O que fez milhões de pessoas, em Roma e em qualquer outro lugar habitado do planeta, na morte de João Paulo II (hoje Santo), genuflectir de forma ordenada e sem precedentes na história mundial? Geralmente, multidões têm expressado relevantes demonstrações de respeito, devoção, amor, carinho e afeto a personalidades que deixaram a vida terrena.
Guardada as respectivas proporções, funerais de Yasser Arafat, da Palestina; do aiatolá iraniano Mousavi Khomeini e da princesa de Gales, Diana Spencer revelaram grandes demonstrações de pesar.
No Brasil, os funerais de Tancredo Neves e Ayrton Sena também causaram grandes impactos, fatos que efetivamente entraram para a história. Apesar do caráter mórbido e de provocar inevitável comoção popular, essas circunstâncias acabam se transformando num grande impacto social e até funcionando como premonitório de necessárias transformações sociais.
O então presidente norte americano, George W. Bush, acusado de promover a irresponsável invasão ao Iraque, ato condenado explicitamente pelo Papa naquela época, não perdeu mais uma oportunidade de entrar para a história. Foi ao funeral acompanhado de presidentes antecessores – atitude também aplicada pelo governo brasileiro – e se firmou como o primeiro presidente americano a comparecer ao funeral no Vaticano.
Assim como a delegação brasileira, da norte americana e das demais que compareceram à cerimônia, o mundo esperava que os motivos que justificaram suas presenças fossem verdadeiros, de fé, de amor e de perdão ao próximo e pelas suas atitudes.
Ao deixar a vida, o Papa Peregrino ou Papa da Paz, como foi gentilmente aclamado por dezenas de povos e lugares por onde percorreu, durante quase três décadas, também nos deixou imprescindíveis ensinamentos de perseverança, amor, pacificidade e desapego aos bens materiais.
Numa cerimônia de adeus, que talvez jamais veremos outra igual, primeiros-ministros, reis, presidentes e representantes de dezenas de países compareceram e retribuíram na morte o que o sumo pontífice pregou durante a vida. Aí reside um grande milagre de João Paulo II. Em que oportunidade poderíamos contemplar cumprimentos entre os presidentes israelense, Mosh Katsav e o presidente do Irã, Mohamed Khatami? Talvez estivesse nascendo, com a sua morte, uma nova e pacífica relação.
Se durante sua vida, João Paulo II propagou o fortalecimento da igreja católica a partir de instrumentos como a família, a contínua campanha propondo o fim das guerras e a incansável luta contra o aborto, operando milagres e obtendo respostas significativas de um grande número de países, com sua morte surgem outras indagações que permearão os demais pontificados.
Enfim, quantas pessoas ainda têm que morrer para que a paz seja restabelecida entre as nações? Quanto de dinheiro ainda será amealhado por magnatas do poder, enquanto poderiam resolver problemas cruciais da humanidade como o do Haiti, por exemplo.
Ele nos deixou um belo testemunho de vida, nada de material levou, mas a sua herança é bendita. Como benditos serão os que seguirem os seus caminhos de paz entre as nações e de amor, de infinito amor ao próximo.