soluções inovadoras. Estamos vivendo uma revolução no mundo corporativo e os intraempreendedores são os personagens centrais neste processo. Embora sejam agentes de transformação dentro das organizações, os intraempreendedores precisam desenvolver competências exclusivas a fim de atingir seus objetivos, afinal todo e qualquer empregado possui uma série de limitações no processo decisório. Neste sentido a habilidade de tolerar frustração, a criatividade parametrizada com a missão da organização, e principalmente, a habilidade política para desenvolver produtos ou serviços sem criar atrito com as demais áreas, são algumas competências requeridas. As organizações por outro lado devem compreender o efeito intraempreendedor e conceder maior poder a estes agentes de transformação. Afinal são estes profissionais que servem de força motriz no processo de mudança organizacional. Está na hora das organizações olharem para o intraempreendedor como oportunidade e não como ameaça, afinal mudar é preciso para sobreviver.

JC – Entre os grandes empreendimentos consolidados no país, em quaisquer áreas, quais o senhor poderia citar como bem sucedidos com base nessas formas de motivação que são compartilhadas em suas palestras?

GC – Se eu lhe perguntar o que você acha de voar em um avião construído pelo governo? O que você me diria? Pois foi isso que o empreendedor Ozires Silva fez ao criar a Embraer, um dos raros ícones brasileiros da indústria de alta tecnologia. Uma empresa que nasceu estatal porque nenhum investidor do Brasil ou do exterior aceitava o desafio de construí-la. Para Ozires Silva, criar uma empresa é como voar. Primeiro, é preciso sonhar com a possibilidade do voo, imaginar até que altura e que distância se pretende ir. Depois, é preciso traçar um plano de voo detalhado e que leve em conta a rota, as dificuldades e as possibilidades do caminho. O momento seguinte é o da decolagem, quando tudo o que se imaginou é posto em prática e a empresa, de fato, começa a existir. O pouso não significa o fim da viagem, mas apenas o momento em que o empreendedor pára para avaliar os próximos passos e o novo destino.

JC – De que forma a associação de técnicas diferentes (som, imagem e ação) pode estimular a motivação dos participantes?

GC – Utilizo som, imagem e áudio para que a plateia decole comigo nesta grande empreitada que é a palestra Decolando para o Futuro. Da Vicci certa vez disse: “uma vez que você voa, passará o resto da vida na terra com os olhos voltados para o céu. Pois um dia lá esteve e para lá sempre voltará”. Quando consigo despertar o empreendedorismo e esta vontade de voar alto e longe na plateia, sei que atingi meu objetivo.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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