Ninguém consegue frear o crime organizado, que voltou a invadir territórios indígenas em Roraima. Quase um ano após o governo federal colocar em prática uma série de ações emergenciais para fazer frente a crise humanitária que se abateu sobre a Terra Indígena Yanomami, o Ministério da Saúde revelou que ainda há na região locais onde o garimpo não permite aos profissionais de saúde atuar “com a segurança necessária”.
A manifestação ministerial consta em nota que a pasta divulgou em resposta a notícias publicadas, no último dia 10, sobre o recente socorro prestado a crianças yanomami desnutridas. “Sobre as imagens divulgadas por veículos de imprensa, trata-se de um resgate de três crianças em situação de desnutrição feito por profissionais do Ministério da Saúde em uma comunidade na fronteira com a Venezuela, em uma operação de alto risco devido à presença de garimpeiros”, informou o ministério, acrescentando que, devido à falta de segurança no local invadido, a ação teve que ser realizada rapidamente.
“Esse é um dos locais onde o garimpo não permite a segurança necessária para a entrada de profissionais de saúde”, acrescentou a pasta, destacando que, apesar disso, as ações que o governo federal implementou na região durante o ano de 2023 já permitiram que seis polos-base que estavam fechados devido a “ações criminosas” fossem reabertos, permitindo que 307 crianças diagnosticadas com desnutrição grave ou moderada fossem atendidas e se recuperassem.
No próximo dia 20, fará um ano que o ministério decretou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional com o objetivo de restabelecer os serviços de saúde e socorrer parte dos cerca de 30,4 mil yanomamis que vivem espalhados pela maior terra indígena do Brasil – com cerca de 9,6 milhões de hectares, a reserva abrange parte do território de Roraima e do Amazonas. Cada hectare corresponde, aproximadamente, às medidas de um campo de futebol oficial.
Homologado em 1992, o território de usufruto exclusivo yanomami segue sofrendo com a ação ilegal de garimpeiros e madeireiros cujas atividades destroem o meio ambiente e favorecem a disseminação de doenças entre os indígenas. Situação que, no início do ano passado, culminou com a comoção suscitada pelas imagens de crianças e adultos yanomamis desnutridos e pela informação de que centenas de crianças indígenas morreram, no interior da reserva, por desnutrição e outras causas evitáveis.
Em resposta, além de decretar Emergência em Saúde Pública, o governo federal instituiu um Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária e determinou a suspensão de autorizações de ingresso à terra indígena. A Força Aérea Brasileira (FAB) intensificou o controle aéreo na região, limitando a área de voos, enquanto órgãos ambientais e as forças de segurança pública deflagraram ações conjuntas de combate ao garimpo e à extração de madeira.
No balanço que divulgou, o Ministério da Saúde afirma que ampliou de 690 para 960 o número de profissionais atuando no território yanomami, incluindo a contratação de 22 nutricionistas, e realizou mais de 140 mil exames para detecção de malária. A pasta também assegura que investiu mais de R$ 220 milhões para reestruturar o acesso à saúde dos indígenas da região – valor que afirma ser 122% superior ao investido em 2022 – e, com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), distribuiu cerca de 5 toneladas de fórmulas nutricionais às comunidades locais.
Na quarta-feira (10), um grupo de ministros e representantes de vários órgãos federais estiveram na Terra Indígena Yanomami a fim de inspecionar a situação. A visita ocorre um dia após o Palácio do Planalto anunciar que, este ano, pretende investir R$ 1,2 bilhão no território yanomami. A proposta federal é implantar, de forma permanente, uma Casa de Governo na região e concentrar a atuação permanente dos órgãos federais na segurança e acesso a políticas públicas pelos indígenas.
Nota abre Perfil
Convergência do comércio
Em outras épocas, o Centro de Manaus centralizava grande volume de negócios. Porém, agora uma situação atípica pode ser observada naquela região – apenas as grandes redes de lojas permanecem no local, uma demonstração de que as estratégias comerciais convergem para outras localidades da capital. As áreas periféricas se desenvolveram substancialmente, obrigando empresas a se deslocarem para bairros, dando mais comodidade ao consumidor. É a nova pegada dos lojistas.
“Com a alta competividade, hoje as lojas buscam os clientes, facilitando a aquisição dos produtos, um aspecto que faz diferença na hora de vender”, diz o consultor e economista Raivam Berg, especialista em comércio. “Se o cliente não vem, os empresários vão até eles”, acrescenta ele. Portanto, investir na zona de conforto é estratégico para alavancar as compras.
Comodidade
Experimentamos uma nova realidade em Manaus. A cidade se expandiu, principalmente em direção à periferia. Bairros das zonas norte e leste reúnem praticamente todas as condições para atender às necessidades da população. Hospitais, grandes redes de varejos, bancos, drogarias, enfim, toda as infraestruturas necessárias de uma zona urbana desenvolvida, para oferecer as mais diversas demandas. Poucos ainda buscam se deslocar para o Centro. Só em casos específicos.
Abandono
O Centro da cidade já foi uma vitrine para os visitantes. E também para os manauaras e amazonenses, como um todo. Mas, hoje, há um cenário negativo que compromete o turismo – a área urbana está degradada, dando um aspecto carcomido a uma região, que outrora agregou prosperidade, gerou empregos e renda, consubstanciando-se com o visual do Centro Histórico, marca do apogeu da borracha, incrustado por prédios de alto relevo, bem peculiares da época, cujo maior representante é o Teatro Amazonas.
Abandono 2
Mendigos perambulam pelas ruas do Centro da Capital, um sinal de que a riqueza gerada pelo modelo ZFM está restrita a apenas uma pequena parcela da população amazonense. São tantos pedintes que geram insatisfação junto aos consumidores. É imprescindível uma política social mais agressiva para resgatar pessoas de alta vulnerabilidade, uma contrapartida que poderia amenizar a situação de pobreza e miséria que afeta um grande contingente populacional. É o retrato da Manaus atual.
Shoppings
Modernos e luxuosos, os shoppings oferecem tudo em um só lugar. Pelo menos seis deles lideram o segmento em Manaus. Mas tanta exuberância e arrojo não estão acessíveis a todos. Além da comodidade e de segurança, como também das farras gastronômicas, os centros comerciais voltam-se principalmente para os que detêm um maior poder de compra, em detrimento de outros estratos sociais, uma inversão da sociedade que se diz pretensa promovedora de maior igualdade de renda.
Cará
Apreciado pela população amazonense, o preço do cará quase triplicou em Manaus. Segundo órgãos de apoio ao produtor, a alta estiagem de 2023 impactou negativamente nos valores do produto comercializado na capital. A banana também está acessível para poucos. E não tem a mesma qualidade de antes – são extremamente pequenas, com quase ou nada de espessura para induzir o consumidor à compra. É outro produto que sofre as consequências de uma seca severa na região.
Chuvas
A estação chuvosa castiga o Brasil, do Oiapoque ao Chuí, causando estragos e milhares de famílias desabrigadas. Consultada, a Defesa Civil do Estado informou que já está em execução um plano de contingência para enfrentar as adversidades desta época, tanto em Manaus como nos municípios do interior. Pela que observamos durante a estiagem atípica de 2023, estima-se que a enchente deste ano pode ser avassaladora, superando inclusive até as impactantes de outras épocas. Precisamos estar preparados.
Eleições
Ela investe em voos mais altos na política local. A deputada estadual Alessandra Campêlo é cogitada para ser vice de Roberto Cidade na disputa pela prefeitura de Manaus nas próximas eleições. Os dois fazem parte do grupo do atual governador do Amazonas, Wilson Lima (UB), agora em seu segundo mandato no cargo. Estão se preparando para enfrentar o prefeito David Almeida (Avante), que tentará a reeleição, e hoje lidera as pesquisas de intenções de voto. A disputa deverá ser muito acirrada.
Oposição
Lula enfrentou até fogo amigo ao escolher Ricardo Lewandowski para ministro da Justiça. Nem todos veem com bons olhos o ex-integrante do STF para comandar uma pasta de tanta importância. Competência ele tem de sobra. O problema é que seus arroubos e decisões nem sempre estão de acordo com as expectativas da esquerda, que detêm hoje o poder central. Sem dúvida, há muitos interesses engendrados nos bastidores do Congresso para cooptar mais vantagens no alto escalão do governo.
FRASES
“Desenvolvemos mais ações sociais”.
David Almeida (Avante), prefeito, sobre novas medidas.
“É um extraordinário ministro”.
Lula (PT), presidente, ao anunciar Ricardo Lewandowski para a Justiça.