“A primeira medida prevista por Augusto Rocha – estudioso dessa utopia, no sentido da antecipação de realidades que materializam intuições geniais – foi envolver a Suframa e as agências reguladoras, como ANTAQ, ANAC e ANTT, na construção do Plano Amazonense de Logística e Transportes.”
Por Alfredo Lopes – Coluna Follow-up (*) – Portal BrasilAmazoniaAgora
A obra de Hemming, John’s, “Red Gold: The Conquest of the Brazilian Amazon,” publicada pela Harvard University Press em 1995, nos apresenta uma análise detalhada do ciclo da borracha na região da Amazônia. A obra destaca o boom e declínio da indústria da borracha, juntamente com seus impactos sociais, econômicos e ambientais. O autor mergulha nos desafios enfrentados pelos seringueiros, as complexidades do comércio de borracha e as consequências da exploração na região amazônica. Através de um exame aprofundado, o livro lança luz sobre os meandros dessa importante fase da história brasileira. E nos ajuda a entender porque o Brasil deixou escapar as lições, resultados e avanços civilizatórios que a Hevea brasiliensis, a árvore da fortuna tentou nos oferecer.
Durante o ciclo da borracha, especialmente entre o final do século XIX e início do século XX, a Amazônia tornou-se um foco mundial de negócios a partir da extração de látex para produção de borracha. Isso teve implicações logísticas significativas. Os rios da Amazônia foram essenciais para transportar a borracha, o contingente humano exigido, mais o comércio lucrativo de mercadorias. Os ingleses trataram de construir nos estaleiros de Glasgow navios adaptados às condições dos rios e capazes de contornar suas limitações de transporte. A invenção do telégrafo no Século XIX, por sua vez, foi crucial para o Ciclo da Borracha estabelecer postos avançados, armazéns e alojamentos em regiões remotas da floresta, vitais para enfrentar o desafio logístico.
Com a vazante crítica deste ano, pontos estratégicos bloquearam a passagem de navios de grande porte. Mais que os fatos, os boatos espalharam o alarmismo. O importante, porém, está sendo a janela de oportunidades que a seca dos rios amazônicos propiciou. A maior delas é a mobilização dos atores federais vinculados à logística de transporte da Amazônia, historicamente deixada para depois em suas demandas emergenciais. Fruto de um trabalho coletivo iniciado em março nas entidades da indústria – FIEAM e CIEAM – por um conjunto de atores atentos às previsões sombrias do Ciclo das Águas, vazante recorde à vista, esse grupo avançou e já está empenhado na criação de um Plano Amazonense de Logística e Transportes (PALT), como resposta ao caos logístico enfrentado pela ZFM há quase 60 anos.
A primeira medida prevista por Augusto Rocha – estudioso dessa utopia, no sentido da antecipação de realidades que materializam intuições geniais – foi envolver a Suframa e as agências reguladoras, como ANTAQ, ANAC e ANTT, na construção do Plano Amazonense de Logística e Transportes. Um nome provisório que a autarquia coordenadora dos trabalhos deverá avaliar por força da abrangência amazônica de sua governança. As tarefas não são modestas. A começar pela transformação dos corredores fluviais em hidrovias, com balizamento, dragagem ou derrocagem – com os devidos cuidados com a biota aquática – para garantir o tráfego.
Asfaltar, urbanizar e tornar seguras as rodovias, como a BR-319, BR-174, com as precauções ambientais da legislação e a certeza de facilitar a necessária fiscalização. Isso não comporta mais discussão. Principalmente, depois da crise do oxigênio de 2021, em plena pandemia, um crime que precisa ser apurado. Ou há outra maneira de combater o desmatamento que não seja atribuir-lhe uma função econômica?
Estabelecer aeroportos no interior com voos programados, rotas e supervisão das agências de controle. E, mediante a expansão dos novos negócios que a logística proporciona, no caso da Amazônia sob o signo compulsório da sustentabilidade, construir no beiradão amazônico portos, retroportos e aeroportos. Sem descuidar que a a importância dos eixos estruturantes das hidrovias, rodovias e aeroportos remetem às responsabilidades federais, sem prejuízos das PPPs que, naturalmente, surgirão. E para que todos possam chamá-lo de seu, o PALT, ou seja lá como venha a ser batizado o Plano de Logística, deve mobilizar todos os segmentos interessados ou alcançados em seus desdobramentos. Embora seja arrojado, cabe lembrar que todas as obras começam com o gesto simples de arregaçar as mangas dos bons propósitos.
(*) Coluna follow-up é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, no Jornal do Comercio do Amazonas, sob a responsabilidade do CIEAM, com a coordenação editorial de Alfredo Lopes, consultor da entidade e editor do portal BrasilAmazoniaAgora.