2 de novembro de 2024

“Economia e academia: a indústria 4.0 precisa de profissionais qualificados”

É de extrema importância que o universo acadêmico esteja totalmente alinhado com os avanços tecnológicos. Na equação entre economia e academia, indústria 4.0 precisa profissionais qualificados para poder empinar. Este é o posicionamento de Sérgio Capela, um gestor por vocação e mérito, com três décadas de batente na ZFM. Ele é do tipo que não foge dos desafios da indústria e da sociedade amazonense e amazônida. Durante a pandemia, circulava pelas instituições sociais de Manaus, distribuindo cestas de alimentos para os segmentos mais vulneráveis alcançados pela COVID-19. Conselheiro do CIEAM, sua liderança se destaca pela defesa da certificação das empresas e sua inserção no mercado internacional. Confira o bate-papo. Por Alfredo Lopes – Coluna follow-up e portal BrasilAmazoniaAgora 

  1. Coluna Follow-up  –  O polo eletroeletrônico da ZFM, aquele que mais permitiu agregação de valor ao perfil produtivo no polo industrial de Manaus, já experimenta os avanços da indústria 4.0. Na sua opinião, qual o papel das instituições tradicionais de ensino e pesquisa para acelerar este decisivo processo?  

Sérgio Capela: É de extrema importância que o universo acadêmico esteja totalmente alinhado com os avanços tecnológicos. Na equação entre economia e academia, indústria 4.0 precisa profissionais qualificados para poder empinar. A velocidade em que as inovações ocorrem é cada vez mais rápida e intensa.  E cada vez mais as inovações, no segmento industrial, ocorrem com o objetivo de aperfeiçoar as operações de manufatura visando maior produtividade e qualidade.  São operações e etapas às quais o ser-humano não consegue mais atender. Os produtos com alta tecnologia – e o diferencial em design dos produtos – requerem operações de processamento que exigem critérios de produção e montagem com especificações extremas. Daí a importância fundamental da interatividade robótica  colaborativa e o aperfeiçoamento do maquinário através dos avanços da indústria 4.0. As instituições tradicionais de ensino e pesquisa estão convidadas para celebrarmos juntos a transformação. 

  • FUp – A indústria da ZFM, entre suas diversas contribuições ao poder público, mantém integralmente a Universidade do Estado do Amazonas. Este fato não deveria fortalecer esse ambiente de colaboração mútua? 

Capela – Faz bem pouco tempo que a indústria tem assento em colegiados da UEA. E isso é uma pauta já debatida e, acredito, reforçada. E está será uma interlocução de ganha-ganha, com certeza. A indústria no patamar 4.0 vai ampliar seu índice de colaboração. Ganha a indústria, a academia e a sociedade. Eis porque as instituições tradicionais de ensino e pesquisa, juntamente com a UEA, devem estar aptas e atualizadas a fomentar todo este processo através da formação de profissionais que estejam habilitados  a dar suporte ao movimento 4.0. É preocupante essa carência imensa de profissionais que possam atuar nas organizações que estão mais embarcadas num processo de inovação 4.0. E isso pode ser sanado através de formação de parcerias sólidas entre as empresas e as instituições de ensino na formação de mão de obra qualificada. Assim procedendo, asseguramos as condições de continuar evoluindo no processo de inovação e aperfeiçoamento da indústria 4.0 nas organizações. De quebra, vamos entrar pela porta da frente da economia mundial acompanhado das certificações, incluindo agenda ESG e outras relacionadas à indústria 4.0. 

  • FUp – A produção de semicondutores é um desafio que faz parte do cotidiano da empresa que você dirige, a Visteon Amazonas. Já podemos sonhar em atender a demanda nacional deste suprimento? Quais os passos necessários para acessar este patamar de conquistas?

Capela – A tecnologia na produção dos semicondutores é algo extremamente especifico e que requer um alto investimento na construção de toda uma estrutura de produção para atender tais necessidades. As especificidades e os critérios na fabricação de semicondutores requerem milhões de dólares de investimento, além dos royalties a serem pagos para os detentores da tecnologia destes componentes. A não ser que haja um apoio estratégico e visionário do governo federal ao incentivo da instalação deste tipo de operação no País, isso não irá ocorrer por simples proatividade daqueles que hoje produzem ou possuem a tecnologia para tal. Trata-se, portanto, de uma decisão mais política do que tecnológica, pois a indústria está travada pela dependência desse suprimento. 

  • FUp – Sua empresa se integrou de corpo e alma no monumento voluntário da ASI, Ação Social da Indústria da ZFM para atender o flagelo social da pandemia, de 2020-22. Com repasses robustos para o setor público, a indústria descobre que isso não tem chegado ao seu destino. Que sugestões você daria para mudar este quadro?

Capela – Um acompanhamento mais intenso pelos órgãos federais de fiscalização  através de auditorias e comprovações da correta empregabilidade dos recursos assim destinados. O segmento privado não tem autoridade, nem autonomia para tal. Entretanto,  e com certeza, sempre que for preciso e necessário continuaremos fazendo a nossa parte pensando sempre no bem estar da comunidade, prezando pela saúde e bem estar da população. Sabemos que o poder público deve e pode fazer muito mais. Porém, ao invés de ficarmos somente na reclamação e passividade, continuaremos nossa parte através das ações do nosso movimento de ação social pelo Centro da Industria do Estado do Amazonas. 

  • FUp – Bioeconomia é uma das modulações econômicas mais recomendadas para o desenvolvimento da Amazônia no debate da reforma tributária. Como liderança empresarial, o que você recomenda para diversificar e interiorizar a economia a partir da indústria? 

Capela – Entendo que o fortalecimento de uma política de incentivos e inovações em bioeconomia será o melhor caminho para o desenvolvimento deste segmento em nosso país. Falando sobre o segmento em que atuo, já existem em países da Europa uma variedade de veículos sendo manufaturados com desenvolvimento e inovações em ambiente de bioeconomia, mas tudo isso através de um incentivo relevante e uma constante participação dos governos no fomento e na contrapartida fiscal para o desenvolvimento de utilização de produtos cada vez mais sustentáveis e ecológicos. Este é um caminho sem volta. 

(*) Sérgio Capela é engenheiro de produção pós-graduado pela UFAM, HSM University e FEI, com mais de três décadas de experiência na gestão industrial na ZFM. Presidente do SINAEES – Sindicato da Indústria de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Estado do Amazonas,  Conselheiro do CIEAM e Director Plant Management – Visteon Corporation Amazonas, escolhida em 2022 como a melhor empresa para se trabalhar, pela Great Place To Work – GPTW e certificada na modelagem de governança ESG pelo Bureau Veritas. 

Alfredo Lopes

Escritor, consultor do CIEAM e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora

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