Augusto Cesar Barreto Rocha (*)
A seca do Rio Amazonas é recorrente. As restrições de calado em determinadas regiões eram previsíveis. Entretanto, adoramos uma crise e queremos dar um ar de emergência para o imobilismo secular, como se fosse um problema de hoje a carência de infraestrutura de transportes para a Amazônia e o Amazonas.
Já são conhecidas as restrições em nossos rios. Não podemos nos colocar como “surpresos” em relação aos problemas do rio, pois, de fato, não temos hidrovias, mas rios gigantes e sazonalidade no regime de cheia e seca.
O que parece ser a maior carência são ideais perenes pelo aumento da infraestrutura na Amazônia. É secular o problema de falta de investimentos, mas chega uma seca e corremos para ficar em crise. Voltam as cheias, esquecemos daquela crise e deliberamos por outra, durante o alagamento em algumas cidades. Os problemas são repetitivos e a ausência de investimentos e ações corretivas também é.
É desoladora a ausência da regulagem e de medidas perenes para a solução do problema de infraestrutura de transportes na Amazônia. Não temos problema com o El Niño ou La Niña. Temos um problema de falta de ação para a transformação de nossos rios em hidrovias, com as soluções da Engenharia do século XXI. As restrições poderão ser maiores ou menores, mas os problemas de navegabilidade são antigos.
O problema de falta de rodovia também é antigo. O que não muda é a condição de ignorância e falta de ações sobre as possíveis soluções mais perenes e, principalmente, a falta de alocação de recursos para as deficiências. Faltam ações no sentido de transformar nossos rios em hidrovias e nossos espaços com rodovias que respeitem o meio ambiente da floresta.
Não é mais possível seguir com os paradigmas dos anos 1970, estando em 2023. Tratamos os problemas do século XXI com a Engenharia do século XX. Enquanto não modernizarmos as ações de correção, seguiremos apagando incêndios na floresta e imobilizados em relação ao aquecimento global e as secas ou cheias.
Precisamos de um ideal sustentável que construa infraestruturas e proteja o meio ambiente. Fora disso, os custos serão carregados para a sociedade, seja nos clientes dos produtos da região, seja nos custos das empresas, reduzindo as suas competitividades, seja junto ao planeta, agravando o aquecimento global pelo imobilismo que leva a destruição.
(*) Professor da UFAM.