Bolsonaro e Lula acirram a disputa presidencial na reta final das campanhas para o segundo turno das eleições. Ontem, o líder petista se reuniu em São Paulo com religiosos cristãos católicos durante atividade de campanha à tarde. Em sua fala, o petista mencionou a divisão causada no País pelas divergências políticas e citou ataques recentes sofridos por padres durante a realização de missas.
“Eu nunca tinha visto o Brasil tomado pelo ódio, como uma parte da sociedade brasileira está hoje. Eu tenho lido notícias de padres atacados durante a missa porque estão falando da fome, da pobreza e da democracia. Eles estão sendo atacados por pessoas que sempre conviveram com a gente e a gente não sabia que essa pessoa tinha tanto ódio dentro dela”, disse.
Na contraofensiva, Bolsonaro diz que o PT trabalha novas estratégias para colocar na Presidência da República a mesma quadrilha que dilapidou os cofres do Brasil, nos esquemas do mensalão e do petrolão. “Não entendo como um ex-presidiário pode estar disputando novamente uma eleição para colocar no poder os seus mesmos comparsas”, ataca o presidente.
Lula criticou o que chamou de “direta raivosa”, que tem ampliado sua influência na política não apenas no Brasil, mas em muitos países. “Estamos vendo a direita ganhar espaço em muitos lugares, uma direita raivosa. Pessoas que não conhecem a palavra democracia, a palavra respeito”.
O candidato afirmou que, se eleito, retomará a realização das conferências setoriais, com ampla participação social, para a formulação de políticas públicas. Ele destacou que mais de 70 conferências nacionais foram realizadas durante a gestão petista no governo federal.
“Eu tenho a experiência de que, só tem sentido eu estar nessa disputa, se a gente tiver como obrigação que o povo decida as políticas que o governo vai colocar em prática nesse país”, afirmou.
Pela manhã, o ex-presidente fez uma caminhada no bairro de São Mateus, na zona leste de São Paulo, com a participação de aliados. Durante o ato de campanha, Lula prometeu que o comércio vai voltar em seu governo. “Nós vamos tomar a atitude de recompor o poder aquisitivo do povo brasileiro”, disse.
Segundo o ex-presidente, o salário mínimo não tem aumento real há pelo menos cinco anos e garantiu que vai retomar a política de valorização do piso nacional. “O salário mínimo é ganho por 36 milhões “de pessoas), dos quais 22 milhões são aposentados”, disse. “O salário mínimo não aumenta, prejudicando as pessoas que recebem pensão e aposentadoria e que estão há cinco anos sem receber o reajuste”.
Nota abre Perfil
Estratégia é não vacilar nas falas
Bolsonaro e Lula acirram a disputa na reta final da campanha do segundo turno. Em geral, os dois não têm dedicado muito atenção para o que falam. Vez por outra, cada um é massacrado pelo que diz. E vice-versa. O presidente tem sido impactado negativamente pelas suas declarações bombásticas. A mais nova, que teve grande repercussão nas redes sociais, foi ‘pintou o clima’. Ele relatou o caso de ter encontrado meninas venezuelanas se embelezando, hipoteticamente para prostituição, quando soltou a frase. Argumento que usou para alertar o que seria um novo governo do PT.
Não vingou. O tiro saiu pela culatra. Foi acusado de pedófilo por toda a esquerda. A grita foi geral, repercutindo no Congresso e nas redes sociais. A primeira-dama Michelle Bolsonaro saiu em defesa do marido. “É uma frase que ele usa rotineiramente. Mas desvirtuaram o sentido”, contestou. Depois disso, o marketing dos dois oponentes redobrou os cuidados para não acumular desgaste a poucos menos de duas semanas das eleições do dia 30.
Ataques
Bolsonaro e Lula investiram nos ataques durante o debate na Band News em parceria com o portal Uol, no domingo, chegando a destronar a audiência do ‘Fantástico’, da Rede Globo, dona do horário em que pelo menos 90% de todos os brasileiros estão sintonizados. O presidente lembrou dos esquemas de corrupção que sangraram as contas do País durante o governo do líder petista. Na contraofensiva, o ex-presidente focou a pandemia, ignorada pelo oponente, culminando em quase 700 mil mortes.
Papagaio
O ex-juiz Sérgio Moro, agora eleito senador da República pelo Paraná, acompanhou Bolsonaro no debate com Lula, no último domingo. A distância, o então inimigo do presidente acompanhava com muita atenção o embate entre os dois oponentes, como um papagaio de pirata. Um paradoxo. Não faz tempo se engalfinhou com o chefe do Executivo nacional em tretas que tiveram bastante repercussão no Brasil. Porém, agora foram aparadas as arestas. Decidiram estar juntos para derrotar o líder do PT.
Atentado?
O bolsonarismo chegou a especular um atentado no susto que sofreu a equipe de Tarcísio de Freitas, ex-ministro e candidato ao governo de São Paulo, durante a inauguração de um polo universitária no interior paulista, na manhã de ontem. Jornalistas e organizadores da campanha do postulante ao governo estadual, que tem como adversário Fernando Hadadd (PT), foram obrigados a se jogar no chão para se defender de um intenso tiroteio. Até Tarcísio fez o mesmo. Mas ninguém se feriu.
Atentado 2?
Posteriormente, a Policia Militar de São Paulo soltou uma nota dizendo que o tiroteio não teve nenhuma ligação com a visita da comitiva de Tarcísio Freitas. Dois homens estavam envolvidos no caso. E um morreu baleado. No entanto, as autoridades de segurança ainda investigam o episódio. Nesta altura do campeonato, muitos se aproveitam de situações para prejudicar os candidatos, tanto da parte do PT como do PL. E vale tudo na luta do MMA político para vencer as eleições do dia 30.
Virou
Derrotado nas eleições para o Senado pelo Amazonas, Arthur Virgílio Neto (PSDB) virou a casaca. Ontem, ele esteve no Palácio da Alvorada para declarar pessoalmente a Bolsonaro o apoio à sua reeleição. Intrigante. O velho cacique amazonense foi um crítico contumaz do chefe do Planalto. No encontro, o tucano disse que o lado de Bolsonaro “é melhor” e “mais justo”. O ex-senador José Agripino Maia (UB) acompanhou Neto na visita. O ex-prefeito de Manaus foi ministro no governo FHC.
Direção
Humberto Michiles (PSDB), vice na chapa de Amazonino Mendes (Cidadania), tomou outro caminho no segundo turno das eleições, que acontece dia 30 de outubro. No sábado (15), ele anunciou o apoio à candidatura de Eduardo Braga (MDB) que enfrenta o atual governador Wilson Lima (UB), candidato à reeleição. “Quem está ao lado de Braga é corajoso por estar se expondo”, ressaltou durante coletiva à imprensa. Ao contrário, o ex-governador do Estado decidiu pela neutralidade. Interesses divididos.
Pesquisas
Cresce a pressão. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), incluiu a discussão sobre a urgência do projeto que pune e criminaliza institutos de pesquisa na pauta da sessão deliberativa desta terça-feira (18), apesar da resistência manifestada por partidos da base do governo de Jair Bolsonaro (PL) em votar a proposta em momento eleitoral. Para ser aprovada, a matéria precisa do apoio de pelo menos 257 deputados. Depois disso, Lira poderia pautar o projeto no plenário com menos resistência.
Rabo
Muito rabo preso na nova legislatura do Congresso. Pelo menos 40% dos 202 eleitos pela primeira vez para um mandato na Câmara foram alvos de processos ou de investigações nos últimos anos, por suspeitas que envolvem calúnia, mau uso de recursos públicos, estelionato e até homicídio. Serão aproximadamente 80 parlamentares que têm em seus históricos possíveis práticas de crimes ou que responderam a processos criminais ou civis que podem gerar inelegibilidade.
FRASES
“Aqui não tem nenhum covarde”.
Humberto Michiles (PSDB), ex-candidato, ao declarar apoio a Eduardo Braga (MDB).
“Antes de morrer, ele aterrorizou a população”.
Ricardo Cunha, delegado de Homicídios, sobre morte de Junior Menor.