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A guerra de comunicação na pandemia já foi perdida

A guerra de comunicação na pandemia já foi perdida

Talvez pela primeira vez nós estamos sentindo em primeira mão o que a era da informação instantânea e em qualquer dispositivo pode fazer para um evento de interesse público mundial — e como ela pode ser problemática para se evitar uma epidemia.

Quando tratamos de controle de epidemia, é preciso manter um equilíbrio “saudável” entre medo e tranquilidade: deixar as pessoas com medo demais cria um estado de pânico que acaba atrapalhando o combate à doença, mas também tranquilizá-las demais faz com que ninguém tome as precauções necessárias para evitar o contágio. Assim, teoricamente, ter o acesso rápido a uma enorme gama de informações deveria ser algo que facilitaria a manter esse equilíbrio, deixando as pessoas informadas daquilo que elas realmente precisam saber sobre a doença sem criar um pânico desnecessário.

Infelizmente, não é isso que está acontecendo.

Como já sabemos, a capacidade de se conseguir informações de forma instantânea e em vários dispositivos infelizmente não garante que essas informações estejam corretas. E, como em muitos outros temas, as fake news são um grande problema também contra o COVID-19.

Desde que surgiram as primeiras notícias sobre o novo vírus na China, o que não faltam são versões absurdas para explicar a doença que, criadas por sites com pouca ou nenhuma credibilidade, acabam viralizando nas redes sociais e pelas correntes de WhatsApp. Um dessas histórias é a da sopa de morcego, inventada por tabloides sensacionalistas britânicos de que o vírus teria surgido em morcegos da região de Wuhan e sido passado para os seres humanos por conta de uma sopa regional que onde morcegos inteiros são cozidos.

A sensacionalização de qualquer assunto é compreensível no atual momento do jornalismo; afinal, muitos veículos ainda não conseguiram se adequar totalmente à internet, um espaço onde o público quer, ao mesmo tempo, o maior número possível de informações de alta qualidade, mas também que essas informações sejam disponibilizadas de graça. Como o principal método de sustento de qualquer site jornalístico é a veiculação de anúncios — e, quanto mais acessos a página tem, mais vezes um anúncio é visto e, em consequência, maior o retorno financeiro para o site — fazer manchetes exageradas que compilam os internautas a clicarem no link (ou, no caso de jornais televisivos ou no rádio, não trocar de canal) é quase uma questão de sobrevivência, pois é necessário garantir uma certa verba publicitária todos os meses para que o veículo continue a operar.

Para a COVID-19, esta é basicamente uma batalha perdida, e talvez já seja tarde demais para tentar trazer a opinião pública para o discurso equilibrado que um assunto desses necessita. O que resta é torcer para que este tipo de cobertura não se torne a regra para qualquer outra nova epidemia que possa surgir, ou então teremos tempos ainda mais difíceis pela frente.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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