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Alta na Selic divide opiniões de empresários e economistas

Como já antecipado pelo mercado, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu nesta quarta (22), novamente por unanimidade, elevar a taxa de juros básica em um ponto percentual. A correção foi de 5,25% para 6,25% ao ano, sendo definida em meio à escalada dos preços de alimentos, combustíveis e energia. A decisão ocorreu também dias depois de o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, garantir que faria “tudo que estiver ao alcance para levar a inflação à meta” e que “o BC levará a Selic vai onde for necessário”. 

Em comunicado, a autoridade monetária sinalizou uma nova alta, da mesma dimensão, na próxima reunião do Copom, marcada para outubro. Lideranças empresariais e economistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio se dividiram em relação à decisão do BC. Para os empresários, o novo aperto na economia veio em hora errada, dada a desaceleração do PIB, em meio a turbulências políticas e mais um aumento de carga tributária, pela alta do IOF. Os economistas argumentam que é necessário conter a inflação, embora concordem que a estratégia não está surtindo o efeito necessário. 

Com o teto da meta de inflação já estourado em 2021, o BC informou, em comunicado, que trabalha para trazer a inflação de volta para o intervalo da meta em 2022 e, “em algum grau”, em 2023. “O Copom considera que, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste [um ponto percentual por reunião] é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques”, destacou o texto.

A elevação da Selic, definida nesta quarta (22), foi a quinta seguida para a taxa, que já está no nível mais alto desde julho de 2019 (6,5% ao ano). O ciclo de altas foi retomado neste ano, depois de os juros básicos da economia atravessarem um intervalo de mais de quatro anos seguidos de cortes e manutenções da taxa – de outubro de 2016 ao final de 2020. De março a junho deste ano, o Copom retomou os aumentos, elevando a Selic em 0,75 p.p. a cada encontro. No início de agosto, fortaleceu o reajuste para 1 p.p. por encontro.  

“Mal necessário”

O presidente do Sindecon-AM (Sindicato dos Economistas do Estado do Amazonas) e consultor empresarial, Marcus Evangelista, assinala que o aumento era mais do que esperado e também necessário. O economista acrescenta ainda que, como o acumulado do IPCA continua subindo, a sinalização é que a Selic também seguirá em rumo de escalada, no curto prazo. 

“Essa é uma estratégia para tentar conter a inflação, o que até agora não surtiu efeito. O objetivo principal é conter o consumo. Mas, em paralelo, teremos impactos diretos em novos investimentos, o que puxa para trás o desenvolvimento do país. É um mal necessário e a Selic deve chegar bem próximo aos dois dígitos em dezembro”, sentenciou.

O consultor empresarial, professor universitário e conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Francisco de Assis Mourão Júnior, também considerou que a medida foi acertada e considerou que a equipe econômica do governo federal está sendo cautelosa, em relação ao comportamento da inflação e do dólar.  

“Está havendo um movimento especulativo no câmbio. É só observar o comportamento das exportações de commodities. Apesar da alta dos juros provocar uma desaceleração, favorecem a entrada de capitais e valorizam o real, ao tornar os títulos públicos mais atrativos. Na verdade, o BC está tentando ganhar tempo, para ver se a economia reage. Mas, acho que ele vai  ter de usar mesmo as reservas cambiais. Isso é inevitável”, vaticinou. 

O também consultor empresarial, professor universitário e conselheiro do Corecon-AM, Leonardo Marcelo Braule Pinto, concorda que a economia está desacelerando e a nova correção dos juros básicos deve contribuir para uma piora nesse quadro, com maior poder de compra do consumidor. Mas também avaliou que a medida foi eficiente, “quando se pensa em números”. 

“Pensando socialmente, o impacto vai ser muito grande nas famílias. Acredito que é uma medida inteligente, mas que vai gerar mais sacrifícios, no curto prazo. A estimativa é que a Selic deve encerrar o ano com Selic de 8%. Vamos ter o ciclo atual alta se encerrando em 2022, com 8,25%”, completou.

“Decisão precipitada”

O presidente da Fieam, Antonio Silva, considerou que, apesar de esperada, a decisão de aumentar novamente a Selic foi “precipitada” e argumenta que, dado o atual cenário de instabilidade econômica, as condições de crédito para consumidores e empresas deveriam ser estimulados, e não inibidos. Na analise do dirigente, contudo, o comportamento dos preços administrados tende a um ponto de equilíbrio, reduzindo o ritmo das altas do custo do dinheiro.

“A decisão de mais um aumento expressivo da Selic vai na contramão e desestimula a demanda, elevar o custo do financiamento de forma relevante. Essa pressão sobre os preços deve ter uma desaceleração gradativa nos próximos meses. Os grupos de preços administrados, industriais e alimentícios deverão se assentar, tão logo tenhamos um reequilíbrio de estoques e da oferta e demanda”, avaliou.

Já o presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, questiona o instrumento da Selic como freio para a inflação, na atual conjectura econômica e lembra que o IOF já está contribuindo para uma elevação da carga tributária que incide sobre o consumo e investimentos. No entendimento do dirigente, ao corrigir os juros para cima, a tendência é de uma piora redobrado nessa dinâmica.  

“O aumento, segundo o BC, tem o objetivo de conter o processo inflacionário, como se isso bastasse. Na realidade, quando você aumenta as oportunidades no mercado financeiro, arrefece o ímpeto nos investimentos. Essa nova elevação se perde na intenção. A gente fica preocupado, porque a crise política já deflagra a valorização do dólar e quebra expectativas do consumidor, com efeitos negativos na economia”, arrematou. 

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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