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Alta da IOF impacta venda de veículos no Amazonas

O aumento das alíquotas de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) já está fazendo as concessionarias e lojas de veículos automotores novos, seminovos e usados reverem suas estimativas de crescimento desse ano para baixo. A expectativa é que a medida, cuja validade se encerra em 31 de dezembro de 2021, deve contribuir para depreciar ainda mais as vendas, que já haviam passado do ponto morto para a marcha ré, em agosto, em virtude da falta de oferta. Com isso, os empresários estimam que a tendência de gourmetização do mercado deve se acelerar, nos próximos meses.

As vendas de veículos automotores do Amazonas já vinham de um período negativo no mês passado, quando emendaram uma segunda retração seguida, conforme a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). Em sintonia com a crise de abastecimento de microchips e outros semicondutores nas montadoras, com reflexos na oferta da revenda, o Amazonas vendeu apenas 4.193 unidades, em agosto. Ficou 12,02% abaixo de julho de 2021 (4.766) e correspondeu a um declive de 17,77% ante agosto de 2020 (5.099) – mês em que o segmento já voltava crescer. Em oito meses, o resultado foi positivo em 21,30% (33.187 unidades).

O desempenho foi novamente pior do que o da média brasileira, em que pese o fato de a Fenabrave ter apontado, em comunicado à imprensa, que o período assinalado foi “o pior agosto em 16 anos”. As vendas nacionais recuaram 3,04%, entre o sétimo (309.479) e o oitavo mês de 2021 (294.086), e retraíram 1,84% em relação aos resultados globais de 12 meses atrás (299.599). O acumulado do ano ainda foi positivo em 27,83%, com 2.306.373 (2021) contra 1.804.205 (2020) veículos.

Alta precificada

O mercado já precifica a alta na alíquota do IOF e estima que isso deve pesar na demanda, concessões e inadimplência, nos próximos meses. O Banco Central indica que as operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional seguiu em alta n as concessões nos financiamentos para aquisição de veículos em julho (R$ 13,13 milhões), subindo 4,37% no confronto com junho (R$ 12,58 milhões), em todo o país. Em relação a julho do ano passado (R$ 10,70 milhões), a alta foi de 22,71%.

O mesmo banco de dados aponta, por outro lado, uma aceleração nos índices de inadimplência na mesma carteira, em igual período. Entre junho (3,36%) e julho (3,39%) o percentual de contratos em atraso avançou pelo quinto mês consecutivo. A despeito do viés de alta, a taxa ainda se manteve em patamar abaixo do valor capturado no mês do ano passado (3,96%).

A pesquisa mensal da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) informa, por outro lado, que o CDC para financiamentos de automóveis foi a modalidade de crédito para pessoas físicas com o terceiro maior índice de reajuste em agosto (+1,28%). Perdeu apenas para o cartão de crédito (+1,63%) – a mais cara da lista – e para o empréstimo pessoal (+1,47%). Com isso, a taxa do CDC para veículos passou a remunerar os empréstimos em 1,56% por mês e 20,41% ao ano. 

Mercado gourmetizado

Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o sócio diretor da Kodó Veiculos, Diogo Augusto Maia da Silva, já havia assinalado que agosto conseguiu ser pior do que julho e junho, e que o problema de estrangulamento de oferta por desabastecimento de mercado veio acompanhado por um leve recuo na procura por automóveis zero, na categoria de “carro popular”. 

O oposto ocorreria nos produtos de luxo, como SUVs, onde a oferta é comprometida por um tempo acional de espera de 15 a 30 dias, já que não é incomum a venda ocorrer com o veiculo ainda em trânsito. Trata-se de um prazo considerado significativo pelo mercado amazonense que, em virtude da distância dos fornecedores, e do nó logístico da região, já sofre com o transit time (tempo de trânsito) entre faturamento e emplacamento, um hiato de tempo que pode durar 30 dias.

Em nova entrevista, o empresário avaliou que, em paralelo com a escalada dos juros e a maior seletividade dos bancos na concessão dos financiamentos, o encarecimento do crédito por um IOF mais encorpado deve contribuir deixar o consumidor de menos renda a pé. Por conta disso, a empresa já corrigiu sua projeção de crescimento anual, de 30% para 10%. “As fábricas estão dando foco em carros de luxo e o mercado ainda está bem aquecido aí. Mas, o financiamento encareceu muito. Esperamos que aconteça uma retração, pelo aumento dos juros e do IOF, já que a parcela ficou mais cara”, resumiu.

Indagado se o aguardado arrefecimento da demanda pode contribuir para um equilíbrio com a oferta, o sócio diretor da Kodó Veiculos não excluiu a hipótese de que a produção siga encolhendo. “Acho que, até meio de 2022, ainda sofreremos com a falta dos carros. Teoricamente, a procura sobe nos meses de outubro, novembro e dezembro. Mas, vamos sentir com esse aumento o que vai acontecer”, ponderou.

Usados e seminovos

A situação não é diferente no segmento de usados e seminovos, que vinha sendo beneficiado pelo estrangulamento na oferta de automóveis zero quilômetro, dado que a espera por um carro novo vinha levando o cliente a fechar a compra de um veiculo de segunda mão à pronta entrega. O sócio e diretor administrativo da Daniel Veículos, Yuri Barbosa, contou à reportagem do Jornal do Commercio que, depois de um agosto “atípico”, com vendas na casa dos 30%, setembro já sinaliza um refluxo no caixa, com vendas “abaixo do esperado”.

De acordo com o empresário, os reajustes da Selic, assim como o aumento da carga tributária do IOF contribuíram para a desaceleração. Barbosa ressalta que as taxas de aprovação dos bancos “continuam elevadas”, mas já com parcelas “mais caras”, em função do imposto mais alto, e já com efeitos em uma virtual redução na busca por crédito. Com isso, o sócio e diretor administrativo da Daniel Veículos informa que também já está refazendo suas contas e já aguarda um resultado menor nas vendas, para o fim do ano.

“Projetávamos um crescimento de 20% a 25% em relação ao segundo semestre de 2020. Mas, já reduzimos para 15%. Acredito que, para o segmento mais popular, a tendência seja equilibrar. Mas, para os produtos voltados ao consumidor de alta renda, é mais difícil que isso aconteça, porque grande parte desses clientes não recorre a financiamentos e costuma pagar à vista. A produção deve se manter assim até final do ano e, a partir do segundo trimestre de 2022, deve começar a haver equilíbrio entre oferta e demanda”, finalizou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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