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Aliados do presidente Lula vão se enfrentar no Amazonas em 2010

Jornal do Commercio – Como se encerrou o ano de 2009 para a política do Amazonas? Em sua opinião já estão formados os grupos políticos que vão se enfrentar em 2010?

Antônio Oliveira – Como o calendário eleitoral foi adiantado, o ano político se encerra com uma forte tendência a preparação das candidaturas que irão disputar o poder político em 2010. E, nesse cenário, o desenho das candidaturas regionais são diretamente atravessadas pelas decisões e articulações nacionais que já estão em curso, sobretudo das candidaturas vinculadas ao governo federal e a principal força da oposição.
Em âmbito nacional, se encerra com a definição de pelo menos três candidaturas presidenciais: Dilma Roussef (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). E com o lançamento de pelo menos mais duas pré-candidaturas, que buscam ocupar espaço político no quadro das possíveis variáveis, produto da dinâmica entre as forças políticas existentes: a candidatura de Ciro Gomes (PSB) e de José Maria de Almeida (PSTU).
Dilma projeta-se como a candidata de Lula, cujo governo vem sendo bem avaliado pela maioria dos eleitores. Serra, embora não tenha dado sua palavra final, é o candidato do PSDB, com a missão de disputar, pela direita, o espaço de oposição. Marina, que rompeu recentemente com o governo, busca aparecer como uma alternativa com uma forte apelo à defesa ambiental. Os três, embora em disputa, são vertentes de uma mesma matriz de política econômica, se diferenciando apenas em algum aspecto. Ciro, também da base de sustentação do governo, mantém sua candidatura como uma espécie de segunda possibilidade no caso de Dilma não conseguir emplacar ou como uma forma de garantir sua candidatura ao governo de São Paulo. A candidatura de Marina Silva colocou alguns problemas no tabuleiro político, na medida em que tende a quebrar o tom plebiscitário de duas candidaturas, tão almejado pelo governo, em que seria dado ao público escolher entre os oito anos de Lula contra os oito anos de FHC. E, por outro lado, embaralha as possibilidades de uma Frente de Esquerda que, nas últimas eleições, com Heloísa Helena, candidata a presidente, obteve mais de 6 milhões de votos, obrigando ao PSOL seguir indefinido e tendendo a apoiar a candidatura do PV e, obrigando o PSTU a lançar sua pré-candidatura, para garantir o espaço a esquerda que haviam conquistado anteriormente.
A situação nacional influi diretamente nas candidaturas locais, cujo quadro ainda está indefinido. O fato é que o governo federal precisa garantir uma candidatura regional que dê sustentação à candidatura de Dilma Roussef, ou seja, garantir um palanque que canalize votos. Nesse sentido, considerando estritamente o desempenho eleitoral, temos o desenho de quatro fortes candidaturas: Alfredo Nascimento (PR), Omar Aziz (PMN), Amazonino Mendes (PTB) e do ex-prefeito Serafim Corrêa (PSB). As quatros possibilidades pertencem ao amplo caudal da base de sustentação do governo. A indefinição dessas candidaturas, com exceção da candidatura de Alfredo Nascimento, que já disse com todas as letras que é candidato definido, segue como uma espécie de cálculo político, para garantir um lançamento seguro e em melhor condições para acaudilhar apoio e alianças. Já o PSDB, liderado pelo Senador Arthur Neto, segue com dificuldade, uma vez que seria quase impossível repetir a aliança das eleições passadas, quando esteve com o candidato do PSB, Serafim Corrêa. Por outro lado, está ameaçada a reedição da Frente de Esquerda também no plano local.

JC – Destes grupos, qual é, na sua opinião, o mais forte e qual tem mais possibilidade de crescer?

Antônio Oliveira – As candidaturas que têm o apoio de fortes aparatos tendem a capitalizar bons resultados eleitorais. Por isso, aquelas que contarem com o apoio tanto do governo federal, quando do estadual ou municipal vão estar com uma boa margem de vantagem em relação a qualquer outra candidatura. Mas, as alianças eleitorais, o tempo de TV e rádio, são também decisivos para um bom desempenho eleitoral. Das possíveis candidaturas quase todas contam com um desses elementos. Alfredo Nascimento (PR) conta com o apoio declarado de Lula e Dilma, é presidente do seu partido, tem um trânsito nacional e é ministro dos transportes, um dos maiores orçamento entre os ministérios. Entretanto, vai precisar explicar ao eleitorado seu desempenho em relação as estradas e aos portos que tanto prometeu. Omar Aziz é vice-governador, se sair candidato vai contar com o apoio de Eduardo Braga, que tem se notabilizado, até como uma peça de marketing, pela preocupação ambiental. Amazonino Mendes, é o atual prefeito. Entretanto, desde o início de seu governo vem tendo dificuldades. Primeiro com a justiça eleitoral, quase sendo cassado sob a acusação de compras de votos, um processo que ainda deve se estender ao TSE. Depois, desferindo um duro golpe no movimento estudantil, ao extinguir uma conquista histórica – o uso da meia-passagem. Envolveu-se também em conflitos com camelôs, kombeiros, motoqueiros, taxistas e, por último, fez aprovar uma taxa bastante amarga para o eleitorado. Serafim Corrêa, que pode ser considerado o principal responsável pelo retorno de Amazonino à Prefeitura, ironicamente, pode ser beneficiado pelo desempenho atual de seu principal adversário nas últimas eleições. Tem voltado à mídia justamente fazendo contraponto a administração de Amazonino.

JC – Quais são as perspectivas para o ano de 2010 no âmbito político?

Antônio Oliveira – A crise econômica, do final de 2008 e inicio de 2009, e a crise política, do primeiro semestre, protagonizada pelas denuncias contra Sarney e o caso Lina Vieira, envolvendo Dilma Roussef, representaram desgaste que o governo procurou superar para manter o controle da situação. Com o crescimento de 1,9% no segundo trimestre, o governo anunciou o fim da recessão. Por outro lado, a recuperação parcial da economia internacional repercute favoravelmente e mantém perspectiva positiva para além das eleições.
O governo Lula vem surfando bem, até agora, na crise. Toma medidas tipo Programa casa popular, redução de IPI, bolsa família, para preservar o capital eleitoral, e tem conseguido. Por isso, é muito provável que se mantenha a situação positiva atual.
Essa é a primeira eleição, em relação a 2002 e 2006, em que Lula não será mais o candidato. É a primeira eleição do governo de Frente Popular, sem Lula. Por isso a campanha foi antecipada para 2009. Dilma Roussef que representa esse projeto de Frente Popular, não tem a origem e nem o carisma do ex-dirigente sindical. Vai precisar de muito mais que um ambiente de tranqüilidade econômica para se credenciar junto aos amplos setores de massas. Vai exigir do governo e de Lula todo o peso do aparato e do prestigio que ele mantém entre a grande maioria da população.
A oposição de direita, conduzida por Serra, está em plena campanha. Deve aproveitar cada desgaste do governo para potencializar sua ascensão eleitoral. O episódio Sarney, o desgaste de Dilma, no caso Lina Vieira, os blecautes que ocorreram e outras situações, fornecem combustível para a oposição no processo sucessório. Serra é a candidatura natural da oposição burguesa e pode acabar capitalizando um possível desgaste do governo. No entanto, essa candidatura, enfrenta o grave problema da alta popularidade do governo e da sua falta de discurso, uma vez que o governo atual encampou o seu programa. Além disso, o governo vai explorar a seu favor, a recuperação econômica a descoberta do Pré-Sal, e etc.
Nesse cenário de polarização entre Dilma e Serra, tão desejado pelo governo, surge a candidatura de Marina Silva, como uma incógnita, e pode embaralhar o processo eleitoral. Marina é uma figura de peso, com seu perfil de luta ambiental, de origem humilde e aparência ética – e que já vem sendo inflado pela mídia, possibilitando uma terceira via. Essa candidatura não ocupa somente uma parte do espaço governista, ocupa também da oposição e, especialmente da oposição de esquerda. As perspectivas são portanto de um cenário em que a disputa eleitoral se dê em um campo favorável ao governo mas não sem dificuldades, dado a ausência direta de Lula na disputa, e com uma oposição burguesa principal, na figura de Serra, procurando aproveitar o desgaste do governo para se apresentar como aqueles que fariam melhor e, atravessado pela candidatura de Marina, com um forte viés ambientalista e ético.

JC – Em sua opinião, Amazonino Mendes ainda tem chance de voltar a ser governador?

Antônio Oliveira – Os fatos apontados no balanço eleitoral parecem tecer um quadro eleitoral bastante difícil para o prefeito Amazonino Mendes se lançar com sucesso ao governo do Estado. Talvez por isso, como parte de um cálculo político, ele tenha enfatizado publicamente que não é candidato. No entanto, não se deve esquecer que ele foi eleito prefeito com um alto percentual de votos (57,13%) e que agora se trata de uma eleição para todo o Amazonas. Além disso, se houver tempo, ele pode a frente da prefeitura, estabelecer uma agenda positiva de inauguração de obras e ir colocando a culpa das mazelas na herança de seu antecessor. Essa é uma receita que tem sido muito utilizada. No momento, pode-se dizer que ele tem um difícil caminho a percorrer.

JC – O senhor acredita que a candidatura do vice-governador, Omar Aziz, apoiado por Eduardo Braga, seja viável mesmo que o candidato do presidente Lula seja Alfredo Nascimento?

Antônio Oliveira – Com essa hipótese, podemos considerar o seguinte: ambos compõem a base de apoio de Lula e certamente, mesmo em palanques opostos, buscarão se beneficiar do cenário positivo que tem caracterizado o governo federal. Os dois contarão com fortes aparatos e estarão sendo apoiados diretamente por líderes que detém um capital eleitoral bastante denso. Portanto, são candidaturas que tendem a ser competitivas.

JC – Em sua opinião, ainda existe futuro político para os irmãos Souza?

Antônio Oliveira – A reabilitação de políticos que foram cassados e cometeram vários tipos de crimes não é algo incomum no nosso país. Há casos em que embora os indícios sejam notórios, nem sequer são investigados. Sem entrar no mérito das acusações, dos processos e dos crimes que os irmãos Souza teriam cometidos, é importante ressaltar, como exercício de análise política, a fragilidade das instituições e o silêncio quase absoluto da sociedade civil diante desses casos – que tem sido recorrente também aqui no Amazonas. Isto por si só, já responde a pergunta. A cassação de Wallace Souza não significou um ato de independência da Assembleia, como foi festejado por alguns poucos estudantes em frente aquela casa. Por outro lado, a inexistência de setores organizados no interior da sociedade civil que cobre e garanta uma memória histórica, permite que muitos desses que praticam os crimes retornem a vida pública, às vezes, como vítima.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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