Há 50 anos o Brasil vem investindo no agronegócio com prioridade. Na época do “Milagre Econômico”, no início da década de 1970, o investimento era na agricultura, preparo do solo, plantio e colheita, que é base deste filão. Contudo, não é suficiente produzir grãos, é preciso agregar valor a estes grãos. Conseguindo isso, se conquista uma verdadeira riqueza. O surgimento de abatedouros frigorificados modernos colocou o Brasil no meio do vendaval dos alimentos. O que antes era tradição virou profissão. Os frigoríficos sempre precisavam de gado, suínos, aves em outros animais. Melhorando o plantel de animais, havia necessidade de grãos para estes. No início, a industrialização foi premida pela necessidade de alimentos que pudessem ser transportados congelados e não in natura como era feito antes.
A roda que o agro faz girar vai do básico ao refinado. A indústria de máquinas e implementos agrícolas, a seleção de sementes, a adubação, melhoria genética dos animais e por aí vai. Agricultura e pecuária andam juntas. Poderíamos dissecar cada uma das etapas desse negócio, o que tomaria vários livros. O engenheiro agrônomo e o médico veterinário estão cada vez mais requisitados. Há outras profissões ligadas a este nicho, que as pessoas de fora do setor nem imaginam. O plantio e a colheita, embora seja a mola de tudo, não é o que movimenta mais dinheiro. Como exemplo basta ver um produtor de feno, base alimentar para o gado, para reparar que tem um faturamento menor do que aquele que produz leite e queijo, por exemplo. Contudo, o negócio está tão especializado que o produtor de forragem pode ter uma receita invejável. As grandes indústrias de laticínios não têm vacas, e vendem leite em todo o mundo.
Estudos internacionais revelam que nenhum país é realmente forte com uma agricultura fraca. Por mais que se produza e se venda in natura, mais dependente se torna do restante do negócio. Os países frios não produzem café nem cacau. No entanto os chocolates e os cafés produzidos nestes países são mais admirados que os das regiões produtoras. Na agroindústria que está o grande filão do desenvolvimento. O setor de transporte, armazenagem, industrialização, embalagem, impostos etc, agregam valores que ultrapassem o triplo do valor original.
Há estados no Brasil que têm uma agricultura muito presente, mas sua posição não das melhores, porque o processamento de seus produtos é feito fora do estado de origem. São Paulo desponta como produtor de gado, à frente de Minas Gerais, mas isso somente é verdadeiro em parte. Os abatedouros localizados na fronteira contabilizam o gado como sendo do estado. Em todo o caso, o importante que seja incentivado no Brasil, como vem sendo feito desde Alysson Paulinelli há cinquenta anos.
Há tempos que o agro não é apenas músicas caipiras ou a figura caricata deste. Nas fazendas são encontrados muitos doutores e pós-doutores nas mais diversas áreas. A zootecnia, que cuida da alimentação animal, está tão sofisticada que daria inveja a muitos chefs de cozinha e até gastrônomos. Todo este melhoramento gera riquezas que tem salvado o Brasil quando outras exportações estavam em baixa.
Enfim, o agro tem pujança para impor respeito. Porém, nem mesmo assim pode ser tratado com pouco caso. Os financiamentos liberados no tempo certo precisam ser administrados com todo o cuidado. Nossa vizinha, a Venezuela, mexeu no agro e hoje está dependente de alimentos básicos. O agro exige a posição que merece. (Luiz Lauschner)