A economia e a política, humanas e dialéticas que são, raramente produzem consensos. Na ideologia política, isso se mantém e até se agrava no Brasil. Na economia, porém, diante da catástrofe que se avizinha, talvez estejamos o mais próximo de algo que equivaleria a um consenso mundial: os governos precisarão agir (gastar), e já estão agindo. O Congresso americano aprovou aproximadamente US$ 3 trilhões em auxílios a variados setores. Há quem diga que pode chegar a US$ 5 trilhões. Por aqui, fala-se em até R$ 1 trilhão. Tudo para minimizar a iminente recessão mundial.
Uma pandemia na era digital ainda não havia sido experimentada. E seu ineditismo nos obriga a pensar fora da caixa. “Novos problemas exigem novas soluções”. Talvez a história esteja nos impondo a coragem e a criatividade na tomada de decisões impensáveis até poucos meses atrás.
O aumento da dívida pública nunca será um problema por si só. As grandes potências econômicas têm altos endividamentos. Infelizmente, por vezes, o debate sobre o tema é reducionista, por exemplo, comparando os limites de gastos de uma dona de casa com as despesas estatais. A questão central deve estar na sustentabilidade do endividamento público.
Os governos devem injetar valores na economia durante e após a pandemia de forma articulada. E neste ponto, devem focar nos previsíveis legados — na saúde, já está claro o incremento de leitos e equipamentos, sem falar na imensurável conscientização social acerca da importância do SUS em um país continental e desigual como o Brasil. Não podemos frequentar a lista das maiores economias mundiais, tendo uma das maiores reservas de água doce do planeta, e quando há mais um problema de saúde pública prevenível com uso de água e sabão, lembrarmos que aproximadamente metade da nossa população não tem sequer acesso a saneamento básico.
Aqui chegamos ao ponto crucial. Neste momento de clara necessidade de endividamento público — os Estados Unidos estão chegando perto de um endividamento de US$ 7 trilhões nessa crise —, a saída para não deixarmos uma herança maldita fiscal para as próximas gerações, no Brasil, está em focar em projetos que se paguem nos próximos anos e contribuam para reduzir nossas mazelas sociais.
Sabe-se que será impossível salvar todos os setores e que áreas que já estavam em crise antes mesmo da pandemia provavelmente não sobreviverão. Portanto, os essenciais investimentos públicos para o momento devem considerar o não comprometimento fiscal das gerações futuras, para isso, sendo focados em áreas que se paguem, seja pela redução de gastos estatais logo adiante, seja pelo estímulo claro e concreto à atividade econômica e investimentos privados, inclusive estrangeiros.
Fonte: Redação