13 de dezembro de 2024

Sobre propósito, solidariedade e esperança

Escrevo num jornal historicamente vocacionado para os temas econômicos, políticos, sociais e culturais do nosso estado, cuja linha editorial, fortalecida pelo saudoso Guilherme Aluízio, está fundamentada na independência e respeito às opiniões de diversos matizes. Uma conduta de liberdade de expressão e de construção do diálogo, tão necessário para que identifiquemos as causas – e respectivos potenciais de remissão das desigualdades e outras injustiças

Acredito na vida humana com conteúdo espiritual. E quando utilizo essa expressão me refiro também a propósitos de vida, do sentido, ou sentidos, de viver no planeta, inclusive aqui, no coração da Amazônia, nesta nossa Manaus tão cheia de contrastes e paradoxos.

Penso que sobreviver apenas com os objetivos do lucro, do prazer ou do poder é algo que nos remete aos animais irracionais. Não há propósito espiritual em apenas vencer, acumular, ter vantagens individuais a qualquer custo. Aliás, até os cães, embora não desfrutem do nosso nível de inteligência, podem parecer mais “humanos” do que certos indivíduos que só desejam ter dinheiro e/ou poder, como se disputassem um jogo no qual, ao final, dentro dessa lógica “egoística”, acabarão por perder tudo, no fim de suas vidas.

As atitudes humanas podem ser assustadoras e perigosas. Durante este sofrido período de pandemia, observa-se pessoas com um comportamento estranho, até ignaro, e que se intitulam como solucionadores mágicos de uma situação complexa. Remédios infalíveis, negacionismo da necessidade de medidas protetivas e da importância das vacinas exemplificam essas atitudes que podem redundar na tentativa de “extermínio” da ciência e, pior ainda, do bom senso.

Infelizmente , o extremismo negacionista impulsionou um  grande número de mortes e sofrimentos evitáveis em nosso país e em outros lugares do mundo. Nesse sentido, não se trata de defender o lockdown permanente, mas de compreender que  sociedade, setor privado e poder público precisam se unir para enfrentar e evitar o domínio do coronavírus, com estratégias bem articuladas e integradas, que envolvam autoridades, gestores públicos, cientistas, lideranças políticas, empresariais, sociais e religiosas. 

Foi o que aconteceu – e continua a acontecer – em países de diferentes regimes políticos, sistemas econômicos e níveis de desenvolvimento, como Nova Zelândia, Vietnã, Coréia do Sul, Noruega, Singapura… Só para ficar em alguns exemplos de nações em que governos e população conseguiram controlar e diminuir radicalmente os contágios, internações e óbitos, adotando eficazes estratégias de guerra epidemiológica e evitando assim os desastres que ocorreram em países como Estados Unidos e Brasil e tantos outros, onde isso não ocorreu.

Penso que o bom exemplo deve vir de cima, mas se não vier, paciência, que se busque onde estiver. Neste momento, nosso desafio nacional maior é o de vacinar o maior número plausível de brasileiros. Infelizmente nosso país ficou para trás até de nações relativamente menos desenvolvidas e encontra grande dificuldade de ampliar a disponibilidade de vacinas para a população. E enquanto a segunda onda da epidemia avança pelo Brasil, com maior impacto de contágio e de falecimentos do que no ano passado, somos obrigados a priorizar os cuidados preventivos indispensáveis para que os hospitais não entrem em colapso, como aconteceu recentemente em Manaus. Há quem diga que medidas restritivas não resolvem, mas certamente são pessoas que estão com séria dificuldade de raciocínio e apreensão da realidade ou não tem a mínima empatia pelos outros seres humanos. Uma “ignorância”, como já disse, que pode ceifar vidas.

É evidente que a economia – certos setores mais do que outros – necessita de urgente e eficiente socorro. Assim não dá para entender a demora na aprovação de um novo auxílio emergencial para os mais pobres… Bem como é difícil entender a falta de solidariedade de parte expressiva dos setores privilegiados do país, inclusive os incrustados na estrutura do Estado, que se recusam a abrir mão temporariamente de parte de seus salários e outras vantagens em prol de um Fundo Emergencial que pode ajudar a salvar vidas e a permitir que pessoas desempregadas e empresários e trabalhadores dos setores mais atingidos pela crise, como turismo, vestuário, entretenimento e lazer, cultura, dentre outros, possam sobreviver até que a situação relativamente melhore.

Mas sempre nos sorri a Esperança, esta que nem o traiçoeiro vírus consegue aniquilar.

Luiz Castro

Advogado, professor e consultor

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