Este ano testemunhamos novamente fenômenos climáticos extremos pelo mundo, com muito desconforto térmico, seca e fumaça em Manaus. Para evitar que nossa cidade se transforme em um inferno, são necessárias mudanças urgentes e cada cidadão e cidadã tem um papel relevante nessa quebra de paradigmas.
No Brasil, as autoridades ainda não apresentaram um plano desenvolvimento sustentável que foque na descarbonização do país e nas mudanças comportamentais necessárias para fazer essa transição. No lugar disso, distraem e até deseducam a população com fake news, notícias distorcidas ou negacionismo.
Por exemplo, o ex-presidente Bolsonaro espalhou em 2021 cerca de 105 (4,1% do total de 2516) notícias falsas ou distorcidas sobre o Meio Ambiente < https://tinyurl.com/2tnych6m>. Além disso, foi adotado um discurso negacionista sobre os graves problemas ambientais do país, seguido por uma agenda repleta de retrocessos ambientais que resultaram no enfraquecimento dos órgãos de fiscalização e em aumento considerável do desmatamento e queimadas.
Já o Presidente Lula (PT) tem cobrado nos fóruns internacionais por mais recursos dos países ricos para combater as mudanças climáticas. Por exemplo, no mês passado, ao abrir a Assembleia da ONU, ele cobrou “agir contra a mudança implica em enfrentar as desigualdades…. e que os países ricos cresceram baseados em um modelo com alta taxa de emissão de gases danosos ao clima”, sendo aplaudido cinco vezes ao longo de sua fala <https://tinyurl.com/2tnych6m>.
O discurso parece belo, mas o companheiro, seja por ser mal assessorado, má índole ou ignorância, não diz para a comunidade internacional e para o povo brasileiro que:
1) somos o quarto país (113 Gt de CO2; 4,52% do total mundial) que mais despejou CO2 na atmosfera da terra desde a Revolução Industrial (1850-2021), atrás dos EUA (509 Gt), China (284 Gt) e Rússia (172 Gt). A diferença é que enquanto estes três países emitiram muito CO2 pela queima de combustíveis fósseis e uso de cimento (82,5%, 85% e 68%), no Brasil, 86% de nossa emissão vem do mau uso da terra e das florestas <https://bit.ly/3x8qvIP>;
2) recordes de desmatamento e/ou queimadas já foram registrados sob sua gestão <https://tinyurl.com/yc3ukhpd; https://tinyurl.com/2p9xb5nt>;
O fato é que temos sido péssimos gestores de nossas terras e florestas <https://tinyurl.com/2b5xzmj8; https://tinyurl.com/4y5rbek9> e não podemos mais esconder isso. Maioria das cidades é mal planejada, quem mora há anos em Manaus sabe que nossas áreas verdes e rios vêm sendo destruídos a céu aberto para dar lugar aos empreendimentos públicos ou privados cheios de concreto, metal, madeira e asfalto. Em geral, as construções são insustentáveis, bastando observar como estão instalando os postos de gasolina, as fábricas, os galpões, as lojas, as drogarias, os shoppings, os supermercados, os conjuntos residenciais, as igrejas, as escolas, os mercadinhos, as casas etc.
O modus operandi é bem parecido, retiram-se as árvores, constroem o empreendimento e ao redor despejam mais cimento e asfalto, alguns até colocam palmeiras, gramas ou jardins, mas esse “espaço verde” não produz nem 10% da sombra e do conforto ambiental que produziam as árvores de outrora.
O acúmulo dessa falta de consciência coletiva e ambiental gera prejuízos irreparáveis para nossa cidade. Por exemplo, já não temos mais igarapés limpos para tomar banho, já mataram todos! Se quisermos um banho natural, temos que sair para outras cidades vizinhas que estão passando pelo mesmo processo de degradação ambiental.
Além disso, nossas construções estão “torrando” e caminhar em Manaus está insuportável, pois somos bombardeados pelo fedor dos igarapés, poluição do ar (fumaceira) e excessivo calor vindo de todas as direções (sol, paredes, chão asfáltico ou cimentado, gases dos veículos, aparelhos de ar-condicionados, queimadas, invasões, desmatamentos etc.)
Deste modo, estamos transformando o “porto de lenha” em um caldeirão escaldante a céu aberto e se continuarmos nesse ritmo, Manaus se tornará um inferno, ambiente de difícil habitabilidade para nossas crianças e netos, bem diferente de quando eu era criança e me divertia pelos quintais, subia nas árvores, observava os pássaros ou tomava banho nos igarapés que existiam em Petrópolis.
Tendo em vista que o aumento do desconforto térmico tem a ver com as emissões de gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono, diretamente relacionados com padrões insustentáveis de produção/construção e consumo de nossa sociedade, torna-se necessário que os cidadãos e os governos tomem iniciativas para mudar as matrizes energéticas e os hábitos de consumo ao longo do tempo.
Individualmente, há muito a ser feito e abaixo há uma lista de comportamentos sustentáveis, classificados em cinco dimensões, para se fazer uma autoavaliação de 1 a 5, sendo 1=Não consciente; 2=apenas consciente; 3=planejando mudanças; 4=iniciado as mudanças; 5= altamente consciente e praticante.
Dimensão Política: Dp1 voto consciente em candidatos com projetos sustentáveis; Dp2 Participo em protestos pacíficos pró-clima; Dp3 Cobro por projetos que melhorem o meio ambiente; Dp4 faço doações para causas ambientais; Dp5 recomendo propostas sustentáveis para o poder público.
Dimensão Familiar: Df1 reduzo o consumo de carne; Df2 faço compostagem ou reciclagem; Df3 minha residência aproveita a água da chuva; Df4 reduzo o desperdício de recursos; Df5 evito sacolas plásticas.
Dimensão Educativa: De1 faço cursos sobre meio ambiente; De2 leio sobre soluções sustentáveis; De3 divulgo informações confiáveis sobre boas práticas sustentáveis; De4 sou voluntário em ações sustentáveis; De5 faço palestras sobre assuntos relacionados ao meio ambiente.
Dimensão Profissional: Dp1 reduzo o uso de papel; Dp2 desligo equipamentos/luzes quando não estão em uso; Dp3 pago de forma digital; Dp4 prefiro reuniões virtuais; Dp5 Participo de projetos sustentáveis na empresa.
Dimensão Transformativa: Dt1 compro produtos com selos sustentáveis (ex: biodegradáveis, não tóxicos); Dt2 faço caminhadas; Dt3 uso transporte público; Dt4 compartilho recursos com as pessoas; Dt5 implanto soluções sustentáveis na comunidade tais como educação ambiental, plantio e cultivo de árvores, reciclagem, biogás, implantação de energia solar etc.
Finalmente, para salvar Manaus de se tornar um inferno, o(a) respondente precisar refletir e buscar melhorar:
25 a 50 pontos: faço parte dos indiferentes, com baixa conscientização ambiental e poucas práticas sustentáveis. Dialogue com as pessoas mais proativas ou avançadas e tente adotar uma prática nova por semana para criar hábitos.
51 a 75 pontos: és sonhador(a), pois há consciência, mas não consegues tirar os sonhos do papel. Não atrapalha nem ajuda, prefere a zona de conforto. Buscar uma organização séria que realiza projetos inspiradores pode ser a chave para você fazer bonito.
76 a 100 pontos: você é proativo(a), com ações comportamentais sustentáveis em curso, mas pode melhorar a abrangência e efetividade, seria interessante ampliar e compartilhar as práticas.
101 a 125 pontos: uau, você é um ser avançado (a), apresenta alto nível de consciência e prática, servindo de inspiração para a sociedade.