11 de dezembro de 2024

Valor da escolha

  Qual o valor de uma escolha que não seja comercial ? A escolha do nome de um filho, a decisão de namorar e principalmente de casar , o credo  religioso ou filosófico, os amigos, nosso time de coração e tantas outras opções que temos ao longo da vida … Que não são – ou pelo menos não deviam ser – escolhas comerciais. Por que na Política teria de ser diferente e muitas vezes  têm sido assim? Como explicar e aceitar a mercantilização das eleições ? Quais as consequências deste processo avassalador do poder econômico sendo usado para beneficiar uns em detrimento de outros, quase sempre em desfavor daqueles que são imbuídos de honestidade de propósitos ?

  Na América Latina, à exceção talvez de Chile e Uruguai, o enriquecimento ilícito de políticos no poder parece ter se tornado uma regra geral, infelizmente. Para mim, o mais triste é observar os mais excluídos, vulneráveis e empobrecidos alimentarem o ciclo vicioso que os aprisiona, sem que percebam o contrassenso disso. 

   Votos trocados por favores individualizados, promessas absurdas,  bens materiais ou compromissos espúrios destroem a essência do que deve ser uma democracia : o regime em que o povo escolha seus legítimos representantes. Se o povo escolhe os “compradores” de votos está se oferecendo como futura vítima de seus algozes, por passageiras benesses e/ou quimeras inatingíveis. Vai pagar a amarga conta da corrupção que lhes tira a oportunidade de viver melhor, de sair da sua situação de exclusão. Pior, em prejuízo da própria família, do futuro de filhos e netos.

   O que tem me decepcionado mais é exatamente essa facilidade de pessoas muitas vezes bem intencionadas caírem na tentação de dois meses de ilusão. E depois voltarem à mesma deplorável situação. As vezes me parece que se trata de um entorpecente psicológico que retira o tirocínio de quem se deixa inebriar por um fugaz período de ventura, que se torna rapidamente de desventura.

   A Política, desde a sua concepção aristotélica, representa um instrumento pacífico para mediar os conflitos de interesse da sociedade. Como se pode constatar, quando a Política fracassa vem a revolta, a violência e até a guerra! As pessoas que mercantilizam suas escolhas eleitorais  contribuem – as vezes sem perceber – para desmoralizar algo que é fundamental para a garantia de direitos dos menos favorecidos. Favorecem os exploradores da boa fé para que continuem a lhes explorar.

   E esta “doença” de corrupção eleitoral pode estar disfarçada de legalidade. Eu me impressiono quando campanhas arquimilionárias se expressam de modo escandaloso com campanhas cujas graves irregularidades parecem despercebidas dos órgãos de fiscalização eleitoral. De fato, é muito mais fácil coibir pequenas falhas do que evitar grandes erros. Triste.

    Mas ainda não desisti da Esperança. Continuo a acreditar que é possivel  resgatar a Política do estado de descrédito  em que se encontra, a fim de  que seja instrumento valioso do Bem Comum.

Luiz Castro

Advogado, professor e consultor

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