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Acervo de Severiano Porto está retornando para Manaus

Sem dúvida alguma o mineiro Severiano Mário Vieira de Magalhães Porto foi o mais criativo arquiteto que a Amazônia já conheceu e um dos principais nomes da arquitetura nacional. Depois de viver e realizar grandes obras, em Manaus, por mais de 30 anos, de 1965 a 2001, Severiano Porto foi embora para o Rio de Janeiro. Ele faleceu em 2020, e agora grande parte de seu arquivo pessoal está sendo trazido de volta a Manaus pelo professor doutor Marcos Cereto, através de um acervo pessoal onde constam fotos, projetos, revistas, livros, desenhos, documentos e prêmios dos tempos em que o arquiteto viveu em Manaus, inclusive o Título de Cidadão Amazonense, recebido em 1973, concedido pela Assembleia Legislativa.

O arquiteto Severiano Porto faleceu em 2020
Foto: Divulgação

O material foi doado pela família de Severiano à Ufam para ficar sob a guarda do Nama (Núcleo Arquitetura Moderna na Amazônia), localizado na Faculdade de Tecnologia.

“Meu doutorado, na UFRS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) foi sobre a obra de Severiano Porto. Em 2016 conheci o acervo dele que está na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Esse material está lá desde 2003 e é referente ao tempo em que ele morou no Rio. O acervo que está vindo para Manaus ainda estava na casa dele, em Niterói, e está constituído somente por material do tempo em que ele morou em Manaus”, lembrou o gaúcho Cereto.

Marcos Cereto está trazendo material do arquiteto de volta a Manaus
Foto: Divulgação

A negociação entre a família de Severiano e a Ufam para a doação do acervo iniciou em outubro de 2020 e culminou com a assinatura do termo de doação em 3 de março passado, em Niterói. Cereto viajou imediatamente para aquela cidade e, junto com Mario, filho de Severiano, realizou a catalogação e o acondicionamento do material (mais de 500 kg) em caixas de papelão para o posterior deslocamento para Manaus.

“Trazer esse acervo para Manaus é proporcionar às novas gerações de arquitetos amazonenses a possibilidade de conhecer obras icônicas que foram demolidas recentemente. Com o acervo, permanecerão disponíveis os projetos, fotografias e documentos, entre outras peças, para que possamos olhar para o futuro com essa bagagem de valor inestimável do passado”, avaliou.

Pioneiro na regionalização

Cereto é o idealizador do Nama, projeto iniciado em 2016 e oficializado em 2019, na Ufam. O Núcleo reúne arquitetos e pesquisadores de todas as universidades da Amazônia, bem como profissionais da área, de outros estados, que tenham interesse sobre o que se cria na arquitetura amazônica. O Nama ainda interage com escritórios de arquitetura.

“Por que Arquitetura Moderna? Em Manaus, muito se sabe do estilo art nouveau dos tempos da Belle Époque, da época do fausto da economia da borracha, mas pouco ou nada se fala do estilo que surgiu depois, a arquitetura moderna, que ganhou grande impulso exatamente com Severiano Porto através de obras como o campus da Ufam; a sede da Suframa; as construções do Centro de Proteção Ambiental, parecendo malocas, em Balbina; o restaurante Chapéu de Palha; a pousada Guanavenas, em Silves; a sua residência; a sede do Tribunal Regional Eleitoral; e o icônico Vivaldo Lima, entre várias outras. Algumas dessas obras, ou foram demolidas, ou descaracterizadas, demonstrando um total desrespeito pelo seu trabalho”, lamentou.

Severiano Porto integra a geração de arquitetos que vivenciou de perto o início do processo de modernização do país, no qual vários deles se tornaram pioneiros, seja por levar os métodos da disciplina arquitetônica, ou por propagar a modernização e mesmo o modernismo. Com seu trabalho, em Manaus, Severiano promoveu tal propagação, potencializando, assim, que sua arquitetura assumisse uma feição regionalizada, principalmente quando utilizou as madeiras da região e copiou os símbolos locais, como o chapéu do caboclo, as malocas indígenas e até o formato de uma tartaruga no estádio Vivaldo Lima.

Referência para arquitetos

O acervo ainda terá importância valiosa para a história do período em que Severiano morou em Manaus, pois o arquiteto guardava tudo o que publicavam a respeito dele, em matérias de jornais e revistas, além de fotos das inaugurações de suas obras e projetos dessas obras. Severiano foi professor emérito da Ufam, de engenharia civil, e não de arquitetura, homenageado inúmeras vezes pelas turmas que formava.

“Esse rico material traz de volta uma referência para os arquitetos, e futuros arquitetos amazonenses, já que a primeira turma de arquitetura, em Manaus, é de 1997, na Ulbra, e a Ufam só abriu o curso em 2010, ou seja, esses alunos nem devem ter conhecido Severiano pessoalmente”, disse.

“Para a sociedade, o acervo representa o resgate de uma história recente, que está se perdendo”, completou.

O Nama disponibilizará o acervo para a consulta de discentes, pesquisadores e arquitetos e já está nos planos de Cereto a construção de um espaço expositivo, um museu, próximo à Faculdade de Tecnologia, onde as pessoas poderão conhecer parte da história do Amazonas pelo olhar do arquiteto.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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