10 de dezembro de 2024

Projeto Nanorads para olhar o futuro

O desmatamento na Amazônia começou há cerca de 50 anos, na década de 1970 com a construção de grandes obras de infraestrutura, pelo governo federal; a especulação com terras; e a instalação de atividades econômicas como a agropecuária e a mineração. E nunca mais parou. Em março passado, o desmatamento da floresta triplicou, fazendo o 1º trimestre de 2023 ‘fechar’ com a 2ª maior área desmatada em pelo menos 16 anos, segundo o monitoramento por satélite do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) divulgado em 20 de abril passado.

Um dado inesperado é a citação do Amazonas como o estado que mais devastou suas florestas no mês citado. Até então o estado era modelo por manter sua floresta praticamente intocada. A devastação passou de 12 km² em março de 2022 para 104 km² em março de 2023, uma alta de 767%, ou seja, quase nove vezes mais. Com isso, o estado também assumiu a liderança como o que mais desmatou na Amazônia no mês, concentrando 30% de toda a devastação na região. Em todas as suas fronteiras, o Amazonas perde vegetação nativa, em municípios próximos ao Acre e Rondônia, e nas divisas com o Pará e Mato Grosso. Entre as dez cidades amazônicas que mais desmataram seu território, três são amazonenses: Apuí, em primeiro lugar na lista; Novo Aripuanã e Lábrea.

Numa corrida de tartaruga contra o coelho onde as pesquisas são carregadas no casco da tartaruga e o desmatamento acompanha a corrida desenfreada do coelho, pesquisadores do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) desenvolvem projetos que podem resultar na recuperação de áreas degradadas na região, conforme explicou ao Jornal do Commercio o pesquisador José Francisco Carvalho, coordenador do projeto Nanorads.

Jornal do Commercio: O que é o projeto Nanorads?    

José Francisco: Trata-se de uma iniciativa para recuperar áreas degradadas, na Amazônia, a partir de tecnologias do setor florestal. A Amazônia brasileira representa cerca de 60% do território nacional, sendo que em aproximadamente 30% desta área já houve algum tipo de remoção da cobertura florestal e 20% desta mesma área já se encontra em estado avançado de degradação por diferentes iniciativas ou atividades que impuseram a degradação, tais como mineração, formação de pastagens depois abandonadas, e remoção ilegal de madeiras. O projeto Nanorads tem uma necessidade urgente de encontrar alternativas para utilizar essas áreas de maneira produtiva.

JC: De que forma isso acontecerá?

JF: Nessas áreas não há nenhum tipo de iniciativa que agregue sua valorização. Através do Nanorads buscamos transformá-las em áreas produtivas desenvolvendo um setor florestal de resultados, com emprego e renda. O Nanorads prevê o uso de espécies, a partir de um processo de seleção, que se adequem a cada um dos diferentes tipos de históricos de degradação, com a aplicação de variados estudos de sistemas de plantio e a utilização de nanotecnologias recentes, que aceleram o crescimento das árvores através de moléculas hidrossolúveis e biodegradáveis, que não contaminam o meio-ambiente.

JC: O projeto Nanorads está sendo desenvolvido somente aqui no Amazonas?

JF: É aí que vem a sua relevância. Através de uma rede de pesquisadores, o Nanorads está sendo desenvolvido em todos os nove estados da Amazônia Legal: os seis que formam a Região Norte (Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Amapá e Acre), mais parte do Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. Nos nove estados temos áreas de pesquisas voltadas para o plantio de castanheiras no sistema puro, misto e agro-florestal. A ideia é que possamos desenvolver tecnologias que atendam desde o pequeno ao grande produtor do setor florestal e apoiar uma bioeconomia, uma economia circular de resultados que atraia investimentos do setor florestal não somente para recuperar a área propriamente dita, mas que gere emprego e renda para os amazônidas.

José Francisco Carvalho está à frente do projeto Nanorads

JC: Explique como é a sistemática do projeto?

JC: O Nanorads tem três direcionadores, primeiro: tentar entender qual o impacto do sistema de plantio na acumulação de carbono num processo de reflorestamento, então testaremos três sistemas de plantio diferentes: o primeiro, com a castanheira pura; o segundo, um sistema misto de plantio, castanheira junto com ingá (árvores típicas da Amazônia); e o terceiro, agro-florestal onde, além da castanheira e do ingá, teremos cacau e banana para entender como é o acúmulo de carbono e a recuperação dessas áreas. O segundo direcionador tem a ver com a nanotecnolgia quando aplicaremos a arbolina, um bioestimulante desenvolvido pela startup Criotec, para entender o impacto na aceleração do crescimento e resiliência das plantas. O terceiro viés será a mensuração do carbono, quando entra outra startup, a Trivia, com o sistema Internet of Things, que estuda o acúmulo de carbono numa floresta. O objetivo do projeto Nanorads é se colocar à disposição da comunidade amazônica objetivando uma visão de futuro para o setor florestal, colocando a floresta em pé, novamente, sendo explorada de forma racional.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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