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Alta dos juros bancários deixam linhas de crédito ainda mais inacessíveis

Os juros dos financiamentos bancários voltaram a embicar para cima pelo mês seguido, na virada do ano. A expansão se deu novamente em todas as linhas de crédito para pessoas físicas e jurídicas, conforme divulgação da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). Para a entidade, diante da volatilidade do cenário econômico atual, os próximos meses reservam novas altas. Dados do BC (Banco Central), por outro lado, já apontam para um aumento na inadimplência das pessoas jurídicas, no Amazonas. 

As estatísticas da Anefac informam que os juros para pessoas físicas avançaram 0,90%, ao passar de 5,56% (dezembro) para 5,61% (janeiro) ao mês –o maior valor desde julho de 2020. O acréscimo para as pessoas jurídicas foi bem maior e chegou a 1,74%, reposicionando o custo do empréstimo de 2,87% para 2,92% mensais –o patamar mais elevado desde agosto do ano passado. As respectivas taxas anuais ficaram em 92,51% e 41,25%. 

Vale notar que o spread bancário ainda situa as taxas de juros bancários em patamar bem distante da Selic, a despeito dos cortes. Considerados todos os movimentos do Copom de março de 2013 (7,25%) a dezembro de 2020 (2%), a taxa básica de juros caiu 72,41%. Na mesma comparação, a média do custo dos empréstimos para pessoas físicas foi na direção contrária e avançou 5,16% –de 87,97% para 92,51%. Para pessoas jurídicas, houve decréscimo, mas este não passou de 5,35%, com 41,25% (2020) contra 43,58% (2013).

O BCl ainda não divulgou os índices de janeiro, mas as taxas de inadimplência nas operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional) no Amazonas já sofreram mudanças, em dezembro, mês em que os juros começaram a subir. Para pessoas físicas, caiu de 3,36% para 3,36%, no oitavo recuo mensal, além de ficar abaixo de dezembro de 2019 (3,80%). No caso das pessoas jurídicas, contudo, o indicador interrompeu uma sequência de seis quedas e avançou de 0,89% para 1,08%, embora tenha correspondido a menos da metade do nível de 12 meses atrás (2,41%). 

A mesma base de dados do BC, por outro lado, indica que o saldo das operações de crédito do SFN ainda aparece crescente, no mesmo período. Para pessoas físicas, dezembro (R$ 19,786 milhões) foi um virtual empate (+0,19%) com novembro (R$ 19,749 milhões), mas 11,47% superior ao dado de 12 meses antes (R$ 17,750 milhões). Para as jurídicas, o volume (R$ 15,831 milhões) cresceu 4,44% sobre o mês anterior (R$ 15,158 milhões) e subiu 35,24% no confronto com novembro de 2019 (R$ 11,706 milhões).

Aversão ao risco

Para o vice-presidente de estudos e pesquisas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, janeiro mantém a tendência de dezembro, com o repique das taxas no crédito bancário sendo puxados pelo aumento dos juros futuros no mercado financeiro, assim como pelas expectativas de novas elevações da Selic frente a uma inflação maior –que pode não se concretizar. Após encerrar 2020 com estouro do centro da meta (+4,52%), o IPCA iniciou 2021 com desaceleração mensal, de 1,35% para 0,25%. 

Outro fator que explicaria as elevações, conforme o dirigente, seria a mudança de sinal nos índices de inadimplência. Em depoimentos nos meses anteriores, Oliveira já vinha reforçando que as condições econômicas para a manutenção do custo do dinheiro em patamares cadentes na ponta do consumo estavam se deteriorando. Contribuiu o conjunto de incertezas decorrentes dos impactos da segunda onda de covid-19 em todo o país, já sem as salvaguardas federais que evitaram uma depressão econômica em 2020. 

“Essa provável inadimplência pode ocorrer por causa do fim das carências nos empréstimos (pausas e carência nas negociações de dívidas); ao desemprego elevado; ao fim do pagamento dos auxílios emergenciais; ao aumento da inflação e seus efeitos na renda, e, por fim, à maior seletividade dos bancos na concessão de crédito”, apontou Oliveira, em texto divulgado pela assessoria de imprensa da entidade.

Tendo em vista a piora do cenário econômico, com maior risco de crédito e da elevação da inadimplência, o vice-presidente de estudos e pesquisas da Anefac avalia que a tendência dos próximos meses é que as taxas de juros devem prosseguir a trajetória de expansão. “Mas, algumas ações do BCl [e do governo federal] podem amenizar estas altas, como redução de impostos, compulsórios e reduções da Taxa Básica de Juros”, amenizou.

Auxílio e vacinação

No entendimento do conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Francisco de Assis Mourão Júnior, o aumento dos juros nas instituições bancárias deve ser confrontado, antes de tudo, com o atual cenário do mercado, que se encontra em um momento de pandemia, grande número de desempregados e sem auxílio emergencial, além de dados estatísticos desfavoráveis para a inflação. O economista assinala, no entanto, que ainda há luz no fim do túnel, mas que esta depende de ações imediatas.

“A própria segunda onda e as incertezas econômicas que pesam sobre ela, além dos números desfavoráveis de emprego, geram aumento de endividamento de consumidores e de pequenas empresas, acendendo uma luz amarela nos bancos. Aí, os juros bancários, que não são os da taxa Selic, acabam funcionando com as próprias forças de mercado: aumenta a inadimplência e, consequentemente, também vai subir o custo do dinheiro. Espero que o possível retorno do auxílio emergencial, assim como a vacinação em massa, possam contribuir para um retorno gradual da atividade econômica para o fim do ano”, finalizou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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