Todo mundo se sente no direito de dar opinião sobre terras brasileiras. Sobre a Amazônia nem se fala, porque para o mundo todo, e para muitos brasileiros, o Brasil só atrapalha. No Brasil existem cerca de 700.000 índios. Este número pode variar se pegarmos também os índios que moram nas “cidades dos brancos.” Sejam seiscentos ou novecentos mil os primitivos moradores, eles receberam, ou conservaram para si, uma área de terra equivalente aos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santos juntos. Nesta área vivem 80 milhões de pessoas, há campos produtores de gado, uma agricultura forte e muita indústria. Ou se fizermos outra comparação, a área é igual ao território da França e Alemanha juntas, onde vivem 150 milhões de pessoas.
Existem defensores que estas reservas deveriam ser muito maiores. Ninguém pergunta a alemães e franceses se estes entregariam suas terras aos índios sul-americanos. A resposta seria um sonoro não. Estes dirão, como os espanhóis e portugueses: “Já tiramos daquelas terras o que nos interessava, agora não é mais conosco”. Em outras palavras, o mundo clama por preservação da floresta e do clima e um pouco pelas pessoas que vivem na natureza. Se, há mais de quatrocentos anos índios brasileiros eram apresentados como exóticos na Europa, Brasil de hoje seja o único país capaz de apresentar índios legítimos, isto é não mesclados.
Estima-se que na Amazônia pré-colombiana viviam cerca de quatro milhões de índios. Hoje não é a metade disso. O que aconteceu com os outros? Eu respondo: simplesmente foram adquirindo a cultura dos brancos e se aproximando deles. O índio não quer viver como selvagem. Tal qual o menino que nasce numa fazendo sonha com cidades grandes, o índio também sonha isso. Aqueles afastados também querem ter carro, barcos a motor, celulares e outras modernidades. Alguns até querem terras para plantar ou caçar, de preferência com espingardas de longo alcance. Observação própria em terras indígenas, os índios não são encontráveis na terra a mais de 500 metros de distância do rio.
Costumes à parte, quando os portugueses, espanhóis, ingleses, franceses, holandeses e outros invadiram o que o cartógrafo alemão Martin Waldeseemüller resolveu chamar de América, o índios daqui eram numerosos e tinham toda a terra para si. Os invasores ingleses, no norte, e seus descendentes mataram os búfalos deles condenando-os a fome. Também descobriram que era mais lucrativo matar os primeiros habitantes e erigir estátuas que conservá-los em imensas e ricas áreas. Se comparadas com as barbaridades que os espanhóis fizeram com os Astecas no México e os Incas no Peru, os portugueses no Brasil até que foram bonzinhos. Apesar de terem tido, historicamente, mais respeito com os nativos, são os que mais se sentem culpados a ponto de demarcarem reservas que nunca serão totalmente usadas pelos nativos.
O que é fato sabido é que o nativo não é predador. Mesmo aqueles que protestam pela preservação da natureza, em seus imóveis aquecidos com combustível fóssil, fazem pouca ideia de como é o modus vivendi e as ambições dos indígenas. Estes, na linha do Equador não precisam de casas aquecidas (aliás, seu abrigo nem seria chamado de casa por aquele que protestam), pode colher frutas, peixes e caça sem afetar o ecossistema existente desde tempos pré históricos. Conservar isso é fundamental. O que se discute, e a tese encontra apoiadores, é que se a reserva deve ser aumentada ou não. O que pode acontecer, no futuro, é que os índios abandonarão suas terras voluntariamente, atraídos pelo conforto que a dita civilização parece lhes oferecer. O mais importante seria ensiná-los a aproveitar bem suas terras.