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Amazônia, cadê o mapa da mina?

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Há alguns dias, um bom amigo das redes sociais José Renato, ao ler sobre nossa riqueza mineral me questionou: há exagero ou somos ricos? Essa parece uma pergunta comum de nossos leitores: seria a Amazônia um Eldorado Mineral?

Para responder essa dúvida é preciso entender a diferença entre ocorrências minerais e uma jazida mineral. É preciso analisar também, que não há mineração sem produção do conhecimento geológico. Por isso, muitos confundem garimpo com mineração.

Naturalmente, se eu tiver uma bateia, aquela ferramenta de metal que parece um chapéu chinês invertido, comumente vista nas fotos de garimpeiros, e usar para coletar e concentrar material extraído de qualquer igarapé ou rio na Amazônia, será comum encontrar algumas pintas de ouro ou de outro mineral com valor de mercado. Chamamos isso de ocorrências minerais. 

Nos diversos levantamentos geológicos da Amazônia, em sua maioria realizados em escalas regionais, uma informação a cada 25 km, os estudos geoquímicos de concentrados de bateia deram pistas muito interessantes para o reconhecimento de algumas jazidas minerais. Afinal, onde há ocorrência mineral na forma de pintas de ouro, poderá haver uma rocha primária rica em ouro em algum lugar próximo, pois o mesmo rio que destrói a rocha, está trazendo em sua correnteza tais minerais preciosos. 

O difícil é encontrar a rocha primária rica em ouro, pois ela, reconhecida como jazida mineral, exigirá para ser avaliada economicamente, um investimento maior da Ciência no mapeamento geológico em escala de detalhe, ao mínimo, uma informação a cada 1km. 

Nestes mapas geológicos de detalhe, a região e suas rochas serão estudadas no sentido de definir a quantidade de minério existente, que chamamos de reserva; o valor que se gastará para destruir a rocha, concentrar e comercializar o minério; e, o investimento necessário na recuperação da área da mina, local onde o minério será lavrado.

Se no cálculo final, o estudo sobre o mapa geológico em detalhe não apresentar lucro, pois a quantidade de reserva mineral encontrada não possui valor de mercado suficiente para cobrir todas as despesas da atividade desde a descoberta, operação e recuperação ambiental da mina, continuaremos a ter apenas e somente, uma boa ocorrência mineral, nunca, uma jazida mineral. 

Os garimpos na Amazônia representam assim, atividades de lavra de ocorrências minerais desprovidas de informações e levantamentos geológicos básicos, executadas de forma artesanal ou mecanicamente rudimentar, onde uma rocha é exaurida até a sua falência.

No artigo 21º da Constituição Federal lemos que compete à União organizar e manter os serviços oficiais de geologia e cartografia no âmbito nacional. Assim, estarão nos mapas geológicos, representações cartográficas do solo e do subsolo, as informações básicas sobre a presença e características das rochas, sedimentos e minerais, pesquisados e estudados por Geólogos e/ou Engenheiros-Geólogos. 

Desde os idos de 1980, com o Projeto Radar da Amazônia (RADAM), todo o território amazônico foi mapeado geologicamente em escala regional. Tais mapas, naturalmente, apresentam diversas ocorrências minerais. Algumas, ao serem estudadas em maior detalhe, podem tornar-se minas, como é o caso da mina do Pitinga que produz cassiterita, minério de estanho, na região dos rios Pitinga, Uatumã e Alalaú. Outras, permanecem até hoje como jazidas minerais. Foram estudadas em detalhe, têm valor econômico, mas nunca estraram em produção. É o caso da jazida de nióbio dos Seis Lagos, região do Alto Rio Negro; e de silvinita na região do rio Madeira, rocha rica em sais de potássio, utilizado como agromineral fertilizante.

O imenso território da Amazônia, que representa 40% da América do Sul e 60% do Brasil, constitui uma das últimas fronteiras do conhecimento geológico em detalhe. Em 2019, na comemoração dos 50 anos do Serviço Geológico do Brasil/CPRM, Ente do Estado brasileiro responsável pelo Sistema de Informações Geológicas do território nacional, foram divulgados dados atuais da cartografia amazônica. Somente 1% do território da Amazônia possui mapas geológicos em escala de detalhe, capazes de identificar jazidas minerais. No Amazonas, apenas 59.596,5km2 (3,82% do território do Estado) foram mapeados em detalhe. 

Assim, caros leitores e amigo José Renato, o potencial mineral da Amazônia está longe de estar adequadamente identificado, e, o que se pode concluir é que a Amazônia mineral, enquanto fronteira do conhecimento, continua sendo o mito do Eldorado.

Daniel Borges Nava é geólogo, analista ambiental e professor doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade na Amazônia

Daniel Nava

Pesquisador Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade da Amazônia do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA, Analista Ambiental e Gerente de Recursos Hídricos do IPAAM
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