Pelo menos 32 plantas industriais encerraram as suas atividades em Manaus, sendo a maioria do setor de componentes, diante da crise que se arrasta desde o ano passado, segundo informações da Aficam (Associação das Empresas de Componentes do Pólo Industrial de Manaus). A crise está fazendo a associação definir o Polo Industrial de Manaus como um “cemitério de empresas”. O alerta ocorre na mesma semana em que a entidade se reuniu com a Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) para buscar definições sobre o plano de competitividade que está sendo elaborado na tentativa de resgatar o polo de duas rodas de Manaus, que apresenta constantes baixas desde 2012, e discutir alterações nos PPBs (Processos Produtivos Básicos) do PIM.
O presidente da Aficam, Cristovam Marques Pinto, destaca que essa desmobilização das fábricas no PIM tende a se agravar e cobra uma medida urgente da Suframa. “Deveríamos, ao invés de comemorarmos recordes de importações, refletirmos de que nada tem de positivo permanecer esse crescimento. Isso significa que estamos deixando de adquirir componentes possíveis de aqui serem produzidos, para criar empregos nos países exportadores”, ressalta. Segundo Cristovam Marques, há alguns anos atrás não havia imóveis disponíveis para a instalação de novas empresas e agora, não está aparecendo quem queira alugar os imóveis desocupados.
Duas Rodas
As reuniões, que voltarão a ocorrer no final do mês de abril, buscaram alavancar o setor, que apresentou perda de faturamento de 19% ano passado e contou com a participação de empresas fabricantes de bens finais, componentistas, entidades de classe da indústria, sindicatos e órgãos governamentais. O Polo de Duas Rodas é responsável pelo segundo maior faturamento do PIM com 20,42% do faturamento, perdendo apenas para os eletroeletrônicos com 34,2%.
Segundo dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) em março de 2013 foram emplacadas 123.838 motocicletas no país. No mesmo período do ano passado foram 165.686 emplacamentos. O que dá uma baixa de 25,26% no número de motocicletas. No acumulado do ano foram emplacadas 352.117, número 20,23% menor do que o registrado nos três primeiros meses de 2012, onde foram emplacadas 442.545 motos. Em janeiro de 2013 foram produzidas 124.738 motocicletas, resultado que só supera o de 2009, ano da crise internacional. Em fevereiro foram emplacadas 101mil motos no país, pior número desde fevereiro de 2006.
Com o plano de competitividade espera-se definir medidas que possam promover melhorias no setor através de um comitê que além da Aficam conta com a Simplast (Sindicato das Indústrias de Material Plástico de Manaus), Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), Simefre (Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários), Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Mcti (Ministério da ciência, tecnologia e inovação), Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares) e Governo do Amazonas. Os grupos de ações definidos até o momento estão centrados em temas como tributação, logística e redução de custos.
PPBs
A proposta da Suframa em relação aos PPBs é centrada, principalmente, no adensamento da cadeia produtiva e simplificação de regras e conceitos presentes. Para o superintendente adjunto de projetos da Suframa, Gustavo Igrejas, um dos pontos mais negativos nos últimos meses foi à elevação da participação de insumos importados na produção. Ele ressalta que no nicho de motocicletas de alta cilindrada houve um processo de desverticalização claro e preocupante. “Precisamos rever e recuperar isso. A Suframa não pode deixar sob risco um segmento que é extremamente importante para a região. Temos consciência da crise que o setor está passando. Entendemos que o momento é propício sim à revisão dos PPBs e vamos buscar a forma mais harmoniosa possível, para definir as novas regras”.
Segundo a Suframa houve avanços significativos na discussão dos PPBs durante as reuniões, sendo apresentadas minutas iniciais da proposta de alteração nas Portarias Interministeriais de partes e peças (Portaria nº 182, de 2004) e de produtos acabados (Portaria nº 195, de 2011).
Qualificando como “nefasta” a atual situação do PIM, o presidente da Aficam, Cristovam Marques cobra a Suframa e ressalta a importância de rever e alterar os PPBs de forma mais eficaz. “Entendemos que isso é vital para a revitalização do PIM. Os resultados alcançados são extremamente tímidos”, disse.
Suframa aposta em revisão dos PPBs
A Suframa explicou, por meio de nota, que o plano de competitividade para o setor de duas rodas tem como principais objetivos solucionar entraves burocráticos, logísticos e tributários e reduzir custos diretos e indiretos para as empresas atuantes no segmento na Zona Franca de Manaus. Para viabilizar isso, empresas, entidades de classe, sindicatos e órgãos governamentais estão trabalhando em forma de comitê para formular propostas que serão levadas posteriormente aos ministérios e órgãos pertinentes. Até o momento foram realizadas duas reuniões e a próxima está agendada previamente para o final de abril. No momento, cabe à Suframa a liderança desse comitê e a organização de todas as propostas e ações a serem desenvolvidas.
Sobre a revisão dos PPBs do segmento –tanto de motocicletas (bens finais) quanto de seus componentes, partes e peças –, a Suframa informou que as discussões tiveram início em fevereiro e têm como principal missão adensar a cadeia produtiva do setor, fomentando a maior compra de partes e peças regionais e nacionais, e também fazer os devidos ajustes que se fazem necessários tendo em vista o desempenho e a situação atual do polo. As mudanças que ocorrerão nos PPBs ainda estão em discussão, mas já há algumas propostas mais consistentes sendo avaliadas e discutidas. A próxima reunião para discutir os PPBs também está marcada previamente para o final de abril. (Colaborou Tanair Maria)
ZFM continua atraente para empresas, diz Périco
De acordo com o presidente Cieam (Centro das Indústrias do Estado do Amazonas), Wilson Périco as empresas do setor de componentes vem sofrendo com crise do polo de duas rodas, mas o fato não é determinante para o encerramento de atividades na ZFM que continua atraente. “A crise que prejudicou o setor de Duas Rodas também afetou os setor componentistas que participa da cadeia produtiva como fornecedora de insumos. Mas, não levou a um fechamento significativo de empresas nem em 2012 quando a crise se instalou, nem este ano”, diz.
Périco ainda exemplifica com o caso da empresa Foxconn que em dezembro do ano passado fechou a fábrica e demitiu cerca de 300 funcionários. Até então, a fábrica na Zona Franca era a principal fornecedora de componentes e subconjuntos de plástico para celulares da Nokia. “Após a mudança nas regras de importação, a empresa começou a importar as peças da China e da Índia. Mas a Fo xconn, produzia peças para 16 itens dos aparelhos da Nokia. Agora a previsão é de fabricar apenas quatro itens em 2013. O que de fato aconteceu, foi o fechamento de uma parte da linha de produção de itens específicos da empresa”, explica Périco.
