13 de dezembro de 2024

O Norte é competitivo e quer debater soluções de infraestrutura

Aos trancos e solavancos os barrancos ficam mais próximos ao desenho das especificidades geográficas e desafios geopolíticos para quem opta por investir na Amazônia. Felicitações aos participantes do Norte Export e Infrajur, dois acontecimentos que avançam na direção da reindustrialização e da diversificação do polo industrial de Manaus, e na conquista de um novo tempo marcado pela infraestrutura competitiva de que a Amazônia necessita.

Coluna Follow-up (*)

Enquanto a tribo bate cabeça para afirmar seus direitos trabalhistas e de empreendedorismo com CNPJ na Amazônia, no seu programa de redução das desigualdades regionais, previsto na Constituição do Brasil, os mais lúcidos tratam de não deixar a peteca cair. E é na indústria da ZFM onde os gargalos de infraestrutura são os mais críticos, e os mais negligenciados pela governança federal. Eis porque Manaus abrigou neste início de semana, a quarta edição do Norte Export, uma iniciativa para debater e achar saídas para  insensatez nacional de desinvestir em competitividade para assegurar a prosperidade. Ou seja, resta-nos a luta. E junto com o Norte Export, foi realizada a primeira edição do InfraJur – Encontro Regional de Direito de Logística, Infraestrutura e Transportes. O evento analisou questões jurídicas relacionadas com o setor de infraestrutura, sem descuidar do meio ambiente e os impactos legais nos projetos de logística de transportes, fatores ESG e Desenvolvimento Sustentável, os temas discutidos nesse Infrajur.

A escolha de Manaus para ser a sede do Norte Export 2023 e da primeira edição regional do Infrajur ocorre devido à importância da capital, de acordo com a organização. A cidade tem papel fundamental para o comércio exterior e para o setor industrial do Brasil, abrigando a Zona Franca de Manaus e importantes terminais portuários, como a Super Terminais, principal anfitriã do evento.

As soluções logísticas para Amazônia, para situar historicamente a questão, contam uma história de curto apogeu e de atraso secular. Pressionados pelo olhar estrangeiro, os gestores do Brasil central costumam ensaiar movimentações no modo pirilampo. Aquele que acende várias luminárias na escuridão da floresta a nos encher de encanto e expectativas. Momento seguinte as luzes se apagam porque falta combustível natural, vulgarmente chamado vontade política.  

Um desses períodos de clarão ilusório foi a expansão que se deu num curto espaço de três décadas de modernidade, na segunda metade do Século XIX. Foi a partir da abertura às nações estrangeiras da navegação pelos rios da Amazônia, fundamentalmente pelo Rio Amazonas. Isso se deu por pressão mundial desde a Europa, em particular, da Holanda, Reino Unido e Espanha. E contou com o apoio dos Estados Unidos, nas cortes internacionais. Era o Ciclo da Borracha e o mundo sabia que só na Amazônia havia essa matéria-prima que ajudou o mundo a andar mais rápido e ser mais asséptico. Com a quebra deste ciclo por absoluta inépcia do país, os ingleses ficaram mais ricos e a Amazônia voltou a ser o velho almoxarifado de insumos naturais. O recesso na infraestrutura de transportes retrocedeu com o fim da economia da borracha. E até hoje não se deu trela pra valer a essa questão. 

Os ingleses – que foram os mais ousados com investimentos pesados nos estaleiros da Escócia – agregaram 60% de valor à própria economia com os insumos da Amazônia e venda de produtos europeus no leva e traz de mercadorias. De quebra, deixaram fornidos os acervos bióticos de Kew Gardens, o Museu Botânico Imperial, nos arredores de Londres, com preciosas espécies da biota tropical. Eles entenderam a importância de produzir embarcações adaptadas às peculiaridades logísticas da Amazônia.  Além da navegação, a logística portuária estruturada pelos ingleses tinham perspectivas de engenharia centenária, como o Porto de Manaus da Roadway Co. Depois dele, as iniciativas portuárias do Amazonas são verdadeiros monumentos do constrangimento arquitetônico regional. Retrato da negligência atávica que nos envergonha. Manaus à parte, s 61 municípios do Estado não tem estrutura para içar um contêiner. 

Hoje é a Alemanha a maior referência de infraestrutura de logística portuária do planeta, seguida de Holanda, Reino Unido, Bélgica e Singapura. Os tedescos entendem de transporte, alfândega, tempo de importação e exportação, serviço ponto a ponto e muito mais. Um parâmetro de infraestrutura que significa poder em meio à comunidade de países que reconhecem a importância do investimento e planejamento em transporte. China e Singapura, alem dos demais países desenvolvidos da Ásia, seguem, também,  investiram pesado neste setor, o que determinou avanços robustos de suas economias. Desnecessário dizer o uso intensivo de tecnologia.

As entidades da indústria há décadas detectaram o gargalo logístico da economia da ZFM, Zona Franca de Manaus. Baseados na convicção de que soluções logísticas são soluções de fortalecimento da economia, diversificação e adensamento, além da integração regional, nacional e continental. Por isso, buscam  inaugurar um novo tempo, com múltiplas iniciativas que tem mobilizado atores da indústria, da academia e dos prestadores de serviços em torno de soluções criativas e coletivas. Aos trancos e solavancos os barrancos ficam mais próximos ao desenho das especificidades geográficas e desafios geopolíticos para quem opta por investir na Amazônia. Felicitações aos participantes do Norte Export e Infrajur, dois acontecimentos que avançam na direção da reindustrialização e da diversificação do polo industrial de Manaus, e na conquista de um novo tempo marcado pela infraestrutura competitiva de que a Amazônia necessita.

(*) por Alfredo Lopes, consultor do CIEAM e editor do portal BrasilAmazoniaAgora

Alfredo Lopes

Escritor, consultor do CIEAM e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora

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