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ACA, o sesquicentenário da resistência

Alfredo Lopes, Belmiro Vianez e Wilson Perico

Os 150 anos da Associação Comercial do Amazonas merecem aplausos e  reflexões de primeira grandeza pois se trata da primeira entidade do setor  produtivo de nossa História. E a mais combativa. São empreendedores  que cumpriram o script da obstinação num contexto de dificuldades e  avanços na conquista da cidadania empresarial. A conquista de um lugar  ao sol para nossa economia se deve muito à luz pioneira da Associação  Comercial do Amazonas. Uma epopeia formada por remanescentes do  período colonial e início do Império onde enfrentamos um eterno conflito  entre o Grão-Pará e Rio Negro, o nome da Amazônia na geografia política  de então, e o Brasil latifundiário e rigorosamente submisso a sua matriz  colonial, a despeito da Independência do país em 1822. Na região  vivíamos o clima liberal da Revolução Francesa, enquanto no Rio de  Janeiro, a Coroa dos Alcântara insistia em gerir o país como uma  gigantesca fazenda. Por isso, a convivência não poderia jamais ser  harmoniosa. Até depois da Guerra da Cabanagem, onde o latifúndio do  império brasileiro submeteu ao genocídio 60 mil amazônidas, a maioria  absoluta do sexo masculino. Até hoje as mulheres permanecem em  maioria na região, a Amazônia sem rosto e o Brasil sem projeto para sua  porção maior.  

Em 1850, ainda sob o signo do conflito sanguinolento, Amazonas e Pará  separaram as farinhas. É declarada a Instalação da Província em Manaus e  o Amazonas, então com 17 mil habitantes, passa a ser “independente”.  Duas décadas, 1881, depois, já com o aporte de recursos externos, quase  todo de origem inglesa, já está em vigor  o Ciclo da Borracha  propriamente dito, simultaneamente à implantação da Associação  Comercial do Amazonas, “para defesa do interesse mercantil”, como  rezam seus estatutos.  Os primeiros gestores da ACA eram também  políticos ou militares e cumpriam múltiplas tarefas na construção de nossa  História. Até o advento da FIEAM, nos anos 60, a ACA, entidade mãe das  demais, funcionava em multifunção. Promoção do desenvolvimento,  gestão do comércio e agricultura, fomento, entre outras tantas  intervenções, entre as quais a de pacificadora na guerra entre seringueiros  brasileiros e peruanos no início do Século XX. 

Em sua jornada, a  entidade participou do apogeu e declínio da  economia da borracha, padeceu os movimentos de insurgência nos três momentos dos mandatos do governador negro e maranhense, Eduardo  Gonçalves Ribeiro, a partir do qual, de 1892 a 1896,  o Amazonas viveu  os melhor momentos de fausto gemífero  comparativamente aos seus  antecessores e sucessores. Constantino e Silvério Nery, integrantes da  elite local, tentaram retirá-lo a toque de canhão e baioneta, em vão, mais  de uma vez. Oficial do exército, tinha em Floriano Peixoto, um artífice da  República, seu padrinho e admirador. Os gestores da ACA ficaram a seu  lado dele nestes momentos de perturbação da ordem. Depois disso, já no  Século XX, com a quebra do Ciclo da Borracha, seguiram-se duas grandes  guerras de extensão mundial. Penúria e muita obscuridade no horizonte  de 4 décadas. Mesmo assim, o Amazonas cumpriu com afinco seu papel  na construção da siderurgia no Brasil. 

A Amazônia teve, a propósito, sua vantagem com o segundo conflito, pois  o acesso aos seringais da Malásia e adjacências, a partir de 1941,  fechado  pelas forças japonesas, aliançadas com o nazifascismo de Hitler e  Mussolini, impedia a compra de borracha para os veículos de guerra,  sobretudos os trens de pouso dos aviões. O acordo de Washington,  mantido em segredo por muitos anos, trocou a indústria siderúrgica  brasileira por preços vis de nossa borracha para cuja produção vinham  ondas sucessivas de nordestinos. Mais uma vez Amazônia diz presente  nos momentos difíceis da memória nacional. À época, a Associação  mantinha representação em 29 cidades do interior amazônico, para dar  ideia de seu papel preponderante em nossa história econômica. A Casa  mantinha um serviço de assistência à agricultura. O governo americano  exigiu do Brasil a revitalização dos seringais e 500 mil nordestinos,  notadamente os cearenses, foram recrutados para a guerra do II Ciclo da  Borracha. Finda a guerra, fim dos investimentos e o Amazonas volta à  estagnação econômica. 

A Associação Comercial do Amazonas teve participação efetiva nessa  retomada momentânea da economia. Sob a batuta de Cosme Ferreira, um  cearense que veio para o Amazonas com 2 anos de idade, e aqui ficou até  morrer e, através da ACA, teve uma atuação que deixou grandes e  positivas marcas no Amazonas. Uma delas foi apresentar ao Congresso  Nacional um projeto que criava a Estação Experimental do Guaraná, em  Maués. Cosme Ferreira, também, foi tutor na arte de empreender dos  pioneiros  Petronio Augusto Pinheiro e Antônio Andrade Simões, que  foram estagiários na ACA e Companhia Nacional de Borracha. Pelo  Decreto 12.312, de 27 de abril de 1943, o Governo da República concedeu  a prerrogativa de órgão consultor da União para a ACA que, mesmo sendo do setor privado, passou a ajudar o governo a se recompor com a saída  dos americanos. 

Em 1948, foi realizada  a Segunda Conferência Nacional da Borracha, por  iniciativa de Cosme Ferreira, gestor da ACA. Mais tarde, na formação de  seus gestores, vamos encontrar Mário Guerreiro, fundador do CIEAM,  Isaac Benayon Sabbá e Moysés Israel,  que  também foram artífices de  grandes empreendimentos regionais, a Brasil Juta, a Refinaria de  Manaus e a Cia. de Eletricidade de Manaus, que encerram um longo  período de escuridão. Com dez anos de atraso, JK, Presidente da  República, concordou com a implantação definitiva do Plano de  Valorização da Amazônia, inspirada por Getúlio Vargas. Assim era criada a  SUDAM e, a partir de 1967, a Zona Franca de Manaus, sempre com a  presença combativa da ACA. Vida longa, venerável senhora, gratidão  perene. Sua luta é também nossa luta e todo dia recomeça em favor do  Amazonas.  

(*) Alfredo é editor do portal BrasilAmazoniaAgora e consultor do CIEAM.  Belmiro Vianez Filho é empresário do Varejo e Wilson Périco é presidente  do CIEAM. 
Foto/Destaque: Divulgação

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