A data é 30 de dezembro de 2022. Enquanto muitos se reuniam entre familiares e amigos para se despedirem do ano velho e darem as boas-vindas a 2023, uma equipe do 4º Batalhão de Aviação do Exército (4º BAVEx) recebia a ordem de decolar de Manaus, AM, com destino a Surucucu, RR, a fim de resgatar crianças em situação de emergência médica em três comunidades indígenas Yanomami. Uma missão desafiadora e meticulosa que demonstrou o comprometimento e a eficiência daqueles militares.
As operações tiveram início nas primeiras horas do dia, com a elaboração do plano de voo e a preparação minuciosa da aeronave. Obstáculos como a instalação de tanques auxiliares e a seleção dos materiais essenciais foram considerados pela equipe de planejamento, levando sempre em consideração a relação entre a carga a ser transportada e a autonomia da aeronave. Após aproximadamente três horas de voo sobre a selva, a equipe pousou na Base Aérea de Boa Vista (RR), onde foram recepcionados pelo Comandante do Comando de Fronteira de Roraima/7º Batalhão de Infantaria de Selva (CFRON/7º BIS), que a partir daquele momento também incorporava àquela missão.
Após a conclusão do reabastecimento, a equipe enfrentou mais uma hora e meia de voo até alcançar o 4º Pelotão Especial de Fronteira – Surucucu. As condições médicas urgentes das crianças demandavam cuidados imediatos. Ao todo, 20 pessoas das comunidades Kunamariú, Hokomaua e Yaritobi foram evacuadas para o Polo Base Surucucu, do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI Yanomami), graças ao esforço incansável não apenas das equipes aéreas, mas também à coordenação precisa das atividades que permitiram o contínuo progresso do resgate.
Isso marcou apenas o começo de uma série de ações realizadas pelo Comando Militar da Amazônia (CMA), em ação tanto no Comando Conjunto Amazônia como também Fronteira Norte, durante os primeiros seis meses de atuação na Terra Indígena Yanomami (TIY), em conjunto com as Forças Armadas e outras agências e órgãos. Desde então, quase 30 mil cestas básicas foram enviadas, e mais de 130 garimpeiros ilegais tiveram suas operações encerradas.
Nas operações, tanto as de ajuda humanitária quanto as destinadas à repressão de crimes ambientais, foram empregadas mais de mil horas de voo, utilizando um total de 63 meios aéreos, terrestres e marítimos. Mais de 1,2 mil militares atuaram em regime de prontidão, operando 24 horas por dia, sete dias por semana. Adicionalmente, foram conduzidas Evacuações Aeromédicas (EVAM) em apoio à Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), resultando em cerca de 200 evacuações, três mil atendimentos médicos, o transporte de 350 indígenas e o lançamento de mais de 700 toneladas de cargas.
O Centro de Operações Integradas (COI), encarregado de consolidar os resultados da Operação Ágata Fronteira Norte, estima que até o presente momento tenham sido apreendidos 743 equipamentos, recuperados 40 mil quilos de cassiterita e 1.675 gramas de ouro, além da desativação de 385 barracas e acampamentos, e a detenção de 131 garimpeiros ilegais. O impacto financeiro estimado alcançou mais de R$ 44 milhões.
Todas essas iniciativas evidenciam não apenas os desafios enfrentados pelo CMA, mas também pelas Forças Armadas, agências e órgãos comprometidos em combater a desnutrição, a exploração humana e a degradação ambiental na Amazônia Ocidental, com o objetivo de preservar os recursos naturais para as gerações futuras. Isso reflete o comprometimento das instituições envolvidas na luta contra o garimpo ilegal e na salvaguarda das comunidades indígenas.
Enquanto isso, em outra parte da Amazônia Ocidental, especificamente nas regiões do Vale do Javari e da Tríplice Fronteira, o CMA também conduzia operações contra o garimpo ilegal em territórios indígenas. Militares da 2ª, 16ª e 17ª Brigada de Infantaria de Selva (Bda Inf Sl), em colaboração com agências ambientais e órgãos de segurança pública entravam em ação. Ao todo, todo essse esforço integrado já conseguiu inutilizar mais de cem balsas de garimpo ilegal somente neste ano. Essas embarcações foram localizadas por meio de um levantamento de inteligência eficaz e por patrulhas fluviais realizadas em diversos rios da área.
Cada balsa utilizada em garimpo ilegal, cujo valor estimado médio é de R$ 600 mil, tem a capacidade de extrair cerca de 2,5 quilos de ouro por mês, gerando um lucro de mais de R$ 800 mil no mercado clandestino. Dessa forma, o prejuízo para a atividade de garimpo na região chega a quase R$ 7 milhões em um único mês. O CMA tem intensificado o patrulhamento nas áreas da Tríplice Fronteira e do Vale do Javari, deslocando recursos logísticos, meios aéreos e capacidades de inteligência para essa região.
Isso reflete claramente o Braço Forte do Exército na Amazônia Ocidental, enfrentando crimes transfronteiriços e ambientais, como garimpo, pesca e caça ilegais, tráfico de drogas e armas, além da exploração madeireira ilegal. Ao mesmo tempo, essa atuação é sempre acompanhada pela Mão Amiga da prestação de assistência às comunidades mais remotas e distantes, independentemente de sua localização geográfica, reforçando o compromisso da Instituição com a ajuda humanitária e o apoio às populações amazônidas.
Nessa mesma direção, o CMA tem realizado uma série de ações essenciais às comunidades locais, além das operações. Diversas etnias, como os Mayuruna, Marubo, Matis, Kanamari, entre outras, têm recebido atendimento médico e odontológico na região do extremo oeste do Amazonas. Essa iniciativa se traduziu em um total de 827 consultas e 1706 procedimentos, englobando vacinações, exames laboratoriais e a colaboração de várias especialidades médicas.
No cenário desafiador da Amazônia, a implementação de métodos modernos e adaptados para monitorar e integrar todas essas atividades, tanto operacionais quanto de auxílio à população, torna-se indispensável. Nesse contexto, o uso de tecnologia de ponta em monitoramento e inteligência, especialmente nos Pelotões Especiais de Fronteira, desempenha um papel crucial no sucesso das operações. Adicionalmente, o aprimoramento das missões de apoio e instrução aos militares, focando em técnicas, táticas e procedimentos de Guerra na Selva, inteligência e logística, tem se revelado como um dos principais fatores determinantes para alcançar êxito nessas empreitadas.
No primeiro semestre de 2023, as operações do Comando Militar da Amazônia resultaram em uma redução significativa nos índices de crimes transfronteiriços e ambientais no Vale do Javari, graças à presença constante do Exército Brasileiro, que zela pela soberania do Brasil na Amazônia Ocidental.
Toda essa história se enreda como a selva densa, mas a mensagem é clara. No coração da Amazônia, onde o mundo é vasto e os desafios são infinitos, o Exército Brasileiro se ergue com outros parceiros como guardião da selva brasileira. O “Braço Forte” e a “Mão Amiga” se entrelaçam, e juntos forjam um escudo de defesa contra os ventos sombrios da exploração ilegal, da degradação e do crime ambiental. Nessa imensidão, militares escrevem (e continuarão a escrever) uma história de heroísmo, resiliência e esperança, onde estamos o tempo todo presentes nas cidades, rios e floresta, em prol de uma Amazônia cada vez mais protegida e mais desenvolvida. SELVA!