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Aguinaldo Figueiredo destaca influência estrangeira em Manaus

O professor e historiador Aguinaldo Figueiredo acabou de lançar o livro ‘Nos caminhos da alegria – roteiro histórico e sentimental da boemia de Manaus’ e já prepara a publicação de ‘A indústria no Amazonas – memorial histórico’. Especialista em fatos históricos de Manaus, Aguinaldo falou sobre quem foram e são os estrangeiros que vêm para a cidade, desde seus primórdios e de que forma influenciaram o comércio e a economia local.

Jornal do Commercio: Os portugueses foram os primeiros comerciantes de Manaus. Qual era o seu ramo de negócios?

Aguinaldo Figueiredo: Desde os tempos coloniais eles se estabeleceram no vilarejo da Barra comercializando as chamadas ‘drogas do sertão’ (cacau selvagem, baunilha, salsaparrilha, ervas medicinais e condimentos, madeiras, pirarucu seco e banha de tartaruga), muito valorizados na Europa, e trocados por bugigangas e produtos que os navios traziam do reino a exemplo de vinhos, tecidos, queijos, espelhos, utensílios domésticos ferramentas e armas para uso dos colonos. Durante toda a história de Manaus, os portugueses tiveram participação muito forte no comércio da cidade. Vários deles se destacaram, dentre eles o mais famoso, considerado o maior de todos pela dimensão que seus negócios alcançaram, Joaquim Gonçalves de Araújo, o comendador JG Araújo.

JC: Os judeus vieram em seguida, da Espanha e Portugal, e se tornaram regatões.

AF: Estes chegaram à época da exploração das heveas. Judeus, sírios e libaneses se estabeleceram na capital comercializando tecidos, armarinhos e jóias. Os regatões eram os comerciantes aquáticos que circulavam os rios da Amazônia vendendo produtos diversos (armarinhos, como tecidos, linhas, botões e agulhas de costura, bastidores e anzóis entre outros), mas não competiam com o seringalista, o dono do barracão do seringal que vendia o grosso das mercadorias utilizadas no seringal tais como alimentos, armas, ferramentas e produtos do consumo (principalmente carnes enlatadas, açúcar e sal) das famílias que viviam no local numa transação criminosa que servia de controle contra o trabalhador endividado impedido de deixar o local sem quitar uma dívida impagável. O alvo do regatão era o ribeirinho autônomo que vendia, clandestinamente, a borracha e outros produtos fora da pauta dos grandes comerciantes da cidade.

JC: No auge do comércio da borracha vieram ingleses, italianos, americanos e alemães.

AF: Os ingleses comercializavam produtos de eletricidade, de metalomecânica de apoio à navegação e os projetos que desenvolviam na capital, além de fornecerem produtos de metalurgia, de embelezamento urbanístico como chafarizes e peças ornamentais das praças e casas sofisticadas. Os franceses dominaram o mundo da moda, da perfumaria, do vestuário feminino e masculino, das jóias e bijuterias, das bebidas finas e da gastronomia. Os italianos se dedicaram ao ramo de rotisserias, padarias, hotelarias, restaurantes, calçados finos e bebidas finas. Os americanos se especializaram no fornecimento de armamentos, de máquinas de escrever, de produtos de iluminação (lampiões e candeeiros) e os alemães no fornecimento de máquinas em geral e produtos fotográficos e de tipografia.

JC: Como surgiu a história dos turcos na rua Marechal Deodoro? Quem eram eles?

AF: Nas décadas de 1970, com o advento da Zona Franca, as ruas do Centro e de alguns bairros como o Educandos, foram ocupadas por grande número de comerciantes do Oriente Médio, a maioria sírios, turcos e libaneses, explorando o ramo de tecidos e armarinhos. Logo ficaram conhecidos como ‘turcos’. Segundo a lenda urbana, esses negociantes, quando viam seus negócios falirem, com a intenção de receber o seguro das lojas, ateavam fogo nas mesmas, na calada da noite, perdendo toda a mercadoria (ou não) alegando que a causa do sinistro teria sido um curto circuito. O manauara, sabedor das malandragens, logo denominou tais ocorrências de ‘turco circuito’.

JC: Japoneses surgem na década de 1950, na agricultura, e com mais força com a vinda da Zona Franca, a partir de 1970, na indústria.

AF: Até hoje os investimentos nipônicos no Polo Industrial de Manaus são, de longe, os mais expressivos, perfazendo um total de 45% de todo o montante. Mas eles também abriram grandes lojas de produtos orientais onde comercializavam eletroeletrônicos, motocicletas, automóveis, relógios, filmadoras, máquinas fotográficas, tecidos orientais, artigos de culinária, além de instalarem grandes supermercados e se tornarem hortifrutigranjeiros. Tinham representantes de seus produtos na cidade (joint ventures) como as lojas Credilar, revendedora dos produtos da Moto Honda; e as lojas TV Lar, de José Azevedo, representante da Yamaha.

JC: Qual desses povos deixou um maior legado, em Manaus, na cultura, na gastronomia, no comércio?

AF: Sem dúvida, os ingleses. Até os dias de hoje essa influência se vê nos prédios, nas pontes e no porto da cidade. No Centro ainda funciona o sistema de esgoto construído por eles, que também fizeram o sistema elétrico e dos bondes que percorriam a cidade. Os franceses deixaram as casas de diversões baseadas nos grandes espetáculos do teatro e cinema, o mercado municipal e os prédios estilizados do Centro. A cultura sofreu influências francesas na educação e nos costumes, mas isso tudo desapareceu. Quase todos os povos que vieram para Manaus deixaram suas marcas em algum destaque na vida da cidade, seja na linguagem ou nos costumes, a exemplo dos nordestinos, que em um momento ímpar da história da cidade, tiveram influência decisiva na sua formação social. A maioria deles exerceu o ofício de comerciantes ambulantes, conhecidos como ‘marreteiros’, agora camelôs.

JC: Atualmente destacam-se no comércio, chineses, haitianos e venezuelanos.

AF: Os chineses de Taiwan e do continente estão tomando conta dos pequenos comércios do Centro. Vendem de tudo e ainda fornecem para os camelôs. Apesar da qualidade duvidosa de seus produtos, encantam o povo pelo preço muito abaixo dos concorrentes e assim ganham o mercado. Haitianos e venezuelanos estão ocupando alguns espaços na periferia e concorrendo com os ambulantes do Centro, vendendo quinquilharias, alimentos, água e até mesmo substâncias proibidas.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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