12 de dezembro de 2024

Tortura paga

Ouvimos de gente reclamando que se diz injustiçada durante período militar. Poderia incluir-me entre esta gente. Mas, não tive acesso a Comissão da Verdade, criada para garantir ajuda financeira para as pessoas que sofreram retaliações. A maioria delas recebe ajuda estatal de um Estado Democrático, cuja democracia combatiam. Mas, pelo sim ou pelo não, é justo que o país pague por desmandos de seus comandantes.

Contudo, se fôssemos indenizar todas as vítimas do Estado, talvez a lista chegasse a rivalizar com a dos aposentados por idade. Refiro-me aos descendentes de alemãs, italianos e japoneses perseguidos e torturados no Brasil durante a segunda grande guerra. Recebi do amigo e historiador, Leandro Mayer, o livro Retrato da Repressão. Este livro retrata a vida de um comerciante no interior de Santa Catarina torturado até chegar à insanidade e morrer escondido em tempos de paz, ainda com mania de perseguição. Acusação: transportar e vender armas destinadas aos revolucionários alemães naquele estado. Coisa que absolutamente não existiu. Acabaram com a vida de um trabalhador, cuja família chegou à miséria. Hoje seus descendentes não tem sequer a satisfação de ver seu antepassado ser considerado inocente e vítima do Estado.

Fatos semelhantes o Brasil está cheio. Basta ver os Japoneses ou descendentes em São Paulo e norte do Paraná e os italianos em todo o sul do Brasil. Pessoas perseguidas e presas porque não sabiam se comunicar em Português. Propriedades incendiadas e confiscadas e outras atrocidades que repercutem até hoje para os familiares destes. Eles nem queriam saber de política, apenas trabalhar a terra. Estes também jamais receberão algum benefício do governo pelas injustiças que sofreram. Detalhe: nunca pegaram em armas, jamais pensaram em derrubar governo e nunca o acusaram de perseguição. Pior de tudo: a história do Brasil omite isso no ensino nas escolas. Embora haja mais de trinta milhões de brasileiros que ainda usam o nome alemão, italiano ou japonês, entre eles inúmeras figuras famosas e até presidentes de República, o Brasil os desconhece oficialmente. No entanto, algumas centenas que sofreram mais tortura psicológica que física, recebem destaque por todos os meios. Não defendemos tortura de qualquer tipo, porém enquanto houver humanidade haverá injustiças e só uma ínfima parte poderá ser ressarcida em dinheiro. 

A moda dos protestos e processos não é sempre ruim. Tem até aquele sujeito que ligou o piloto automático do carro e tomou um cafezinho. Tombou o carro, lógico. O que não é lógico que processasse a fábrica do carro porque não o avisaram que no piloto automático não fazia curvas automaticamente. Outra história é a do garoto que vendo pai muito preocupado porque iria entrar em cirurgia. O filho o acalmou dizendo: ”Não se preocupe, meu pai. Se alguma coisa der errado, você vai ficar rico com o dinheiro da indenização.” Situações extremas à parte, o consumidor conquistou direitos, as fábricas melhoraram seus produtos e o atendimento está cada vez melhor. Contudo, se os governos vão pagar indenizações indiscriminadamente a fila poderá ficar grande. Talvez as vítimas de criminosos comuns também tivessem direito, uma vez que o estado não cuidou da segurança delas.

Sabe o que causa espanto em tudo isso? Quem está recebendo indenização são aqueles que conseguiram chegar ao topo. São pessoas que possuem outras aposentadorias e, se tivessem muito amor à pátria, não aceitariam ou destinariam o dinheiro a antigos companheiros, ou a família destes, que nunca tiveram acesso a nada. Sim porque se o atual governo constituísse uma comissão com o pomposo nome de “verdade”, o resultado seria totalmente outro.

Luiz Lauschner

é empresário

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