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‘Amazônia, sua linda’: Dom Phillips, repórter desaparecido, escrevia livro sobre como salvar floresta

“Amazônia, sua linda” — essa foi a última frase que o jornalista britânico Dom Phillips escreveu em suas redes sociais, cinco dias antes de desaparecer no Vale do Javari, no Amazonas, quando viajava com o indigenista Bruno Pereira, no último domingo (5).

As palavras — acompanhadas por um vídeo no qual um barco viaja lentamente por um rio amazônico, com uma mata exuberante no fundo — expõem a paixão que o britânico desenvolveu pela floresta após se mudar para o Brasil, em 2007.

Num momento de crescente interesse internacional pela Amazônia, o jornalista produziu dezenas de reportagens sobre o bioma para o jornal britânico The Guardian e se tornou uma das principais vozes na imprensa estrangeira a documentar o avanço do desmatamento durante o governo Jair Bolsonaro.

O interesse dele pela Amazônia era tamanho que, em 2021, Dom começou a escrever um livro sobre soluções para manter a floresta em pé. Seu desaparecimento ocorreu durante uma das viagens de pesquisa para a obra.

Dom Phillips pretendia contar em seu livro como povos indígenas fazem para preservar a floresta e se defender de invasores. — Foto: BBC

Papel dos indígenas

Segundo o sociólogo Felipe Milanez, Dom “tinha uma dedicação muito profunda em entender o Brasil”. Os dois ficaram amigos após Dom se mudar no início do ano para Salvador, terra natal da esposa do britânico, Alessandra Sampaio. O casal antes morava no Rio de Janeiro.

Segundo Milanez, Dom “se apaixonou” pela capital baiana. O sociólogo afirma que ambos costumavam praticar stand-up paddle em Salvador. Nas horas vagas, Dom dava aulas de inglês numa favela como voluntário.

“Era uma pessoa que rapidinho construía confiança, transparente, muito ético e discreto”, diz o amigo.

Milanez conta que Dom resolveu escrever o livro sobre a Amazônia porque queria se aprofundar no tema, algo que seu trabalho diário como repórter não lhe permitia.

Criado nos arredores de Liverpool, cidade industrial no noroeste da Inglaterra, o repórter “tinha uma formação de classe operária militante”, diz o amigo.

“Ele reportava uma situação familiar muito dura (na Inglaterra) e se identificava com as pessoas que sofrem aqui”, afirma Milanez.

“Era muito atento na escuta, muito verdadeiro, e queria ouvir o que as diferentes vozes do Brasil tinham a dizer sobre a Amazônia: cientistas, pesquisadores, gente que se importa.”

Amigos do britânico dizem que ele se interessou pelo Brasil inicialmente por causa da música, tema que ele enfocava no começo de sua carreira jornalística.

Em suas redes sociais, Dom exalta com frequência músicos brasileiros. Em 30 de abril, foi a um show de Gilberto Gil em Salvador e o definiu como “um gigante que representa muito do que é maravilhoso e poderoso na cultura brasileira”.

Em janeiro, após a morte da cantora Elza Soares, chamou-a de “grandiosa, única, brilhante”. Também costumava publicar fotos de frutas e pratos típicos brasileiros.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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