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“A comunidade não tem característica de instituição”

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Nessa década, começaram os movimentos dos primeiros eventos voltados para startups espalhados pelo país, que logo chegaram em Manaus. Com isso, foram criadas diversas iniciativas para a construção de um ambiente favorável de desenvolvimento de boas ideias, entre elas, a “Comunidade Jaraqui Valley”. Criado em 2014, o grupo reúne de forma colaborativa startups e incubadoras, especialmente de negócios digitais, a fim de fomentar o cenário de empreendedorismo no Amazonas.

Para falar mais sobre as diversas iniciativas do Jaraqui Valley que contribuem para o fortalecimento do modelo na região, além de elencar casos de startups que estão tendo destaque em seus mercados, o Jornal do Commércio falou com o empreendedor Marcelino Macedo, um dos líderes da comunidade.

Jornal do Commercio – O que é o Jaraqui Valley?
Marcelino Macedo: A comunidade não tem característica de instituição e nem pretende ter. Funciona de forma pulsante, vivenciando a experiência de cada empreendedor. Aqui, damos as orientações necessárias para os negócios, dependendo em que fase está. Hoje, temos o mapeamento mínimo de 40 a 50 startups operando financeiramente, fora aquelas que estão em fase de idealização. Nossa história se mistura com uma corrida das startups, que permitiu a criação de eventos com foco em negócios digitais.

JC – Após quatro anos de sua criação, quais os avanços e retrocessos que a proposta do Jaraqui Valley possui?
MM – Entre as principais conquistas que tivemos ao longo desse tempo, está o crescimento da comunidade que iniciou apenas com oito negócios, tendo picos de 100 e hoje possui, pelo menos, umas 40 startups em pleno vapor. Também houve uma demanda maior de eventos em Manaus que são meios de atrair os empreendedores. Um dos primeiros, foi o encontro mensal chamado Meetup que está na 42ª edição. Além dele temos outros, inclusive com fortalecimento global que é caso do Startup Weekend (SW). Esse já teve sete edições temáticas. Outro evento é o Startup Manaus, que acontece a cada dois anos desde 2015, com foco promocional e de maior interação entre as ideias que deram certo. Temos ainda buscado modelos que funcionam fora com a participação de comunidade acadêmicas e científicas.
Por outro lado, o nosso maior entrave é a falta de visão do governo. A burocracia do entrave público sempre atrapalha o desenvolvimento de ações positivas. Até avançamos certos programas com algumas secretarias, mas esbarramos na questão burocrática, por isso não buscamos diretamente o governo, antes de se consolidar um programa público de iniciativa de startups. Sabemos onde está o impasse mas não dá pra avançar, diferente de outros Estados brasileiros que entendem como isso tem impacto na economia. Eles trouxeram uma política pública séria para ser tratada, a exemplo de modelos em Minas, Santa Catarina e até São Paulo, que embora não dependa do poder público, o Estado já entrou no programa de incentivo às startups focadas no desenvolvimento de soluções para mercado e até para poder público.

JC- No começo da década, startup como a Ingresse, fundada em 2011, chegou a receber o montante de R$ 2 milhões para estabelecer seus serviços, o que permitiu à companhia chegar em São Paulo dois anos depois. Outro nome local é a produtora de games Flying Saci. Com esses exemplos de sucesso, Manaus continua sendo um terreno fértil para uma nova geração de negócios digitais?
MM – Não tenha dúvida disso, não só é fértil como propícia. Mas antes dessas, tivemos outro caso interessante que foi o da startup Neemu, criada por professores da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), que em 2015 foi vendida para o Google por mais de R$ 50 milhões. O detalhe é que foi pedido que a base tecnológica ficasse em Manaus e assim estar, prova que além deles terem visão de empreendedores, tem a de economia compartilhada. E isso permitiu que outras empresas viessem pra cá. Neste ano, a Samsung investiu em edital voltado para startup, que só do Amazonas foram selecionadas seis projetos, onde cada uma recebeu R$ 100 mil para se desenvolverem mais ainda.

JC – Levando em consideração a nossa região, quais são os principais desafios enfrentados pelas startups locais?
MM – Primeiro, é difícil construir uma equipe e fazer com que elas queiram empreender. Após isso, tem a questão de sermos um mercado isolado, apesar de termos mais de 450 empresas implantadas no PIM (Polo Industrial de Manaus), no qual geram um comércio global, mas não conseguimos acessar porque a tomada de decisão não é feita aqui. E claro, uma startup que está começando não tem recursos para estar em São Paulo resolvendo reuniões. Então, entramos aí também já que temos um leque grande de networking e possibilitamos trazer para dentro de uma incubadora pessoas de outras regiões, por isso o Sebrae foi importante nesse processo de construção. Assim pudemos fazer essas missões empresariais a um custo mais baixo e os empreendedores podem conhecer grandes seguradoras e realizar contatos.

Outro ponto é justamente sobre o networking, que é complicado para gente por causa da infraestrutura que não é adequada e estamos falando só de Manaus. Mas o objetivo não é esse, e sim que se crie uma economia para o Estado afim de sair da dependência da ZFM (Zona Franca de Manaus). No entanto, para mobilizar o interior é preciso ter uma infraestrutura, pelo menos básica, como uma internet viável.

Além disso, temos a dificuldade do acesso ao capital para alguns negócios que precisam porque existem ideia que se desenvolvem sem recursos financeiros. Atualmente, não temos nada de investimento para facilitar o desenvolvimento de negócios. Agora vamos ver se o programa prioritário resolve isso.

JC – Quais são os principais segmentos das startups criadas por aqui?
MM – De 90% a 95% são negócios de serviços, pelo menos por enquanto, porque produtos saem mais caros e o recurso é sempre o problema. O serviço é mais fácil de ser desenvolvido e tem inúmeras formas de se trabalhar.

JC – Cite alguns cases de sucessos?
MM – No nosso entendimento cases de sucesso são todos os projetos que saíram da idealização, passaram pela validação e se tornaram produtos e foram comercializados. Partindo disso, atualmente temos a Buritech que fechou parceria com a Bemol, a Trocados e a Dreamkid Studio. Outro case de destaque é o Ganhe na Tela, que já conseguiu cerca de 1 milhão de downloads, um número inédito e significativo para nossa região.

JC – E daqui para frente, qual o futuro da comunidade?
MM – Esperamos trabalhar as parcerias que começamos a consolidar neste ano, como a do Cetam (Centro de Educação Tecnológica do Amazonas). Selecionamos um modelo de startup e aplicamos no mercado tradicional para que o Cetam utilizasse dentro da sua grade de cursos. Já entregamos a proposta e estamos no aguardo. Quando isso começar, o nosso modelo vai proporcionar às pessoas que estão disponíveis no mercado a oportunidade de entrar para trabalhar nesse tipo de treinamento e isso vai movimentar a economia.

Também começamos a trabalhar na versão 2.0 do nosso e-book, que está baseado no mapeamento e leva em consideração um modelo de alinhamento do Recife (PE), que em breve será lançado, assim como o nosso programa de TV. E relançaremos uma plataforma de informação. Além disso, estamos criando com a Seplancti (Secretaria de Estado de Planejamento, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação) uma agenda integrada de eventos para que quando se converse com o governo, já se saiba os nomes, propostas e valores de cada um. A partir disso, o orçamento liberado será dividido igualmente entre eles.

Outro ponto para o futuro será ajudar as startups por meio de networking fortalecendo o ecossistema, fomentando uma rede de investidores aqui, porque ainda não temos um número suficiente para isso. Para isso, estamos buscando no mercado tradicional por meio do Ulisses Tapajós, que abraçou a causa no último ano.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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