A vocação natural do Amazonas para o turismo foi relegada a segundo, terceiro ou quarto plano por quem decide sobre o planejamento macro econômico. O polo industrial suportou a economia quando o comércio da Zona Franca recebeu um golpe mortal no governo Collor do qual nunca se recuperou. O comércio era a farra do turismo de compras na década de 1970 até 1990. Quem não se lembra de ser abordado por algum estranho no aeroporto para levar uma mercadoria para o restante do Brasil para aliviar algum excesso que esta pessoa ou grupo tinham comprado em Manaus? Nem se falava em Shopping Center e as lojinhas do centro da cidade ofereciam um serviço “meio mastro”, compensado pelo preço dos produtos importados.
Com este poderoso braço amputado, a economia do estado se voltou para o Distrito Industrial. Manaus pode ser geograficamente central em relação ao mundo, porém para o resto do Brasil é apenas longe e de difícil acesso. Deveria também ter se voltado ao Turismo. Por que? Por inúmeras razões, entre as quais está o atendimento da vontade mundial que aponta a selva amazônica como lugar a ser visitado ao menos uma vez na vida. Sem o devido planejamento, somente algumas atitudes isoladas tentam atender este potencial. Repetindo: Manaus é central para todo mundo, menos em relação ao Brasil.
Argumentação contrária ao turismo é gerada em pleno município, todavia é falha. Ah, chove durante meio ano, têm cheias, não tem mar etc. Alguém já explicou para um turista de uma região fria que a chuva não vem acompanhada de frio, nem deixa a terra enlameada por dias? Alguém já tentou explicar que meia hora depois da chuva faz sol? Que as cheias são uma oportunidade para visitar locais de barco que são praticamente inacessíveis na seca porque a correnteza do rio nunca aumenta? Que o turismo de praias é apenas uma opção e que podemos oferecer múltiplas apenas no turismo da natureza?
Ainda não falamos do turismo de eventos ou do turismo de negócios, modalidade atraída justamente pelas empresas do Polo Industrial. Manaus tem fábricas de motos que não podem ser contadas nos dedos de uma mão, mas nunca se pensou num evento como o salão de duas rodas. Nunca se pensou num evento em conjunto com as fábricas de bicicletas.
Somos referência mundial em sobrevivência na selva e, no entanto, nosso turismo de trilhas é pífio. Temos a maior bacia hidrográfica do planeta e estamos lá atrás no turismo de pesca esportiva. Temos a maior biodiversidade do planeta, destreza manual inata, no entanto não sobressaímos em bio joias.
Estamos em plena crise provocada pelo Covid 19. Isto está atrasando qualquer projeto e ameaçando a economia. Os gastos com turismo com certeza não serão prioridade a quem sobrevive a ela, física e financeiramente. Contudo, isso não deve ser motivo para travar o planejamento, para superar meio milhão de turistas por ano, meta raramente alçcançada. Depois da pandemia haverá uma avidez muito grande em sair de casa, da cidade ou país. Mesmo que ninguém venha de fora, ainda existe um vasto campo para ser explorado internamente. Afinal, o povo da cidade não conhece a cidade e seus arredores. Por que não promover o turismo doméstico, até para exercício. Ore, uma cidade precisa ser boa para seus moradores, caso contrário não poderá ser boa para os turistas. O turismo bem planejado tem esse efeito colateral positivo: Tornar a o destino um lugar melhor para seus moradores provocando neles uma sensação de pertencimento, tornando-os propagandistas gratuitos.