12 de dezembro de 2024

Telessaúde: O Desafio da Saúde na Amazônia Profunda

Há quem tenha preconceito contra as organizações não governamentais, por ter ouvido falar mal delas, sem conhecer realmente sua atuação. Neste artigo. apresento de modo resumido, um projeto de trabalho sério e eficaz de uma ONG: a Telessaúde em comunidades remotas, no âmbito do Programa Saúde na Floresta, da Fundação Amazônia Sustentável. A partir deste “case” é possível verificar outras contribuições importantes de organizações não governamentais que atuam na Amazônia. 

Primeiramente quero explicar que o Programa de Saúde na Floresta, da FAS, deriva da Aliança Covid Amazônia. Esta Aliança de mais de 100 instituições – não governamentais, governamentais, empresas, sociedade civil, organizações indígenas, universidades e institutos de pesquisa – desenvolve desde o início da pandemia de covid 19 no Amazonas, um amplo trabalho de apoio a comunidades ribeirinhas, aldeias indígenas e bairros vulneráveis de Manaus e outras cidades. A Aliança captou significativas doações e a FAS articulou a recepção, guarda e entrega dos itens doados para comunidades e famílias necessitadas: cestas alimentícias, materiais de higiene, equipamentos de suporte para o trabalho de equipes de saúde nas comunidades e sedes municipais, como EPIs, oxímetros, medidores de pressão, termômetros, concentradores de oxigênio, respiradores, etc. Além disso, foram doadas “ambulanchas” para socorro rápido de pacientes de comunidades e aldeias ribeirinhas e realizados, em parceria com o Cetam, diversos cursos de capacitação para agentes de saúde. Todo este esforço resultou em benefícios diretos para mais de 500.000 pessoas, a grande maioria do interior do estado.

Nesse sentido, para fortalecer as ações de apoio ao Sus na Floresta, a FAS criou o Programa de Saúde na Floresta, em setembro do ano passado, dinamizando projetos específicos de saúde no âmbito da Aliança CovidAM. Dentre estes, a Telessaúde em comunidades ribeirinhas. No caso, trata-se de pontos com acesso à internet satelital, com suporte de energia solar, colocados em comunidades remotas, que garantem teleatendimentos médicos, de enfermagem, de saúde mental e de outras especialidades para os moradores de locais longínquos, sem que precisem se deslocar para as sedes dos municípios. 

Atualmente já se encontram em funcionamento 43 pontos de telessaúde, com previsão de alcance de 63 núcleos até o final do mês de setembro de 2021. Além das consultas remotas, a FAS tem proporcionado, com apoio da UEA, da Nilton Lins, da FUNATI e dos Municípios, ações de teleducação em saúde, com webinars, palestras, aulas e orientações para os ACS (Agentes Comunitários de Saúde) e AIS (Agentes Indígenas de Saúde), garantindo-lhes acesso à novos conhecimentos, a fim de lhes auxiliar a desempenhar melhor as atividades que exercem nos locais mais distantes do nosso estado. Por outro lado, a FAS também vem implementando, em parceria com organizações indígenas, pontos de conectividade em aldeias situadas em territórios como o Vale do Javari, o Alto Rio Negro, o Alto Purus e o Baixo Amazonas. Estes pontos servem para ações de educação em saúde e atendimentos de outras demandas de interesse social dos povos indígenas.

Em relação aos teleatendimentos propriamente ditos, os desafios são enfrentados com denodo por uma equipe da própria FAS, com médicas, enfermeiras e outros profissionais, contando com apoio de docentes da UEA, Nilton Lins e psicólogos da Funati. Progressivamente as Secretarias Municipais de Saúde tem se integrado neste processo, relacionado diretamente com a Atenção Básica às populações ribeirinhas. Em breve deve ser ultrapassado o expressivo número de 1.000 consultas gratuitas remotas! São pessoas muitas vezes “esquecidas” no interior da floresta, que também necessitam de uma atenção cuidadosa e resolutiva na área de saúde. Podemos citar dentre os desafios mencionados: a garantia de qualidade de sinal de internet, o suporte de energia, a disponibilidade de profissionais especializados numa ponta e dos ACS na outra. Alguns entraves são os custos logísticos de instalação e manutenção e a carência de medicações e exames nas localidades. Mesmo assim, os resultados são expressivos e animadores.

Expus aqui breve relato do maior projeto de telessaúde em comunidades da Amazônia Profunda,  custeado por empresas, fundos sociais e pessoas físicas, que se dispuseram a apoiar ações pela qualidade de vida de quem habita e protege nossa floresta. De nada adianta ter a floresta em pé, sem que as pessoas que dela cuidam vivam com dignidade. Nesse sentido, a FAS desenvolve inúmeras outras atividades, não apenas na área de saúde, mas também de educação, cidadania, produção e empreendedorismo sustentáveis e conservação ambiental. Com respeito e valorização do conhecimento das pessoas que habitam na floresta, a fundação atua em parceria tanto com instituições públicas quanto privadas. Além das universidades e institutos de pesquisa, destaco a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, as Prefeituras, embaixadas de outros países, diversas empresas, outras ongs, organizações indígenas, associações de moradores e outras entidades da sociedade civil e da área pública.

Em síntese, destaco um dos muitos bons exemplos de ONGs que “fazem bem” pelo Amazonas e pelo Brasil.

Luiz Castro

Advogado, professor e consultor

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