10 de dezembro de 2024

O necessário é urgente monitoramento ambiental

Avaliar e ser avaliado é um processo… e necessário. A avaliação não se resume ao instrumento de condenação, ou preconceito. Antes, deve compreender-se na ferramenta mais acessível à renovação, inovação, de metas, prioridades e resultados.

Como professor, uso de diversos instrumentos de avaliação para depurar meu oficio de bem formar recursos humanos, aprimorando processos de ensino aprendizagem.

Um hidrômetro avalia o comportamento diário/mensal do consumidor no uso da água. E, cuidar da água é cuidar do bolso.

Um exemplo: os profissionais de saúde bucal nos orientam que o ato de escovar os dentes deve durar em média 2 minutos. Sem os devidos cuidados, uma torneira aberta durante a escovação corresponderá à ‘perda’ de aproximadamente 30 litros de água tratada. A conta no final do mês vai “doer na carteira”.

A relação de comando e controle nas organizações foi o método apropriado à lógica positivista que caracterizou o Século XX. Nas questões ambientais, sempre foi muito mais fácil licenciar e fiscalizar que monitorar.

O Século XXI, há quase 21 anos, impõe uma avaliação necessária: o monitoramento ambiental como instrumento de desempenho. 

Afinal, uma pergunta recorrente questiona se a União, Estados e Municípios licenciam e fiscalizam há mais de 40 anos (as primeiras normativas ambientais remontam a década de 1980), pois, o desmatamento amplia anualmente no Brasil? E, por que os nossos igarapés urbanos de Manaus continuam impróprios ao banho e a vida?

Por exemplo, o monitoramento das cotas do rio Negro, no Porto de Manaus, há mais de 100 anos, permite o reconhecimento prévio da dinâmica da cheia que se avizinha. Aliás, atingir a cota de 22 metros no mês de dezembro, subindo cerca de 10 centímetros a cada dia, é uma informação que acende a luz de atenção aos especialistas e autoridades.

Considerando as consequências de uma grande cheia às regiões ribeirinhas na Amazônia, no caso do rio Negro, nas porções do Centro da capital do Amazonas, torcemos todos que os comportamentos hidrológico e meteorológico, em tempos de Mudanças Climáticas, tenham apenas antecipado seu crescimento em um mês e conclua a magnitude da cheia em abril/maio, mais cedo também.

Os tornados extemporâneos nos Estados Unidos (não são comuns nas esperadas temperaturas frias de dezembro), que vitimaram dezenas de pessoas, reafirmam a importância do monitoramento científico. 

Se prevenir é melhor que remediar, diz o ditado popular, monitorar poderá implicar na diferença de salvar vidas, minimizar estragos, avaliar o desempenho de obras públicas e privadas, gestores e autoridades.

Com a aprovação do Novo Marco Regulatório de Saneamento pelo Congresso Nacional em 2020, que nos indicou metas e compromissos coletivos com o cuidado da água, tratamento de esgotos e lixo nas metrópoles e cidades, acompanhamos avanços no debate político do tema.

Um consórcio entre municípios da Região Metropolitana estuda a implantação de um Aterro Sanitário (projeto privado em licenciamento ambiental) no outro lado da Ponte Jornalista Phelippe Daou.  A aberração do “aterro controlado” de Manaus, que tanto comprometeu e compromete a qualidade dos nossos igarapés urbanos, parece será sepultada, definitivamente.

Um aterro sanitário bem projetado e implantado compõe a chamada Economia Verde contemporânea. Pois, transforma lixo em recurso energético, fertilizante, reciclagem, além de prevenir a contaminação dos igarapés a partir do eficiente tratamento do chorume (efluente produzido em obras de disposição final de resíduos sólidos).

Parabenizo o Governo do Amazonas, através do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (PROSAMIM), que, em sua Fase II, incorporou o monitoramento ambiental da qualidade das águas das bacias hidrográficas do São Raimundo, Mindu, Educandos e Quarenta, sob a responsabilidade do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). 

Com o propósito de ajudar na solução dos problemas ambientais, urbanísticos e sociais que afetam a cidade de Manaus e seus habitantes – especificamente aqueles que vivem abaixo da cota 30 m de inundação, tomando como referência o nível do rio Negro – o Programa, há dois anos, nos informa valores estratégicos de indicadores da qualidade da água (IQA), que muito auxiliam pesquisadores, autoridades e órgãos de controle ambiental no combate ao mau uso dos espaços territoriais, especialmente, nossos igarapés.

Hoje a sociedade manauara reconhece, graças a iniciativa do PROSAMIM, a qualidade dos principais igarapés que cortam a cidade, ainda muito baixa, por sinal. Você pode consultar as informações sobre os IQA das bacias hidrográficas supracitadas no site: https://www.gp-qat.com  (Monitoramento das bacias do São Raimundo e Educandos – UEA/UGPE/BID/F – UEA).

Ninguém gosta de uma nota ruim. Mas, a transparência e o conhecimento de onde estamos nos mostra, de forma clara e objetiva, onde queremos chegar e quem são os responsáveis pela renovação do destino de nossos antigos balneários.

O Programa é um dos atores. Sozinho, sem a contribuição das indústrias do Polo de Manaus (PIM), da empresa concessionária de saneamento, de organizações não governamentais, dos veículos de comunicação, enfim, do total da população manauara, tudo será um esforço de investimento inglório.

Não basta limpar o lixo da casa das pessoas, se ele permanecer dentro da sociedade que somos.   

Daniel Nava

Pesquisador Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade da Amazônia do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA, Analista Ambiental e Gerente de Recursos Hídricos do IPAAM

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