Ao longo de minha trajetória de vida fui aprendendo ser mais importante o que fazemos do que aquilo que propugnamos fazer. Claro que as palavras são importantes e, se revestidas de poderosa força espiritual e/ou moral, podem ter efeitos significativos. Mas as palavras vãs são um embuste perigoso para qualquer um de nós e podem representar um fenômeno de hipocrisia e de mentiras direcionadas para o mal.
Desde garoto aprendi com meus pais ser errado, muito feio, mentir. Isso me marcou bastante, da mesma maneira que a indignação contra as injustiças e o sentimento de solidariedade com os mais vulneráveis. Mais tarde, o Evangelho confirmou e ampliou meu horizonte ético da Verdade e da Vida. As Bem-aventuranças proclamadas por Jesus sinalizam bem o significado de uma Ética do Amor, além de outros ensinamentos valiosos, especialmente contidos em parábolas como a do Bom Samaritano e em diversos episódios de Sua Vida Extraordinária e Exemplar.
Na adolescência ainda acreditava no poder das ideologias, embora já intuísse certa fragilidade nos seus postulados. De fato, o mundo do pós-Segunda Guerra parecia nos levar para um dualismo ideológico aparentemente inevitável: direita pela liberdade e a esquerda pela igualdade. Mas nem o capitalismo nem o comunismo alcançaram seus objetivos dogmáticos. Nunca existiu uma sociedade moderna ou contemporânea efetivamente igualitária nem uma sociedade completamente livre. Alguns países nórdicos parecem ter atingido um patamar de organização social e moral acima da média, mas nem por isso alcançaram plenamente os patamares de liberdade e de igualdade preconizados no lema da Revolução Francesa: Liberté, Égalité, Fraternité…
A italiana Chiara Lubich, proeminente fundadora do Movimento dos Focolares, foi direta, com sua explicação dos fracassos práticos das ideologias na sua constatação sobre o esquecimento quase geral da categoria FRATERNIDADE. Sem prioridade para ela, a fraternidade, as duas outras categorias jamais seriam atingidas, como de fato não foram. Aliás, a ausência deste elo principal de amor ao próximo, no seu sentido lato, abrangente e profundo, remete também à violência visível ou invisível dos dois sistemas: o comunista e o capitalista, com diversas nuances culturais, conjunturais e econômicas: o acúmulo do poder pelos mais fortes econômica e/ou politicamente, o uso dos discursos ideológicos predominantemente para defender e ampliar posições de privilégios de minorias… Em detrimento da liberdade e da igualdade da absoluta maioria das pessoas. Em alguns países um fenômeno mais acentuado do que noutros.
No Brasil de hoje há forças -mais ou menos ocultas – desejosas de impingir esse mesmo dualismo, como se fosse inexorável uma decisão ideológica entre a direita de inspiração bolsonarista e a esquerda de inspiração lulista… Como se houvesse apenas estas duas opções e cada adepto de uma delas tivesse de defender a sua arraigadamente, como uma luta do bem contra o mal. Ou seja, um embuste ideológico está sendo posto para a maioria da população brasileira, como se eleições de dois turnos tivesse de se tornar um plebiscito a favor ou contra o atual governante ou seu adversário ex-governante. Neste campo, o que menos se discute até agora são os principais problemas de interesse coletivo, suas causas e, menos ainda, as propostas de solução. Este debate não interessa para quem deseja antecipar o resultado eleitoral como uma antecipação de final de campeonato decidida no tapetão, sem que as outras equipes pudessem disputar de verdade os demais jogos.
Mas eu sinceramente afirmo a necessidade ética de debatermos e analisarmos as propostas de todas as pré-candidaturas, antes de decidirmos algo tão fundamental para nosso país. O interesse nacional precisa estar acima da vontade comum da ultradireita e da esquerda lulista, ansiosas para decidir as eleições antes do povo brasileiro ter a oportunidade de fazer uma efetiva reflexão sobre as causas de nossos principais problemas e as propostas para solucioná-los. Num país em que há dez anos o crescimento econômico é zero, o desemprego e a fome enormes e a violência e a corrupção são grandes e evidentes, observa-se que as diferentes correntes ideológicas que estiveram no poder fracassaram. Para além dos excessos de verborragia ideológica, o que nosso país e nossa população precisam efetivamente para sairmos deste atoleiro? Penso que seja uma plataforma exequível de gestão pública, com a definição objetiva das medidas prioritárias a serem efetivadas, bem como da demonstração efetiva do compromisso e da capacidade de liderar esse processo transformador.
Sem que ocorra o debate democrático, amplo e profundo das grandes questões nacionais -econômicas, de gestão pública, as sociais e as ecológicas -penso ser inviável aflorar um verdadeiro sentimento de fraternidade e solidariedade nacional, com os encontros e convergências necessários para tornar o Brasil um país menos desigual e mais livre. Um país mais justo, com desenvolvimento sustentável. Uma verdadeira Nação.