A experiência de viver a cena cultural nas comunidades com os moradores locais, visitar residências caboclas e aprender sobre os seus ritos e costumes, compartilhar um dia de pesca com pescadores nativos e participar da farinhada (produção de vários produtos derivados da mandioca) ou até mesmo participar de rituais indígenas em uma pequena aldeia.
Essas experiências autênticas transformam o turismo de povos amazônidas enriquecendo os visitantes com algo genuíno e significativo. Essa é a base do turismo em comunidade, um segmento que tem crescido no Brasil, principalmente no Amazonas e atraído cada vez mais turistas brasileiros e estrangeiros a regiões que oferecem esses atrativos tão excêntricos.
Nas comunidades ribeirinhas, localizadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro, distante aproximadamente 1h30 de Manaus via fluvial, o Rio Negro atingiu na última segunda-feira, 16 de outubro, o nível mais baixo já registrado na história, superando a seca de 2010, de acordo com dados do Porto de Manaus. Até o fechamento desta edição o nível estava em 13,73 metros.
De Tumbira até Santa Helena do Inglês existem outras comunidades ribeirinhas que fazem parte da Reserva de Desenvolvimento Sustentável – RDS Rio Negro, em Iranduba, distante uma da outra cerca de 10 minutos de lancha.
Pousada Vista Rio Negro – Esse empreendimento recebeu apoio da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), uma iniciativa de turismo de base comunitária que foi construído com recursos trazidos pela ONG e a mão de obra ribeirinha. A pousada tem oito quartos com cama de casal e solteiro, banheiro, ar-condicionado e ventilador, e espaço para quatro pessoas em cada um. O pacote de fim de semana custa cerca de 1.500 reais por hóspede, incluindo passeios e alimentação completa. Adriana Siqueira é a quinta mulher a administrar a pousada Vista Rio Negro, que a cada dois anos troca de gestão. O seu mandato vai até o fim do mês de outubro com possibilidade de reeleição. Dentro dos princípios do turismo de base comunitária, as atividades na Vista Rio Negro acabam envolvendo e gerando renda para toda a população local. “Para atender os turistas, todo dia chamo uma pessoa diferente da comunidade. Quando é um grupo grande de visitantes, chamo quatro pessoas, ficam duas na cozinha e duas nos serviços gerais. E aí também tem os guias, que levam os turistas nos passeios”, afirma a gestora Adriana.
Gelo Caboclo – Assim como outros lugares remotos na Amazônia, Santa Helena do Inglês sofria com oscilações no fornecimento de energia, causadas por quedas de árvores ou outras intempéries da região (abastecida desde 2012 pelo programa Luz para Todos, do governo federal). A doação da energia solar e a fábrica de gelo construída pela FAS deu novo alento aos nativos para impulsionar a pesca com geração de renda para a comunidade tanto na comercialização dos peixes matrinxã e jaraqui como para o desenvolvimento do setor hoteleiro e comercial das comunidades.
Comida cabocla e indígena – A comunidade é habitada pelo povo Kambeba e fica localizada a 60 quilômetros de Manaus. O restaurante “Sumimi” na língua originária é a ave com pena preta e amarela, popularmente conhecida como Japiim. Esse nome dado ao restaurante se justifica por inúmeros exemplares existentes na região do Rio Cuieiras (afluente do Rio Negro). Com vista privilegiada o espaço gastronômico oferece iguarias regionais e da cultura indígena. Hoje, o Sumimi está preparado para receber até 100 pessoas.
Iberostar Grand Amazon – A empresa especialista em cruzeiros pela Amazônia é um cliente costumaz dp Turismo de base comunitária e leva turistas com frequência para experimentar os pratos regionais e de tradição indígena preparados pela chef e sua equipe. Nos preparativos do cardápio, que varia de acordo com a disponibilidade de itens da pesca regional está incluído o jaraqui e o tambaqui, acompanhado de saladas, e demais sabores que agradam a todo paladar.
A primeira Pousada Comunitária- A Pousada do Garrido foi o primeiro empreendimento de turismo em que a FAS apostou e hoje o negócio já caminha com as próprias pernas. Para chegar `a comunidade Tumbira, vindo de Manaus, é preciso pegar uma lancha na Marina do Davi. São cerca de 80 quilômetros (ou uma hora e meia de lancha) até o destino. A viagem é deslumbrante graças à exuberância da floresta e das águas escuras do rio. Se tiver sorte, poderá ver o mergulho do boto.
Roberto Brito Mendonça, passou de extrativista de madeira para proprietário da Pousada do Garrido – um empreendimento de base comunitária que transformou sua casa em hospedaria com cinco quartos amplos, banheiro exclusivo, ar-condicionado e ventilador, camas de solteiro, de casal e beliches. Na alta temporada, a comunidade disponibiliza quatro casas para locação, além de famílias que oferecem o aluguel de quartos (são pelo menos 50 vagas). Há também um ‘redário’ capaz de embalar o sono de 32 pessoas em suas redes. Hoje, além de ser o projeto piloto da FAS em turismo de base comunitária, a Pousada do Garrido é um caso de sucesso. Em dois anos, entre 2020 e 2022, o negócio quase quintuplicou o faturamento, de 86 mil para 411 mil reais.
Segundo Roberto quem chega na comunidade encontra uma série de atividades. “Nós oferecemos tudo o que a natureza está nos proporcionando, praias de rio, trilhas, passeio noturno em igarapés e no Parque Nacional de Anavilhanas, focagem de jacaré, pesca e visita na casa de farinha. Aqui, toda família faz sua farinha, mas o visitante não sabe como é isso, então mostramos todo esse processo.” destaco o empresário.
Artesanato – Extraído da palmeira de bacaba a fibra vira sousplats e outras peças artesanais e continua entrelaçando gerações, assim se manifesta a artesã Neide Garrido, 52, esposa de Roberto que é uma das moradoras de Tumbira beneficiadas pelo turismo de base comunitária e produz peças de artesanato de excelência.