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Amazônia: conhecer para proteger e abraçar

A Zona Franca de Manaus não é massa de manobra política. O povo foi lesado, mas tudo vê, pois não é leso. Apenas se interessa em ajudar o país a entender a obviedade emergencial de abraçar e adotar a Amazônia, sua economia e a proteção deste patrimônio, sua dimensão indígena e  biodiversidade:  um tijolo  orgânico da construção de um país próspero, ambientalmente equilibrado, economicamente rentável, politicamente correto e socialmente justo, como profetizou Samuel Benchimol referindo-se à Floresta.

Em 2016, Marcos Lisboa e Zeina Latif, dois respeitados economistas paulistas vieram nos visitar. Há  tempos  haviam escalado a economia do Norte como tema de seus artigos. Com severas críticas à Zona Franca de Manaus, argumentavam, pelo prisma da distância entre as fábricas e os centros de consumo, o absurdo que é produzir na floresta. Moramos tão longe assim, ou a infraestrutura do Norte carece de providências emergenciais? Longe é a China, que demora 45 dias para entregar no Porto de Santos equipamentos similares aos que produzimos em Manaus, porém bem mais baratos. Ninguém suporta a carga tributária do Brasil. O problema é a distância ou a infraestrutura? Os ingleses, por uma decisão empreendedora e estratégica, diante das oportunidades do Ciclo da Borracha, ficaram mais ricos com o enfrentamento inteligente dessa equação.

Desigualdades absurdas, injustas e inaceitáveis 

Somos resultado de uma política do Estado brasileiro – é importante repetir – para a redução das desigualdades regionais, que são absurdas, injustas e inaceitáveis. A convite do CIEAM/FIEAM, Latif e Lisboa ficaram três dias de andanças e conversas com os atores da economia e da academia, conhecendo a rotina produtiva e os avanços socioeconômicos e ambientais de Manaus, de onde emanam reflexos salutares em favor da Amazônia Ocidental, área de atuação da Suframa, a autarquia que executa as diretrizes de governança que emanam de Brasília. É lá que são decididas, por exemplo, as barganhas do PPB, uma estrutura burocrática que define o que pode e o que não pode e como deve ser produzido em Manaus. 

Um gestor aloprado, autoritário e deficiente

A experiência deixou os visitantes “impressionados” com a verticalização industrial, a reciclagem de resíduos, o perfil diferenciado dos colaboradores, tanto na formação acadêmica, como na comparação salarial e participação nos lucros das empresas , destacando Manaus entre plantas industriais do Brasil, além de outras surpresas. Entretanto, não soubemos explicar porque tantos acertos são retribuídos com muitos vetos, entraves e confiscos. Brasília é um gestor aloprado, autoritário e deficiente dos sentidos. Daí os entraves, por exemplo, ao desenvolvimento da Bioeconomia, – cinco anos para liberar o PPB de uma fábrica de medicamentos genéricos baseados nos princípios da biodiversidade.

Avanços tecnológicos e qualificação acadêmica 

 A obviedade do turismo, uma das grandes vocações naturais de negócios para a região, sem amparo nem fomento. A economista chefe da XP-Investimentos à época, Zeina Latif, “pescou” pirarucu no formato lúdico e sustentável de um pequeno parque de diversões improvisado na ilharga do Encontro das Águas, e reclamou de poucos parques, museus e aquários condizentes com a ictiofauna da Amazônia. Mas se surpreendeu com o cardápio orgânico e saboroso da refeição servida aos trabalhadores na MotoHonda. Marcos Lisboa experimentou, incrédulo, as delícias da culinária amazônica e descobriu que softwares e aplicativos de seu celular e diversos produtos de informática eram made in ZFM, avanços de inovação tecnológica com recursos da Lei de Informática, aproveitados por instituições locais, incluindo a universidades federal, UFAM e a UEA – uma universidade estadual mantida integralmente pela indústria da ZFM. 

Precificação dos serviços ambientais 

No final da visita, alertaram para a necessidade da quantificação, métricas e precificação dos serviços ambientais do programa ZFM. É importante dizer ao país quanto representa a monetização do desmatamento evitado? Quais os benefícios do Polo Industrial de Manaus ao oferecer 500 mil postos de trabalho, movimentar 85% da economia estadual com expansão substantiva da economia do desenvolvimento regional mantendo a floresta em pé?  Produtos de alta tecnologia feitos por fábricas sem chaminé, itens que devem ser comunicados ao  contribuinte e ao gestor federal. Há que se observar, a propósito, o grande equívoco de quem inventou a sigla para traduzir nossos acertos: ZFM, uma área que nada tem de Franca – não usa um centavo público – nem pertence a Manaus. Ela é e só faz bem ao Brasil, pois aqui recolhe a 5ª maior contribuição dos estados da Federação para a Refeita Federal, ou seja, Manaus é um verdadeiro paraíso do Leão. E, até pouco tempo, a ZFM era a garantia da soberania do Brasil em relação à Amazônia. Não é mais? 

A visita foi proveitosa? 

Não para os dois que perderam o mote de seus ensaios, mas para declararmos à opinião pública o que fazemos com menos de 8% do bolo fiscal. Uma pena que boa notícia não seja um mote de audiência. E se não podemos chamar todos os adversários de nossa economia para passear na floresta, podemos levar a voz da floresta até eles. Ferramentas nós temos no almoxarifado e obrigação de fazê-lo também. Além de prestar contas, podemos aplicar na veia do conhecimento nacional/global as oportunidades de desenvolvimento sustentável que aqui cumprimos, um paradigma ESG que adotamos bem antes da sigla transformar-se em indicador de competitividade inteligente.

A gente não é leso

As entidades da indústria,  conscientes de seu compromisso com os empreendedores e o desenvolvimento regional, tem buscado múltiplas saídas para essa interlocução inadiável. É  hora de retomar e melhorar os acertos, rever estratégias, planejar novos avanços,  com a mobilização dos atores locais e regionais. O ano é dedicado absolutamente aos imperativos da temporada eleitoral. Pugnar pela interlocução nacional, destacando as contribuições robustas deste programa de desenvolvimento regional sustentável, vai fazer bem para Amazônia e, certamente, para o Brasil. Afinal, nem só de voto e retaliação vive Brasília, mas de toda a palavra que possa desarmar preconceitos, desinformação e contribuições de fortalecimento da brasilidade. A Zona Franca de Manaus não é massa de manobra política. O povo foi lesado, mas tudo vê, pois não é leso. Apenas se interessa em ajudar o país a entender a obviedade emergencial de abraçar e adotar a Amazônia, sua economia e a proteção deste patrimônio, sua dimensão indígena e  biodiversidade:  um tijolo  orgânico da construção de um país próspero, ambientalmente equilibrado, economicamente rentável, politicamente correto e socialmente justo, como profetizou Samuel Benchimol referindo-se à Floresta. 

Alfredo Lopes

Escritor, consultor do CIEAM e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora
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