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Ações para combater o desperdício e a fome

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Dá prazer caminhar pela feira da Manaus Moderna e ver a fartura de frutas, verduras e outros produtos amazônicos postos à venda. Mas essa fartura tem outro lado nada positivo. Os produtos que são descartados e simplesmente jogados no lixo, seja porque têm um pequeno pedaço estragado, ou estão amassados devido o transporte, ou ainda porque chegaram outros novos e frescos.

Cálculos da Sepror (Secretaria de Produção Rural do Amazonas) estimam que, reunindo todas as feiras de Manaus, 90 toneladas/mês de seus produtos são descartados.

“Ao fazer compras aqui na Manaus Moderna, observei que os feirantes têm uma caixa do seu lado onde, ao longo do dia, vão jogando fora os itens não comerciais. No final do dia a caixa está cheia de muita coisa que dá para se aproveitar”, contou o professor Carlos Henrique Silva da Conceição, assessor do secretário da Sepror, Petrúcio Júnior.

A maioria dos feirantes até aceita doar esses descartes para instituições beneficentes, mas as leis brasileiras dificultam essa ação. Se um estabelecimento qualquer (feira, supermercado, restaurante) doar as sobras a uma instituição e depois esse alimento causar alguma doença, é o próprio doador que será responsabilizado.

“Há três anos comecei o projeto ‘Logística Reversa e Solidariedade’, com meus alunos da universidade, no qual eles me ajudavam a recolher esses alimentos e doar para instituições beneficentes. Quando comecei a trabalhar na Sepror, há um ano, ampliamos o projeto, pois passamos a ter o apoio da prefeitura de Manaus através da Semac (Secretaria Municipal de Coordenação e Administração nos Bairros), do Sindicato dos Feirantes de Manaus, e do Mesa Brasil Sesc. Nosso slogan é ‘Não haverá paz enquanto houver fome’”, destacou.

O Mesa Brasil Sesc é uma rede nacional de bancos de alimentos contra a fome e o desperdício. Trata-se essencialmente de um Programa de Segurança Alimentar e Nutricional, baseado em ações educativas e de distribuição de alimentos excedentes ou fora dos padrões de comercialização, mas que ainda podem ser consumidos.

“O Mesa Brasil não vai de encontro à lei porque os alimentos por nós recolhidos passam por um processo de avaliação e triagem pelo pessoal do Sesc”, explicou.

 

Mais de 100 instituições

Em dois dias da semana, terça e quinta-feira, Carlos Henrique, junto com funcionários do Sesc, visitam a feira da Manaus Moderna, e aos sábados a feira da ADS (Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas), no shopping Ponta Negra. Como os feirantes já sabem da ação, estão com seus produtos separados, em sua maioria, itens substituídos por outros novos e frescos, mas ainda em perfeitas condições de consumo.    “Nem sei quantos itens recebemos, é pimenta de cheiro, pimentão, pepino, limão, laranja, entre vários outros. Agora estamos batalhando para conseguir um caminhão frigorífico para recolher peixes e carnes”, adiantou.

Os produtos são levados para o Balneário do Sesc onde é feita triagem e as instituições inscritas no projeto são avisadas para irem lá pegar sua parte. De fevereiro a julho deste ano, o trabalho do pequeno grupo já recolheu e doou 18 toneladas de alimentos.

“Atendemos mais de 100 instituições, entre associações de moradores, de mães, escolas, clube de idosos e beneficentes. Ano passado eram 203, tinha até instituição do interior, mas houve um corte de verba e tivemos que reduzir o número”, falou Patrícia Sales dos Santos, estagiária do Sesc.

“Coletamos mais de uma tonelada de produtos por semana. Avisamos às instituições, de acordo com suas necessidades. Elas vão ao Sesc e pegam as frutas, verduras e legumes”, completou.

 Doando há 17 anos

Andrey dos Santos Souza é feirante na Manaus Moderna há 17 anos e contou que antes de Cláudio e o Mesa Brasil chegarem à feira, ele já fazia doações de seus produtos.

“Doava para igrejas e instituições beneficentes. No final do dia, não só eu como outros feirantes, reuniamos o que não dava mais para comercializar, principalmente porque a toda hora chega produto novo, e o pessoal levava. Agora estou fazendo isso com o Cláudio e o Mesa Brasil”, disse.

“Não tenho idéia de quantos itens eu comercializo aqui na minha banca. Acho que são uns 25, 50, entre frutas, legumes, verduras e ervas para tempero”, informou.

No Brasil, os últimos dados, divulgados pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) em 2013, revelaram que em apenas um ano o país perdeu ou desperdiçou 26,3 milhões de toneladas de alimentos. Isso representa quase 10% dos alimentos disponíveis. Enquanto isso, números de 2017 mostram que 5,2 milhões de pessoas no Brasil passam fome.

Segundo a FAO, a perda de alimentos prevalece nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Já o desperdício ocorre no final da cadeia alimentar (varejo e consumo), e estaria mais associado às nações desenvolvidas. Vale lembrar que o Brasil só saiu do mapa da fome em 2014, quando o índice de pessoas ingerindo menos calorias que o recomendado caiu para 3% da população.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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