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A beleza e importância das samambaias para a natureza

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Devido à sua beleza exótica com folhas que pendem harmonicamente, as samambaias são utilizadas como decoração em todo o mundo, mas agora, através de um mapeamento, pesquisadores do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), em parceria com pesquisadores da Universidade de Turku, da Finlândia, e da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), foi confirmado que elas fazem bem mais do que apenas decorar ambientes.

O mapeamento se baseou em 2,6 mil pontos de amostragem de solo e mais de 30 mil registros de samambaias, coletados ao longo de décadas e disponibilizados em bancos de dados digitais.

“Cada região tem espécies distintas de samambaias porque cada espécie tem preferência específica de solo”, falou a bióloga Flávia Costa, do Inpa, que há mais de 20 anos pesquisa samambaias.

Há décadas gerações de botânicos fazem expedições à Amazônia trazendo espécimes de plantas que, depois, são depositados em herbários em todo o mundo. “Pesquisas realizadas bem antes de eu iniciar com minhas pesquisas”, relatou.

Com as novas tecnologias, como o GBIF (Sistema Global de Informação sobre Biodiversidade), além de portais que publicam as mais diversas informações sobre o assunto, agora se tem a certeza de que “o solo é quem faz a diferença das espécies. Descobertas recentes mostram essa distribuição”, disse.

Exemplos claros dessa disposição são a espécie Lindsaea lancea, comumente encontrada ao redor de Manaus, que prefere solos arenosos e pobres em nutrientes, diferente da espécie Cyclopeltis semicordata, encontrada no sul do Pará, em solos ricos em nutrientes.

Mas, que importância isso tem para a natureza, e consequentemente para os seres humanos?

Até no aquecimento global

“Elas são indicadores biológicos, importantes para a produção de um mapa dos solos amazônicos com o qual saberemos mais sobre a fertilidade deste ou daquele solo”, explicou Flávia.

“O mapa de fertilidade de solo será relevante em muitas aplicações, além da modelagem de distribuição de espécies. Estudos das respostas dos ecossistemas a mudanças ambientais podem agora incorporar esta importante variável preditora, já que a fertilidade do solo afeta a dinâmica da vegetação e suas propriedades funcionais”, completou.

“Talvez possamos usar essas ocorrências aleatórias de plantas para obter estimativas das propriedades do solo, colocá-las junto com os dados realmente medidos desse solo e produzir um novo mapa dele”, revelou a Dra. Gabriela Zuquim, colaboradora do PPBio/Inpa (Programa de Pesquisa em Biodiversidade/Inpa) e pós-doutoranda da Universidade de Turku, que liderou o estudo.

“Como resultado dessas pesquisas, tivemos as informações necessárias para converter os dados de ocorrência de espécies de samambaias em uma estimativa das propriedades do solo em escala amazônica”, contou a professora Hanna Tuomisto, líder do grupo de pesquisa da Amazônia da Universidade de Turku.

O pesquisador Carlos Quesada, da Rainflor (Rede Amazônica de Inventários Florestais), do Inpa, sugeriu que “o mapa é preciso o suficiente para ser usado como uma camada digital para estudos de distribuição de espécies e modelagem de habitat”.

“Isso também é relevante no contexto do aquecimento global. As espécies precisam rastrear áreas climaticamente adequadas, mas elas só serão capazes de se estabelecer se também os solos são adequados. Informações sobre os solos são necessárias para identificar e proteger as áreas adequadas do presente e do futuro”, concluiu a colaboradora da Ufal, Juliana Stropp.

Apenas para decorar

No Japão os brotos das samambaias são usados como alimentos, mas Flávia Costa não indica esse hábito porque pesquisas mostram que a planta é tóxica e cancerígena.

No Brasil, a Pteridium aquilinum var. arachnoideum é encontrada em praticamente todo o país a altitudes que variam de 700 a 3.000 metros. É predominante em regiões de solos pobres, ácidos, com baixos níveis de cálcio e fósforo, aspectos verificados no solo do cerrado.

O broto de samambaia é utilizado como alimento na forma de refogados, chá e saladas, em algumas regiões figura-se como prato típico. A planta tem sido muito estudada devido a seus efeitos tóxicos e carcinogênicos. A toxicidade da planta é influenciada por diversos fatores, dentre eles a parte da planta consumida, a idade e a altitude onde é cultivada. A literatura relata que a toxicidade do broto de samambaia é maior em altitudes superiores a 1.400 metros. Diversos compostos químicos tóxicos e carcinogênicos já foram identificados na samambaia, sendo o principal carcinogênico da planta o ptaquilosídeo. Esse glicosídeo está presente em maior concentração no ápice dos brotos.

A samambaia é uma planta que não produz sementes e flores. Estima-se que na Amazônia existam cerca de 550 espécies de samambaias e no mundo são conhecidas cerca de 13.500 espécies.

Existem duas maneiras para reproduzir a samambaia: por meio dos esporos (pontinhos marrom na face interna das folhas), e por pedaços de rizoma (caule subterrâneo que cresce horizontalmente na superfície do solo).

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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