“O sucesso dessa transição dependerá de colaboração global, investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e da implementação de políticas que promovam a sustentabilidade. O futuro energético parece moldado por uma inevitável metamorfose, mas as ações presentes determinarão o quão suave ou tumultuado será esse processo”.
Por Alfredo Lopes – Coluna Follow-up
O deadline para o declínio fatal na demanda por petróleo, gás natural e carvão foi estabelecido para 2030 nos debates e previsões do Acordo de Paris, em Dezembro de 2015. O agravamento assombroso dos fenômenos climáticos extremos, porém, sugere medidas mais ousadas pois o pior já está fazendo parte do dia a dia. Calor extremo é letal. Alguém duvida?
Alertas da AIE, Agência Internacional de Energia, organismo ligado a OCDE, Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico, sinaliza a transição iminente e urgente para fontes mais sustentáveis. A aceleração desse processo, impulsionada pela crescente adoção de energia solar, eólica, nuclear e hidrogênio verde, levanta questionamentos sobre o período de predominância/sobrevivência do petróleo e seus sucedâneos.
Embora a exaustão do petróleo seja uma certeza a longo prazo, muitos especialistas já trabalham abertamente com a antecipação de 2030 no contexto dos crescentes episódios de temperatura extrema. Um indicador notável é o aumento expressivo na produção de carros elétricos, como evidenciado pelos 6,9 milhões de unidades na China em 2022, representando um aumento expressivo de 93,4% em relação a 2021. Além disso, as 40 principais fabricantes de veículos elétricos distribuíram 350.000 unidades em nove países europeus no mesmo período.
Esses dados refletem uma mudança paradigmática na indústria, particularmente a automotiva e indicam a urgência de acelerar a transição para fontes de energia mais limpas. Contudo, apesar dos avanços, desafios tecnológicos, econômicos e infraestruturais que ainda se apresentam, o petróleo resiste. O sucesso dessa transição dependerá de colaboração global, investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e da implementação de políticas que promovam a sustentabilidade. O futuro energético parece moldado por uma inevitável metamorfose, mas as ações presentes determinarão o quão suave ou tumultuado será esse processo.
Na Amazônia, algumas alternativas energéticas promissoras se destacam à luz das respectivas viabilidades, ambiental e econômica. A energia hidrelétrica segue como opção significativa, aproveitando os numerosos rios da região. Impõe-se, entretanto, a consideração determinante dos novos riscos de vazantes severas como a deste ano. Embora sazonal, o fenômeno assombrou os mais pessimistas dos climatologistas.
Controvérsias à parte, a energia solar pode ser explorada devido à alta incidência de luz solar na Amazônia. Projetos que integram sistemas híbridos, combinando energia solar com armazenamento de baterias, também mostram potencial.
Outra alternativa é a bioenergia, aproveitando a vasta biomassa disponível na região. Isso inclui a produção de biogás a partir de resíduos orgânicos e a geração de energia a partir de biomassas renováveis. Temos algumas experiências bem-sucedidas da Amazônia que podem ser aperfeiçoadas na medida em que as instituições de pesquisa conquistem recursos para esse fim.
Importante notar que a implementação dessas alternativas deve ser cuidadosa para preservar a biodiversidade da Amazônia, ou seja, manter a floresta em pé. Sem desconsiderar as necessidades das comunidades locais. A sustentabilidade ambiental e social deve ser critério essencial e absoluta prioridade na busca por soluções energéticas na região.
O anúncio de algumas medidas feito pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad e Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, relacionadas à transição energética no Brasil, foi apresentado a dezenas de movimentos sociais e ambientais nesta sexta-feira (17) de novembro em São Paulo. São remissas, um tanto quanto atrasadas, do Plano de Transformação Ecológica, com foco inicial na indústria e no setor energético. Além de solar e eólica, o plano foca em hidrogênio e diesel verdes e a remoção do petróleo, carvão e gás, vilões da crise climática.
Como o Plano de Transformação Ecológica vai tratar de estabelecer um limite para o uso de combustíveis fósseis no Brasil se o governo ainda transpira e depende dos combustíveis fósseis para sair do lugar? A discussão precisa fazer parte de uma abordagem mais ampla para a transformação energética na perspectiva de salvar as condições de vida no planeta. Os dois ministros receberam um Documento de 61 organizações ambientais da sociedade civil, instando o Brasil a liderar um acordo global para o fim dos combustíveis fósseis. Uma encruzilhada vital e, ao mesmo tempo, letal.
É delicada e complexa a operação pois o petróleo está na estrutura das relações econômicas dos países desenvolvidos e emergentes como o Brasil e sinaliza o poder dos produtores e exportadores desse combustível. O Brasil, a pedra no sapato dos que temem a virada, tem enfatizado como argumento tangencial que a decisão sobre a exploração de petróleo cabe ao Conselho de Política Energética. Entretanto, é emergencial que o pais lidere, ou faça por merecer essa liderança, no debate global sobre o fim da exploração de petróleo.
(*) Coluna follow-up é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras no Jornal do Comercio do Amazonas, sob a responsabilidade do CIEAM e coordenação editorial de Alfredo Lopes, consultor da entidade e editor do portal BrasilAmazoniaAgora