Na estrutura social em que vivemos, as mulheres são vistas como pessoas frágeis e, consequentemente, fracas. Após milhares de anos, esse pensamento continuou perpetuando na mentalidade da população, o que acabou se tornando uma ‘’verdade indiscutível’’.
O desenvolvimento social e a luta de classes trouxeram às mulheres direitos básicos como o voto e o trabalho. Por conta dessa mesma estrutura social, as figuras femininas passaram a terem jornadas duplas de trabalho, uma vez que possuem responsabilidades com seus empregos e com a criação de seus filhos. O acumulo de tarefas e estresse fazem com que outras questões, como a saúde, sejam esquecidas e engolidas por problemas maiores.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Amazonas possui a maior média brasileira de câncer de colo do útero do Brasil, cerca de 102,3%. Em outras palavras, a cada 100 mil habitantes, 33,08 mulheres apresentam a doença no Estado.
A especialista, Marília Muniz, afirma que é imprescindível que a mulher realize exames com uma certa frequência para verificar se está indo tudo bem. “Agendar-se com antecedência para consultas com ginecologista, mastologista e outros especialistas, é um ato de amor próprio. Lembramos que, na oncologia, o principal ditado é: quanto mais cedo o câncer é descoberto, maiores são as chances de cura”, aponta Muniz.
Sancionada pelo Governo do Amazonas, a Lei 4.768/19, dá destaque ao movimento Março Lilás, que promove ações de conscientização e conta com o apoio de agentes de saúde para distribuir informação e conversar com mulheres que não possuem tanto acesso aos meios de propagação de notícias. Em unidades de saúde, há também rodas de conversas que tratam e esclarecem dúvidas relacionadas ao assunto.
Mesmo com o alto número de pessoa com a doença, a informação de como se proteger, por exemplo, ainda não chega a todos os cantos do Amazonas. A falta de métodos para alertar juntamente com o isolamento geográfico, faz com que muitas mulheres deixem de acompanhar sua saúde como deveriam.
Pensando em formas de ajudar no combate a desinformação, a Universidade Federal do Amazonas em parceria com a FCECON (Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas) e a FAPEAM (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), desenvolveram o aplicativo móvel ELLA, que possibilita o acompanhamento e armazenamento de dados sobre a saúde das pacientes do sistema público de saúde.
O aplicativo, segundo a professora Rosana Moysés, do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Ufam, funciona como uma caderneta da mulher. Na interface, é possível armazenar foto de exames, assim como seus resultados, além da criação de alertas para realização de procedimentos, registrar o ciclo menstrual e sintomas durante este período.
A funcionalidade é voltada para mulheres de baixa renda, que possam vir pelo menos uma vez a zona metropolitana para conseguir baixar o aplicativo em um telefone móvel. Com o aspecto fácil e objetivo, o ELLA funciona sem o acesso à internet.
Disponível de forma gratuita, o lançamento do produto surgiu como uma porta de esperança para tentar frear os números alarmantes registrados nos últimos anos. Somente em 2020, o câncer de colo de útero levou a vida de 277 mulheres amazonenses, que poderiam ter sido evitadas se houvesse diagnóstico e tratamento precoce.
A integração das vertentes públicas em prol de um bem maior ainda contou com a participação do Instituto de Computação da UFAM. Responsáveis pela interface do aplicativo, os colaboradores desenvolveram o produto pensando em facilitar ao máximo o entendimento de quem irá utilizar do recurso, como explica o idealizador Raimundo Barreto.
‘’O funcionamento do aplicativo ele é bastante simples. Após fazer o download na PlayStore e fazer a instalação do aplicativo ELLA, a mulher terá que fazer um breve cadastro e a partir deste cadastro, ela já estará pronta para usar o aplicativo’’, destacou Barreto.
A mobilização da iniciativa pública em diminuir as estatísticas do Estado se torna uma salvação para a vida de muitas mulheres. É claro que o problema não será resolvido de uma hora para outra, mas oferecer um serviço de qualidade e de fácil manuseio para quem geralmente vive à margem da sociedade é dar voz e escutar quem muitas vezes deixa de cuidar de si própria por falta de tempo ou distância.