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‘Burocracia ainda é um empecilho’

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Empresário, apresentador do programa Ponto de Equilíbrio (AmazonSat) e ex-secretário de Planejamento do Amazonas, Marcelo Lima Filho responde questões sobre a Copa de 2014 diante das mazelas burocráticas presentes no país, da fragilidade urbana em que Manaus ainda se encontra, e do legado que ficará com a proximidade do evento internacional, com destaque especial para a Arena da Amazônia, que segundo ele é o estádio mais bonito e mais barato entre os demais construídos; em entrevista exclusiva para o Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio – Com a proximidade da realização da Copa de 2014, qual a visão de quem participou dos primeiros estudos e do planejamento direcionado para este grande evento do país e das seis capitais subsedes?

Marcelo Lima Filho – Eu acho que o Brasil perdeu uma boa oportunidade de agregar valor, preparar, melhorar, aprimorar sua infraestrutura. E, nós estamos a 376 dias da Copa do Mundo, ou seja, pouco mais de um ano, já às vésperas da Copa das Confederações, nós temos visto que a burocracia ainda é um empecilho no Brasil.

JC – Como exemplificar a questão da burocracia como empecilho para realização da Copa do Mundo?

MLF – O Maracanã ontem foi fechado por uma ordem judicial porque não tinha todos os licenciamentos apresentados. De madrugada apareceu o laudo que faltava, mas que o Ministério Público agora quer 15 dias. Então, a dificuldade do Brasil em lidar com a burocracia e a necessidade de entrega no prazo pré-determinado, que não é nossa cultura, são um bom exemplo das dificuldades que nós vamos ter em relação a 2014.

JC – Como Manaus está inserida neste contexto?

MLF – No sentido de que Copa na região está aqui. Manaus é a capital verde, representa a capital da Amazônia na Copa do Mundo. Nós vamos receber centenas de milhares de turistas, a cidade ainda não tem se quer sinalização turística adequada. O turista que precisar alugar um carro aqui, ele vai ter dificuldade de navegar com o GPS, por falta de internet de banda larga.

JC – E a questão da mobilidade urbana na cidade que ficou sem o sistema de transporte coletivo, seja o BTR ou similar para operar na Copa de 2014?

MLF – O transporte público infelizmente não sofreu os aperfeiçoamentos que eram esperados. Da mesma forma, com o aeroporto, eu estou seguro de que ele não será entregue em dezembro deste ano como é prometido.

JC – Por que? Qual o principal entrave, neste caso?

MLF – Por que ainda há uma dificuldade muito grande das autoridades em lidar com a transparência em admitir equívocos de planejamento e por conta disso eu acho que nós vamos ter ainda alguns sustos até 2014. Mas, para o turista, talvez o nosso grande mérito na nossa região seja a sociabilidade. O nosso povo recebe muito bem as pessoas de fora, sabe acolher bem os turistas e quem vem de outras localidades social e profissionalmente.

JC – Este é o ponto positivo em que os manauaras podem ficar mais tranquilos em relação aos turistas nacionais e estrangeiros?

MLF – Na minha opinião, Norte e Nordeste por sua característica de sociabilidade das pessoas, vão receber muito bem, e nós vamos compensar essas deficiências com boa vontade. Nós estaremos insatisfeitos, a nossa autocrítica vai prevalecer em relação a nossa frustração, a nossa entrega será deficiente. Mas, o turista em si, ele eu acho que vai ser tão bem recebido que ele não vai levar a pior percepção do mundo em relação à organização e a estrutura. Mas, a Copa está aí, próxima, e nós não conseguimos visualizar a qualidade da entrega e os resultados posteriores são duvidosos.

JC – E agora, qual é o grande desafio, já com a proximidade da realização dos jogos da Copa do Mundo também em Manaus?

MLF – O grande desafio é que o turista venha e saia daqui falando bem. Hoje se o turista chegar no aeroporto ele não vai falar bem. Hoje o controle de passaporte, a imigração brasileira tem a pior impressão do mundo. Os serviços da Receita Federal em Manaus são os piores do Brasil. A FIFA vai trazer uma quantidade de carga de material de marketing, de material de apoio que terá que ser desembaraçado, então não fique surpreso se a FIFA deixar de realizar algum evento porque seu material não foi desembaraçado em tempo hábil.

JC – Hoje ficou a vontade de participar desse processo de requalificação da cidade sede, e qual sua visão geral de Manaus em relação ao andamento dos serviços aos turistas?

MLF – Estou respondendo como expectador. O governo tentou qualificar pessoas e ainda não conseguiu, não tem ninguém preparado para falar outro idioma nos serviços elementares. Eu estou ressentido sim, pela forma com que os organizadores estão conduzindo os assuntos da Copa, pautando materiais que chegam de madrugada para ser utilizados na obra da Arena. Os jornais estão comprando qualquer pauta. Falem de materiais e da obra da Arena que chegam, mas também mostrem a rodoviária que está abandonada, é muito pequena para receber turistas que virão dos países vizinhos, Venezuela por exemplo. Ou até mesmo se coloque na perspectiva do turista e veja se a sinalização turística é adequada, se o turista consegue chegar à sede do governo só olhando a atual sinalização. Eu acho que o brasileiro já se conformou, vamos ter belos estádios.

JC – Quanto aos estádios, muito se fala em legado, o que de fato ficará na capital amazonense após a Copa de 2014?

MLF – A Arena da Amazônia vai ser o estádio mais bonito e mais barato da Copa, o que já é um grande avanço. Sim, os estádios são o legado visível, e o legado pouco perceptível, mas verdadeiro, são as pessoas que irão atuar na Copa, desde os jornalistas aos prestadores de serviços de toda sorte estarão ambientados no evento global e irão ver a coisa acontecer numa oportunidade única em nossas vidas. Ainda, em cima do legado positivo, a internet 4G vai estar disponível durante e pós Copa, também a energia limpa e contínua do SIN (Sistema de Interligação Nacional) através do Linhão de Tucuruí, que já chegou até a Estação de Transmissão de Lechuga, na Região Metropolitana de Manaus e a ampliação do Aeroporto Internaconal Brigadeiro Eduardo Gomes. Que mesmo com a minha crítica de que esta é uma obra de 30 anos e que não vislumbra como um hub turístico, são os principais legados que a sociedade manaura poderá contar ao témino da Copa do Mundo de Futebol, FIFA 2014.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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