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Amazonidades – Piração no setor ambiental

Uma notícia da semana passada deixou evidente que a “piração” que atinge o Brasil chegou à Amazônia. O fato foi divulgado tanto pela internet como pela mídia que não aprofundou a análise do assunto, repassando-o para a população como se fosse o grande passo para a redenção de nossas florestas, ou quem sabe o primeiro dia da criação, ou ainda o “fiat lux” da explotação e exploração florestal.
Essa história do governo francês investir R$ 3,8 milhões em um projeto de manejo sustentável na Amazônia já foi contada, muitos anos antes, pelos próprios franceses, para a Costa do Marfim que perdeu o capital natural, a língua (o idioma oficial é o francês) e ocupava, em 2003, o 161º lugar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), entre os 175 países avaliados pela ONU.

Manejo florestal no mundo
Como escreveu o cientista florestal, Dr. Niro Higuchi, do Inpa, em um artigo publicado na Revista Opiniões (www.revistaopinioes.com.br) o primeiro manual sobre a técnica de manejo foi publicado em 1860 e ensinava o povo da Índia e da Birmânia (atual Myanmar) a manejar a espécie “Tectona grandis” (nome vulgar Teca). O resultado objetivo dessas “lições” é que se o mercado mundial quiser comprar essa madeira, o mais provável é encontrá-la em Cárceres (MT), porque naqueles dois países os “manejadores” estrangeiros dizimaram até a última árvore dessa espécie.
Nas florestas tropicais mistas, conta o cientista, os experimentos de manejo florestal começaram no início do século 20 e os países que entraram nessa onda colonialista foram: Nigéria, Libéria, Costa do Marfim, Camarões, Gabão, República Centro Africana, República do Congo, Gana, Malásia, Indonésia, Filipinas, Camboja, Tailândia, Vietnã, Índia, Sri Lanka, Papua Nova Guiné, Fiji, Nicarágua, Trinidad Tobago e Honduras.

O macro indicador final
Depois de uma interrupção causada pela Segunda Guerra, os experimentos foram reiniciados e o resultado mais evidente é o IDH de 2003, mostrando que daqueles países “manejados” o melhor colocado é Trinidad Tobago (54º) pouco acima da Malásia (58º). Quer dizer, mesmo depois de 60 anos de “manejo florestal” (a Guerra terminou em 1945), esses dois países não conseguiram usar seus recursos naturais para minimizar a exclusão social. E o que dizer da República Central Africana, na 168ª posição?

O que precisa ser feito
Como este texto é alicerçado no artigo do Dr. Niro Higuchi, transcrevo para os leitores do Jornal do Commercio, a opinião desse engenheiro florestal com larga experiência na Amazônia. Diz ele que a assimetria entre o conhecimento científico acumulado e a idade das árvores impede prescrever tratamentos que garantam a sustentabilidade do manejo na Amazônia. E, para ilustrar suas afirmações cita um trabalho publicado na Revista “Nature”, uma das mais importantes do mundo, onde é contada a história de uma empresa da região de Manaus que cortou uma árvore de 1.480 anos evidenciando o contraste com a pesquisa florestal no Amazonas que tem apenas 30 anos.
A falta de conhecimento científico fica mais evidente e agravada pelo fato de, em toda a Amazônia, existirem apenas cinco experimentos de manejo florestal: Jarí(AP); (Paragominas (PA); Flona do Tapajós (PA); Manaus (AM) e Rio Branco (AC).
Sem manejo correto e sem tecnologia apropriada, o desperdício no setor florestal é tão grande que não se pode estabelecer uma relação entre a produção de madeira e o PIB dos Estados. Paralelamente, deve ser lembrado que a tal certificação florestal não passa de mais um engodo, pois no Amazonas, as duas empresas certificadas pelo Ibama foram multadas pelo próprio órgão certificador.
A Lei de Gestão Florestal denunciada nesta coluna como mais um atentado contra os sistemas florestais amazônicos, agora é o apoio legal para esse projeto francês que vai aumentar a oferta de madeira (legal e ilegal), reduzindo o preço de mercado e incentivando o corte de novas áreas (economia de escala).
O Brasil, realmente, “pirou” como escrevi na semana passada e, infelizmen

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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