Quantos poderíamos ter salvado no Brasil contra a Covid-19?
Um grande Javali estava afiando suas presas na árvore até aparecer uma raposa que adorava confusão, ridicularizar e distrair vizinhos. Para ironizar o Javali, fingiu tremer, estar com medo de um inimigo oculto na mata. Mas o velho Javali, conhecedor da desregrada, a ignorou e continuou seu trabalho. Indignada, ela parou e perguntou “por que você vive fazendo isso se não há perigo por perto?”. O Javali respondeu “Estais certa, não há perigo, mas quando aparecer não haverá tempo para me preparar, minhas armas não estarão prontas e poderei perder a vida por causa do descuido”. Esta fábula de Esopo nos lembra lições úteis: 1a) não pare, continue aprimorado suas habilidades; 2a) prevenir é melhor que remediar; 3a) adote o que há de melhor ao seu redor; 5a) em qualquer era/lugar, todo dia aparece um de má índole, procurando um trouxa da vez, certifique-se de que não seja você, pois poderá ser fatal.
A fábula também permite fazer comparações metafóricas: o Javali representa as pessoas, organizações ou governos prevenidos, a árvore representa os meios para se preparar para uma pandemia (lições do passado, planejamento cuidadoso, protocolos de segurança, legislação aperfeiçoada, acordos de cooperação internacional, investimentos, treinamentos, sistemas de vigilância, avaliação sanitária, simulações, tecnologias, robusto sistema laboratorial de testes, ampla rede de vacinação, P&D, campanhas de conscientização, rapidez nas ações), enquanto a raposa representa organizações, líderes ou pessoas imprudentes e/ou mal intencionadas.
E quando se fala de prevenção, dissertarei mais sobre o “Javali” e a “Árvore”, refletindo sobre essas perguntas:
1) O que são endemias, surtos, epidemias e pandemias?
A Intermountain Healthcare <http://bit.ly/3mvJG8s> explica que quando se trata de doenças infeccionas, uma endemia é algo que pertence a uma área particular. Um surto representa uma quantidade maior de casos endêmicos, que se não for rapidamente controlado pode se tornar uma epidemia, uma doença que afeta um grande número de pessoas dentro de uma comunidade, população ou região. Já uma pandemia é uma epidemia que se espalha em vários países ou continentes.
2) Quais as pandemias mais mortais da humanidade?
Há pelo menos 29 pandemias registradas, entre as mais mortais estão: 1) A peste negra (1347-1351) que dizimou perto de 200 milhões; 2) a Varíola (1492-1980) que ceifou de 56 milhões; 3) a Gripe Espanhola (1918-1920) que matou entre 40 e 50 milhões; 4) a Praga de Justiniano (541-542) que dizimou entre 30 e 50 milhões; 5) e a Aids que desde 1981 pode ter matado até 35 milhões.
Os números podem ser contestados, mas o objetivo aqui é explicar que uma pandemia não é algo novo e que já temos material científico robusto que pode nos ajudar, mas que vem sendo ignorado por raposas no poder e sua tropa de negligentes. Parte desse conhecimento ajuda a explicar o que tem facilitado o surgimento dessas pandemias, as medidas preventivas para evitar o surgimento delas, bem como os protocolos de intervenções que devem ser adotados para enfrentar uma pandemia até que a preciosa vacina seja desenvolvida, aprovada e aplicada na maioria do povo.
3) Quais os principais patógenos das pandemias?
Pode-se dizer que bactérias e vírus são os grandes vilões. Por exemplo, a bactéria Yersinia Pestis e o vírus da gripe H1N1têm insistido em ressurgir ao longo do tempo.
4) O que contribui para o ressurgimento?
Nos últimos 40 anos, ressurgiram pandemias causadas por bactérias, vírus e vetores de transmissão tais como: Ebola, MERS-Cov, SARS-Cov e agora a Covid-19. Se olharmos o registro histórico, essas doenças infecciosas surgem devido a(o): a) superpopulação; b) condições sanitárias precárias; c) condições precárias de saúde e de higiene; d) movimento das pessoas no planeta; e) experimentação de alguns alimentos; f) destruição do meio ambiente; g) crescente demanda por proteína animal; h) expansão agrícola intensiva e não sustentável; i) aumento da exploração da vida selvagem, etc.
Percebe-se que o comportamento do ser humano tem papel fundamental no surgimento das pandemias. Por exemplo, ao desmatar e invadir espaços dominados por animais ou insetos, há sério risco de surgir doenças zoonóticas, razão pela qual devemos repudiar veementemente a desastrosa política ambiental do governo Bolsonaro, a qual tem sucateado o IBAMA e favorecido criminosos ambientais <https://bit.ly/3aYGuzn, https://bit.ly/337I4ul>, gerando recordes de queimadas e destruição <https://bit.ly/3nEAocz> de nossas valiosas florestas, sem contar o aumento da caça e do comércio ilegal de animais, já que a Amazônia virou o epicentro do tráfico de animais silvestres no Brasil <https://bit.ly/3upibly>.
Indo nesse ritmo de destruição, a Amazônia pode dar estopim para epidemias e pandemias <https://bit.ly/3vxgMtB, https://bit.ly/3eQ87vl>, valendo à pena ler o que os cientistas pensam <https://bit.ly/3tbraFU, https://bit.ly/3uiEv0w, https://bit.ly/3t6lHQw, https://bit.ly/2Smqv7K>.
5) Epidemias e Pandemias podem gerar Ondas
A História nos ensina que tanto as epidemias quanto as pandemias podem gerar ondas. Segundo The Centre for Evidence-Based Medicine <https://bit.ly/2SnwB7R> o termo “ondas” começou a ser usado a partir das ondas consecutivas de uma epidemia registrada na Rússia (1889-92). Esses artigos <https://bit.ly/3e9GxKw, https://bit.ly/3eRfyCA> explicam as ondas de outras pandemias e a importância das intervenções <https://bit.ly/2QMO3lL> não farmacêuticas.
6) Quais os países “Javalis” e “Raposas” contra Covid-19?
Baseado em evidências científicas pode-se afirmar que durante os primeiros 426 dias, os países modelos que se comportam como o prudente “Javali” no processo de preparação, prevenção e combate à Covid-19 são: 1) Taiwan; 2) Vietnã; 3) Tailândia; 4) Cingapura e 5) Nova Zelândia. Nestes artigos saberás porque foram selecionados e como fizeram isso <https://bit.ly/3aVyKOG,https://bit.ly/3ubCyCY, https://bit.ly/3gIt8L9, https://bit.ly/3xG2Z5N>. Já a Espanha, Hungria, RU, Itália, EUA e Brasil <https://bit.ly/2ScY60U> são como a imprudente “Raposa” por não terem se preparado para salvar o maior número de pessoas por milhão de seus habitantes.
7) E quantos poderíamos ter salvo no Brasil?
Excluindo o alto número de casos subnotificados, até o momento o Brasil é o 2o pior do planeta em total de mortos (TM), atrás dos EUA, são cerca de 415 mil mortos oficialmente <https://bit.ly/3dpMErI>, equivalendo a 1.948 (415.000 / 213,8) casos fatais para cada um milhão de pessoas no Brasil. Para o Pós-Doutor e epidemiologista Pedro Hallal <https://bit.ly/3nELDSa>, três em cada quatro mortes no Brasil poderiam ter sido salvas <https://bit.ly/335QF0r, https://bit.ly/3nJPMo6, https://bit.ly/3eamXO9> se não fosse a falta de coordenação nacional. Ele usou média mundial, então isso significa que teríamos salvo perto de 311.250 vidas. E se tivesse comparado com indicadores de países modelo?
Faço uma aposta ousada, na melhor das hipóteses, se nosso país tivesse se comportado como Taiwan (TM=12 mortos; 12 / 23,8 = 0,5 caso fatal para cada um milhão), teríamos perdido 428 vidas e salvado 414.572 pessoas, ficando na 120a posição mundial e com um PIB de 2020 possivelmente positivo.
As estimativas não são perfeitas, mas ajudam a entender que poderíamos ter feito muito melhor pelos nossos compatriotas. Alguns até me acham louco, mas os ignoro. Eu fico envergonhado é de ver o choque que levam os amigos de Taiwan, Vietnã, Cingapura e Tailândia, quando apresento os fatos e estatísticas da Covid-19 no Brasil.
Finalmente, se tivéssemos aprendido com o passado, se prevenido, agido rápido, adotado atitudes e investimentos corretos, com base na ciência, poderíamos ter salvado pelo menos 311.250 vidas no Brasil, nossa economia e meio ambiente não estariam tão caóticos. E para as imprudentes “Raposas”, recomendo ouvir mais a Ciência e os conselhos do filósofo Romano Sêneca, dado para o amigo Lucídio “procura evitar as situações perigosas; procura prever tudo quanto seja previsível; procura conjecturar tudo o que pode ser-te nocivo muito antes de que te suceda, para assim o evitares.”