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Ainda há muito a fazer

Brasileiros em geral não gostam de receber críticas. Ao invés de considerá-las pelo lado construtivo, como uma espécie de bússola para mudança ou reestudo de rumo, a classe média, os governantes, as lideranças e os burocratas em geral as encaram como ofensa pessoal. Gostam muito mais de elogios, subserviência e salamaleques.
A propósito, o articulista Martin Wolf, comentarista econômico de grande prestígio na imprensa mundial, em recente artigo publicado no jornal Financial Times, tece comentário sobre a necessidade de o Brasil se esforçar mais para acompanhar os outros países do grupo BRIC. Uma crítica construtiva – principalmente quando se avolumam ufanismo e auto-enganos – que começa lembrando a velha piada: o Brasil é o país do futuro e sempre será. Desde que o escritor austríaco Stephen Zweig escreveu o livro “Brasil, País do Futuro”, passou a ser costume usar o título como metáfora do dilema brasileiro de tornar-se uma nação desenvolvida.
Diante de todas as mudanças ocorridas na economia nos últimos dois governos (FHC e Lula), será que o Brasil deu um salto e se tornou o país do presente? Wolf escreve: “A resposta é afirmativa, mas só até certo ponto. O país continua longe de se equiparar ao desempenho de Índia e China. Deveria se sair muito melhor”. As grandes realizações nos últimos 15 anos se referem à estabilidade política e econômica. Mas ainda há muito a fazer.
Sob as presidências de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula, conquistou a estabilidade democrática. O ciclo militar, encerrado em 1985, parece distante. Sob o Plano Real, a inflação foi por fim controlada. Depois de reduz-la por meio de uma taxa de câmbio flutuante, o Banco Central baixou a taxa de juros de referência de 45% a apenas 8,75% em 2009. A estabilidade se ancorou na valorização da moeda e no acúmulo de reservas cambiais, que chegaram a US$ 235 bilhões em fevereiro de 2010, ante os US$ 33 bilhões em janeiro de 1999. Mas estabilidade não significa dinamismo. O crescimento médio da economia foi de apenas 2,9% ao ano entre 1995 e 2009.
Apesar de a taxa alta de crescimento esperada para 2010 (acima de 7%), as projeções do FMI apontam para uma taxa média anual de 4,5% no período 2010-2013, bem abaixo daquela da China e da Índia. O fracasso do Brasil na redução da desigualdade de renda é igualmente importante. Na China, em 1980, a renda per capita (com base em paridade de poder de compra) equivalia a apenas 7% da brasileira, enquanto a indiana equivalia a 11%. Entre 1995 e 2009, a elevação na renda brasileira foi de apenas 22%, ante 100% na Índia e 226% na China. Como resultado, a parcela brasileira na produção mundial caiu de 3,1% em 1995 para 2,9% em 2009. A China saltou de 5,7% para 12,5%, e a Índia, de 3,2% para 5,1%.
O que se vê é a ascensão dos países IC, não dos BRIC como um todo. Será que o Brasil conseguirá se sair melhor? Para isso, terá de superar as imensas desvantagens estruturais. A mais importante é o nível baixo de poupança. Em 2008, de acordo com o Banco Mundial, a poupança bruta do país equivalia a apenas 17% do PIB, diante dos 38% da China e os incríveis 54% da Índia. Além disso, 45% das exportações de mercadorias brasileiras em 2008 envolviam produtos industrializados, ante 63% na Índia e 93% na China. O mercado interno por si só não dá escala para um processo de industrialização sustentável.
Na oportunidade, não se poderia deixar de fazer referência ao nível extremamente baixo de escolaridade dos brasileiros, não comentado no texto de Wolf. Apesar dos inegáveis esforços dos últimos governos, ainda não foi feita a tão esperada Revolução Educacional. Somente com sua realização o Brasil poderá ser de fato uma sociedade próspera, menos desigual e mais justa. Na sociedade do conhecimento, educação de qualidade é um requisito indispensável, essencial. Muita coisa ainda precisa ser feita para que esse sonho possa tornar-se real. Façamos votos de que os próximos governos persigam obstinadamente a realização desse objetivo.

Fome no Brasil
Apesar do esforço do governo e do crescimento da produção de alimentos, o Brasil ainda não eliminou a fome entre seus 190 milhões de habitantes. Dados do IBGE mostram que a fatia dos que não se alimentavam suficientemente atingia 46,7% da população no levantamento de 2002-2003, embora esse percentual esteja se reduzindo em todas as regiões. Fome zero ainda não é uma realidade no país, mas o acesso das famílias brasileiras à comida vem aumentado de modo significativo nos últimos sete anos. Ainda que 35,5% das famílias vivam em situação de “insuficiência da quantidade de alimentos consumidos”, segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar de 2008-2009, o percentual é inferior ao apurado na pesquisa anterior, referente a 2002-2003, quando os alimentos eram insuficientes para 46,7% das famílias. Nas áreas mais pobres 50% das famílias ainda não comem o que necessitam, mas houve redução da fome em todas as regiões. Os destaques ficaram com o Sudeste – onde os alimentos não eram suficientes para 43,4% das famílias em 2003, enquanto em 2009 essa situação baixou para 29,4% – e o Norte (de 63,9% para 51,5%). Vale notar que, conquanto estejam comendo mais, os brasileiros ainda não conseguem escolher sempre os alimentos consumidos. Apenas 35,2% consomem sempre os alimentos “do tipo preferido”, enquanto 52% nem sempre conseguem comer o que querem. Outras 12,9% das famílias “raramente” consomem o tipo preferido de comida. Os próximos governos ainda têm muito a fazer para eliminar a fome no país.

Celular pré-pago mais caro da AL
Segundo dados da pesquisa realizada pelo Dirsi (Diálogo Regional sobre a Sociedade da Informação), o Brasil tem a tarifa de celular pré-pago mais cara da América Latina e do Caribe, quase o dobro do segundo colocado – Honduras. De acordo com o estudo, o gasto do brasileiro com celular pré-pago foi de US$ 45 no segundo trimestre do ano passado, 75,2% a mais do que Honduras, o segundo país com maior custo na América Latina, US$ 25,69. Foram pesquisados 20 países do Caribe e da América Latina. Em comparação com a Jamaica, que tem o menor custo do continente (US$ 2,21), a diferença é de mais de 20 vezes. Os preços considerados são referentes à utilização de um aparelho pré-pago para a realização de 360 ligações e envio de 395 mensagens. No geral, as tarifas na América Latina são mais altas do que em outros lugares do mundo. Os gastos com celulares pré-pagos dos latino-americanos são, em média, de US$ 15. Em países membros da OCDE, que inclui Europa e Estados Unidos, o gasto médio é de US$ 13,50, enquanto nos países asiáticos é de US$ 3,60. Diante de tal cenário, conclui o estudo, o tempo de uso dos celulares pré-pagos ainda é baixo na região, sobretudo, no Brasil – apesar de os pré-pagos serem a maioria entre os usuários. O tempo gasto pelos latino-americanos com serviços disponíveis nos celulares é de 116 minutos por mês, enquanto na África é de 129 minutos e na região da Ásia–Pacífico, de 290 minutos.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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